sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ana de Hollanda e o Direito Autoral - Diário do Nordeste - 30/12/2010


A perversão do perfil de negócio no meio musical não é coisa nova. Muitas bandas foram transformadas em marcas de festas, cujos proprietários passaram a alterar seus integrantes conforme demanda

A cantora e atriz Ana de Hollanda, ministra da cultura nomeada pela presidenta Dilma Rousseff, vai rever o projeto que altera a Lei 9610/98, que regula os direitos autorais no Brasil. Ela tem declarado que é a favor da flexibilização do uso de obras autorais, mas não concorda que os autores sejam desapropriados, como querem as corporações do novo mercado de conteúdos.

Desde 2005 que o Ministério da Cultura (MinC) vem mexendo com esse assunto e não consegue chegar a um texto ideal. A dificuldade toda é que o debate partiu de uma fundamentação ambígua: o discurso defendia a democratização da cultura, quando na prática o que estava em jogo era o conflito entre o velho e o novo sistema comercial de produtos e serviços culturais.

O MinC iniciou as consultas públicas para a reforma da lei, impondo a gestão de licenciamento de música por meio de "creative commons", desconstruindo o sentido de autoria, antes mesmo do estabelecimento de um marco legal para o uso da internet. Abraçou o novo modelo de copyright (direito de cópia) estadunidense, disseminado desde 2002 por essa organização "laranja", chamada Creative Commons, voltada para os interesses do mercado de computadores, softwares, telefones, buscadores e provedores de acesso à Internet.

Como os conteúdos passaram a ser bens muito valiosos na nova economia, o que seria um segundo movimento da globalização econômica - o primeiro foi a ampliação da escala produtiva mundial com o aproveitamento da mão-de-obra barata dos países subdesenvolvidos - criou esse artifício para induzir, por constrangimento social ou por obrigatoriedade compulsória, os autores a renunciarem publicamente no todo ou em parte, seus direitos conferidos por lei e pactuados em convenções internacionais.

Com dois pesos e duas medidas, ficou impraticável que governo, mercado e sociedade chegassem a um consenso. Para saquear de forma acintosa um patrimônio que pertence aos criadores, as corporações do mercado digital se infiltraram nos órgãos de cultura, com uma retórica de criação de riqueza para todos, mas trabalhando a redução do caráter estético, vinculado ao autor, a uma função utilitária da obra de arte ou literária, associada especificamente ao direito comercial.

Na Convenção da Diversidade Cultural, realizada pelas Nações Unidas (2005) os "especialistas da economia criativa" foram orientados a valorizar o patrimônio simbólico como forma de beneficiar a livre concorrência. Em nome da "função social da propriedade intelectual", os autores deveriam deixar de ser gananciosos e abrir mão do recebimento pelo seu trabalho de criação, para que as corporações (que vendem conteúdos financiados por publicidade e cessão de cadastros de usuários) pudessem promover a globalização econômica e social da cultura.

Essa vulgata incorporada pelo MinC passou a fomentar uma indisposição dos usuários de cultura contra o Direito Autoral, inclusive com editais modelados em situações causadoras da impressão de que os autores estão atrapalhando a socialização do conhecimento, dos saberes e das obras criativas da humanidade. É quase inacreditável que o mesmo ministério que criou programas de tanta grandeza como os Pontos de Cultura tenha entrado na onda da mediocrização da condição humana, típica de um modelo de sociedade instrumental, inspirado na supremacia técnica.

A perversão do perfil de negócio no meio musical não é coisa nova. Muitas bandas foram transformadas em marcas de festas, cujos proprietários passaram a alterar seus integrantes conforme demanda, podendo fazer inclusive apresentações simultâneas em diferentes lugares. Lembro-me de uma entrevista que fizemos em 29/05/2007 com o Emanoel Gurgel, dono da banda Mastruz com Leite, na qual ele afirmava com rara sinceridade empresarial que o CD tinha virado apenas cartão de visita.

"Quanto mais músicas eu espalhar, mas tenho como levar as pessoas para dançar os sucessos na festa. A festa é o negócio. Descobri isso há 15 anos. O segredo para mim é não ter intermediário" (PINHEIRO, Andréa e PAIVA, Flávio, in: Na trilha do disco - relatos sobre a indústria fonográfica no Brasil, E-papers, Rio de Janeiro, 2010).

A despeito de não concordar com a maneira como essa nova configuração de negócio passou a explorar os artistas, vejo com mais simpatia declarações claras como essa do Emanoel Gurgel do que o discurso atravessado e nebuloso do MinC. Mesmo assim, diante de tudo que ocorreu, acho que o resultado da proposta de alteração da lei brasileira até que está bem próxima do possível. É natural que a adequação das leis de direitos autorais aos novos padrões tecnológicos e de comportamento precise de algumas flexibilidades, como admite a ministra Ana de Hollanda.

Referindo-se ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), a ministra adianta que não vê sentido subordinar uma entidade de classe ao poder executivo, como pretende o anteprojeto. Entretanto, algo precisa ser feito porque do mesmo jeito que os autores não merecem ser planificados pelo rolo compressor das multinacionais do mercado de conteúdos, é inaceitável que os compositores fiquem à mercê do cartel do ECAD, montado em um sistema de excelência tecnológica e policialesca para arrecadar, mas cheio de corpo mole e de "deficiência prática" na hora de distribuir.

Ana de Hollanda, na condição de filha de Sérgio Buarque, irmã de Chico e senhora de uma consistente experiência como artista e gestora cultural, sabe muito bem o tanto que o Brasil precisa contar com a cultura para poder entrar de fato no mercado da economia criativa. Deixando seus compositores à míngua, o País, um dos mais férteis do mundo em inventividade musical, somente reforçará a concentração do mercado fonográfico mundial, 80% dominado pela Alemanha, Estados Unidos, Holanda e Áustria. Na balança comercial o déficit brasileiro é de aproximadamente um bilhão de reais na área cultural.

A determinação de que vai rever a proposta de reformulação da Lei de Direitos Autorais é um sinal de que Ana de Hollanda está disposta a uma ação sociocultural e política do Estado, diante desse controle da cultura pelo mercado. Na entrevista coletiva que concedeu à imprensa no dia 22 passado, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, ela destacou que pretende aproximar a cultura da educação. No campo da música, por exemplo, isso será formidável, considerando que o até o mês de agosto de 2011 as escolas brasileiras oferecerão obrigatoriamente o ensino da música na Educação Básica.

Um ponto que merece ser revisto na questão do Direito Autoral é o imbróglio que foi feito entre Propriedade Intelectual, como produção funcional, e Direito de Autor, enquanto criação artística e literária. Esse é o calcanhar de aquiles nesse debate. É muito vulnerável a compreensão do que distingue uma obra que não depende necessariamente do mercado para cumprir a sua função social ou existencial e a criação de um novo "software", do "design" de um carro e de um "jingle", que têm em comum um sentido funcional, quer seja produzido de forma independente ou sob contrato de trabalho.

Em linhas gerais, o desafio que a ministra Ana de Hollanda coloca para a sua gestão, no que diz respeito a Direito Autoral, passa por um aperfeiçoamento dos resultados dos esforços controversos que o MinC vem fazendo em favor da economia e do acesso democrático à cultura.

Nesses cinco anos de estica e puxa, fiz várias reflexões sobre esse assunto, parte delas expostas novamente aqui. Para mim, o que deveria orientar essa discussão seria o princípio de que todo produto e todo serviço protegido por esses direitos deveriam ser liberados para cópia e compartilhamento, exceto se utilizados para fins comerciais, institucionais e políticos, com a devida remuneração dos autores.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A marca autoral do consumidor - Diário do Nordeste - 23/12/2010

A grande revolução no consumo seria, nessa hipótese, a união da criatividade com o conforto (...) As políticas de banda larga deveriam antes de tudo serem fundamentadas em razões culturais

Dezembro de 2010. A economia mundial continua sob os efeitos cambaleantes da quebra do sistema hipotecário estadunidense que levou a colapso o mercado financeiro em 2008. No Brasil, a situação desvia-se da regra, em consequência da combinação de fatores como renda maior, desemprego menor, ampliação da base de consumidores, aumento de crédito e a queda no preço dos importados, provocada pela desvalorização do real na guerra do câmbio.

Em 2008, pouco antes da crise, um estudo da agência norte-americana Young & Rubican traçava o perfil do que os consumidores tinham em comum, independente de classe social, gênero, poder aquisitivo, faixa etária e referências culturais. Com variação de predominância por região, os tipos resumiam-se entre: a) fieis a marcas tradicionais, b) ostentadores do status de consumidor; c) compradores comedidos; d) novidadeiros; e) politicamente corretos; f) avessos a inovações; e g) voltados para preços e gratificação instantânea.

No mesmo ano de 2008, as principais megatendências de estilo de consumo, projetadas pela Future Concept Lab, empresa italiana de pesquisa social e de mercado, apontavam para: a) a gratuidade da experiência compartilhada; b) o gosto autêntico como impulsionador de compra; c) a atração pelas linguagens lúdicas; d) a regeneração dos estilos do passado; e) a circunstância como resposta às paixões; f) a qualidade do tempo e do espaço como variável do desejo.

As duas prospecções oferecem um panorama bem razoável das características do consumidor contemporâneo. Francesco Morace, presidente da FCL chegou a organizar um livro, intitulado "Consumo Autoral - as gerações como empresas criativas" (Estação das Letras e das Cores, SP, 2009), no qual tenta mostrar a unicidade existente em fenômenos aparentemente distintos. Neste aspecto, ele descola o consumidor que é ao mesmo tempo autor e ator de suas próprias escolhas de consumo, daquele sobre o qual ainda prevalece a influência das marcas e da publicidade.

Achei formidável esse conceito de o consumidor ter uma marca autoral. O que o meu pensamento passa à margem da tese de Morace é quanto aos motivos que podem levar as pessoas a essa condição de autonomia nas decisões de compra. Ele acredita que florescerá da cultura colaborativa, fomentada pela nova economia, um novo consumidor que considerará as marcas e os produtos seus companheiros de vida. Particularmente entendo que parte da sociedade caminha para o consumo autoral, mas como expressão consciente do que tenho chamado de social-ambientalismo participativo.

Os colaboradores de Francesco Morace entendem que para esse consumidor autor desabrochar faz-se necessário repensar, recriar e redesenhar o mercado, de forma a contemplar o sentido de inovação existente na experiência do consumidor. Acreditam que os bens de criatividade já são uma prioridade para muitos indivíduos. Entenda-se aí como bem de criatividade, os relacionais, os culturais, enfim, os de longo prazo; diferentes, portanto dos bens de conforto, voltados para estímulos imediatos, de curto prazo.

A grande revolução no consumo seria, nessa hipótese, a união da criatividade com o conforto. O uso da rede mundial de computadores e das tecnologias digitais por comunidades colaborativas para o desenvolvimento de projetos comuns seria uma maneira de chegar a uma visão neorrenascentista das profissões, do consumo e do mercado. Algo como uma retomada dos valores humanos, pelo abandono da velha lógica de uma globalização surda a qualquer diferença.

No novo mundo do consumo autoral, as pessoas exercitariam a capacidade de escolher, de interpretar, combinar livremente serviços, produtos e estéticas porque teriam seus genius loci respeitados e uma coerência experiencial de serem consumidores de produtos e serviços dos quais têm participação como protagonistas criativos. Não sei não, essa vulgata me parece mais uma justificativa para a socialização de produtividade, em favor de uma nova mais valia.

O estudo da Future Concept Lab insiste em avisar que a nova economia teria revolucionado os valores essenciais da existência, alterando assim a racionalidade que tem guiado o comportamento dos indivíduos no mundo do consumo. O consumidor autoral, urdido por novos modelos de pensamento coletivizado, estaria com seu campo estético mais alargado e poderia assumir o papel antes atribuído ao crítico. Isso o faria ter uma inteligência de escolha orientada por sua própria sensibilidade.

Como cogitação do processo dialético esses argumentos são atraentes e me parecem necessários ao avanço das urgentes discussões relativas ao consumo. Afinal, a ideologia do consumismo vigente nos faz devorar ¼ a mais do que as condições de reposição da natureza. Mas, sinceramente, não espero consciência de consumo advinda desse novo processo de exploração do capitalismo. As infovias estão controladas por novos sistemas de captura de lucros em tempo real e à base de seguidores que interagem enquanto compram e ajudam a vender.

A intensificação da convergência pela busca dos mesmos eletroeletrônicos de tecnologia mais avançada, tipo tevê de tela plana, celulares e netbooks, é uma prova de que há uma forte onda dirigindo os impulsos de consumo. Tudo isso pode, sim, estar sendo construído de forma colaborativa. Quer dizer: independentemente de quem sejam, de como e onde vivam ou de suas condições culturais, ao serem assimilados como seguidos ou seguidores, os usuários assumem uma sintonia coletiva, capaz de torná-los marqueteiros sem causa.

O que seria consumo autoral nesses casos acontece em um brete comercial de pouca graça. Explico melhor: você pode escolher um aparelho celular que dance tango e que fotografe no escuro. Faça o que quiser, escolha o que quiser, desde que compre um novo celular. Isso me parece com a variante da teoria dos jogos que leva um participante a tomar uma determinada decisão por considerar que os outros estão se comportando do mesmo jeito.

Para mim, a tendência a um autêntico consumo autoral somente será confirmada no dia que deixarmos de pensar na popularização do acesso ao mundo das redes digitais por motivos prioritariamente econômicos. As políticas de banda larga deveriam antes de tudo serem fundamentadas em razões culturais. Encaradas assim, ter um computador deixaria de ser uma estatística de inclusão para ser uma inclusão no debate do que fazer com ele. O consumo autoral deve estar além da noção de serviços ou produtos, cujos pressupostos ainda são pouco claros em uma sociedade modelada por impulsos consumistas.

A internet produziu uma excelente inflexão em nossos parâmetros de consumo, tanto na pesquisa de preços quanto nas opções de compra e no exercício dos direitos do consumidor. Espalhar na rede experiências de compra, principalmente quando negativas, tem sido comum, até como desabafo, catarse, demonstração do novo poder de afirmação e de negação da parte do consumidor. Isso não significa, todavia, que estejamos inclinados a deixar de lado a economia de consumo para voltarmos a uma economia de produção.

Esteja no perfil sistematizado pela Young & Rubican ou dentro das megatendências projetadas pela Future Concept Lab, a marca autoral do consumidor é um tema empolgante e necessário. A reversão do quadro de degradação do planeta está diretamente associada à nossa tomada de consciência no que diz respeito à sustentabilidade. Isso, sim, pode nos levar definitivamente a assinar nossas escolhas.



sábado, 18 de dezembro de 2010

Nos bastidores do Facebook - Diário do Nordeste - 16/12/2010


A influência das tecnologias na modelagem do nosso gosto pela vida sempre esteve presente nas construções civilizatórias (...) O caso do Facebook como negócio é tão interessante e complexo quanto o que ele representa como mecanismo de bate-papo
Vi finalmente o filme "A Rede Social" do diretor David Fincher, que trata do fenômeno do Facebook. Como usuário eventual deste website de relacionamento que conecta meio bilhão de pessoas em mais de duzentos países, estou entre os que se interessam em saber o que se passa nos seus bastidores. Com edição ágil e ao mesmo tempo aparentando durar mais do que os seus 190 minutos, o drama estadunidense é uma das boas produções cinematográficas de 2010.
Diante das tantas possibilidades de reflexões a que o filme nos instiga, chamou a minha atenção o comportamento dos protagonistas, enquanto símbolos do estado de vazio ético viralizado na cultura tecnológica digital e na condição de insensíveis empreendedores da nova economia. Passei toda a sessão variando de opinião sobre os humores do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e de seus, digamos, seguidores e seguidos, já que ali não dá para chamar ninguém de amigo ou companheiro.
O filme revela o quanto essas redes têm de vínculo vulnerável por trás das maravilhosas oportunidades que elas oferecem. Uma das chaves do magnífico sucesso do Facebook é a capacidade da ferramenta de aproximar pessoas para conversas de poucas palavras e sem qualquer risco de contaminação corporal.
O traço de personalidade mais comum dos personagens é... não sei. O que dá para perceber é um conjunto de distúrbios entrelaçados. Não é narcisismo porque o narcisismo requer a presença de amor, mesmo que exageradamente a si mesmo. E o que parece é que eles não gostam nem de si. São pessoas afetadas, carentes de atenção, histriônicas, todavia centradas no jogo do domínio dos algoritmos.
Tem algo muito confuso na conduta obsessiva e compulsiva dos novos magnatas dependentes de tecnologia, de acordo com a abordagem do filme. O que representaria a arrogância nerd combinada com déficit de sociabilidade? Uma mistura de esquizofrenia com psicose grupal? Acho que não... eles não chegaram a perder o contato com a realidade... Sabem muito bem ganhar dinheiro com coerência harvardiana.
A situação problematizada é delicada. Tratei de mudar de pensamento e comecei a observar "A Rede Social" pelo que o filme mostra de vazio ético, estruturado na desconstrução da privacidade. Seria isso o significado de toda essa vida de jovens cercados por tecnologias, que convivem sem conviver e sequer duvidam de não ter dúvidas?
Mark Zuckerberg teria se aproveitado de ideias dos seus colegas de universidade para, com sua habilidade de programador de computador, ampliar o clube, compartilhando inclusive a intimidade da namorada. É como se a cultura tecnológica digital trouxesse um novo prazer, ainda sem parâmetros de disciplina; um prazer que não necessita do gostar de nada para ter sentido.
A influência das tecnologias na modelagem do nosso gosto pela vida sempre esteve presente nas construções civilizatórias. A internet ampliou vertiginosamente os nossos espaços sociais e geográficos. Claro que isso gera uma dificuldade para suportar tanta grandeza. Ao expor a privação ética de pessoas voltadas para uma ferramenta de visibilidade, o filme denuncia uma visão de mundo wiki, contraditoriamente restrita à Inteligência aplicada ao individualismo.
Em pessoas com a genialidade estritamente técnica e empreendedora de Mark não deve haver crença nem razão. Haveria o quê, então? Essa é uma incógnita. Uma causa certamente não é. Como ferramenta configuradora de novos padrões de conversa o Facebook ainda tem muito em que se aperfeiçoar. O caso mais exemplar de limitação dos seus algoritmos sociais, das suas sequências determinadas para o estabelecimento das relações entre usuários, está na ausência de mecanismos capazes de encerrar a conta de quem morre.
Quem já recebeu o aviso do Facebook para retomar o contato com alguém que já morreu tem sentido muitas perplexidades. Até onde um portal de relacionamentos estará alterando a lógica da nossa relação com a morte? Nessa perspectiva já estão sendo instalados no mercado vendedores de garantia da permanência dos usuários nas redes sociais, mesmo depois de mortos. Assim, a existência passa a ser proporcional aos anos que o cliente pode pagar para ficar "vivo" na rede, encurtando a vida eterna, que continua um serviço de exclusividade das religiões.
Quer dizer: com a internet nem tudo virou infinito. Essa sensação de que a vida eterna tem prazo de validade, associada à sensação de impotência diante do número extraordinário de informações disponíveis e de contatos que podem ser travados por meio das plataformas de conectividade, virou uma virtualidade sufocante. No filme, essa aflição das possibilidades consome a vida de Mark, enquanto ele alcança o topo da escala das grandes fortunas mundiais.
O caso do Facebook como negócio é tão interessante e complexo quanto o que ele representa como mecanismo de bate-papo e outras necessidades da cultura tecnológica digital, acrescidas a todo instante de novos e atraentes plugins, de novos componentes adicionais de funcionalidade.
Em 2004, o então "The Facebook" não passava de um mural com perfis e interesses de usuários. O filme conta que foi Shawn Fanning, o criador do Napster, quem sugeriu tirar o "The", simplificando a marca para Facebook. Aliás, abrindo aqui um parênteses, esse Fanning aparece ao longo do filme como um dos babacas do vazio ético. Assim como Mark, ele não passava de um obcecado programador de computador, quando em 1999 apareceu com a sua formidável plataforma de baixar música gratuitamente, provocando uma inflexão no mercado fonográfico.
Fanning vendeu o Napster e saiu abrindo empresas e vendendo, em uma narrativa marcada por falta de foco e ausência de motivo. Está milionário também. A impressão que dá pelas notícias que se lê do seu desempenho como empreendedor e consultor é que ele não sabe muito bem a razão de estar fazendo tudo isso. Pelo jeito, está dentro do que eu chamaria de anedonia social, ou seja, faz parte do grupo de indivíduos que não desfruta da capacidade de sentir prazer por ter uma vida em sociedade.
Mark, por sua vez, conseguiu desenvolver um inovador e eficaz sistema de publicidade direcionada e serviço de venda de cadastro de consumidores. O Facebook termina o ano de 2010 anunciando o registro da palavra "Face", simplificando mais ainda a marca, e preparando-se para lançar ações na bolsa, na expectativa de ser uma transnacional de um trilhão de dólares.
Depois de ver "A Rede Social" fiquei um bom tempo matutando sobre o comportamento dos seus protagonistas, como ícones da cultura tecnológica digital e da nova economia. O filme sugere que estamos diante de pessoas que renunciaram ao amor, à paixão e à amizade para construir um sistema de recompensas fora da função do prazer. É como se houvesse um vício no desejo de ser notado e seguido, mas houvesse concomitantemente a vontade de não ser alcançado de fato.
Embora enfadonho, o trabalho do diretor David Fincher é de grande valor, por apresentar uma versão questionadora dos mitos da genialidade de algumas mentes brilhantes que muitas vezes aparecem fora de contexto e não refletem o quanto podem ser apenas subprodutos de preferências induzidas em estado adaptativo.
O filme é baseado no livro do escritor norte-americano Ben Mezrich, cujo título, em tradução livre, é "Bilionários por acaso: a criação do Facebook, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição".Parece-me bem mais que isso: os bastidores do Facebook mostram uma experiência de prazer que não está no sensório, no sexual, nem no social... e muito menos nas dimensões artística e transcendental. Talvez não seja mesmo nem prazer. Talvez não seja mesmo apenas um filme.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Itamar, hein?, é outra coisa - Diário do Nordeste - 9/12/2010


Foram de apenas cinco artistas da música, produtores de obras extensas, consistentes e de qualidade, que eu colecionei quase a totalidade dos discos nos meus anos de estudante, quando defini minhas preferências musicais:Luiz Gonzaga, Milton Nascimento, Elomar Figueira de Melo, Mercedes Sosa e Itamar Assumpção. Segui e sigo adquirindo novos gostos em música, mas toda vez que escuto o som dessa gente tendo a me emocionar de forma especial.

Eu nunca havia pensado sobre isso, até o domingo passado (5), quando assisti ao show da banda Isca de Polícia, no auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. As cantoras Vange Milliet e Suzana Salles, os guitarras Luiz Chagas e Jean Trad, o batera Marco da Costa e o baixo Paulo Lepetit, também responsável pela direção artística e musical do espetáculo, apresentaram naquele dia alguns dos primeiros sucessos e uma dezena de composições inéditas deixadas pelo saudoso Itamar Assumpção.

Fiquei emocionado como se naquele momento abrisse com atenção e zelo um álbum no qual eu tivesse guardado decisivas recordações. O show da Isca me fez lembrar dos discos do Nego Dito, Beleléu, de como eu os conseguia, ora na Baratos Afins, em São Paulo, ora na Francinet Discos, em Fortaleza e uma vez, no Theatro José de Alencar, por ocasião de um Projeto Pixinguinha, com autógrafo do Itamar dizendo: “além de som, gosto também de orquídeas”.

Desde outubro passado, quando se iniciaram os shows de lançamento da “Caixa Preta” (Selo Sesc), estojo que traz dez discos remasterizados e dois com inéditas de Itamar Assumpção, produzidos por Beto Villares e Paulo Lepetit, que eu esperava por uma oportunidade para encaixar algum deles na minha agenda. Teve show com Naná Vasconcelos, Arnaldo Antunes, Elza Soares, Arrigo Barnabé, Denise Assunção, Alzira e Tetê Espíndola, Macalé, Zezé Motta, Zélia Duncan, Lenine, BNegão, Chico César, Kiko Dinucci, Karina Buhr, Anelis e Serena (filhas do Itamar).

Todos certamente muito bacanas, mas digo que dei sorte porque vi exatamente o que eu não gostaria de perder: o show da Isca de Polícia. Da plateia pude ler e reler as novas leituras e releituras que Vange Milliet e Suzana Salles fizeram dessa interseção entre o meu desejo de fã e um som que espontaneamente adquiri, ouvi, acompanhei e organizei como parte da minha experiência envolvente com a música. Ouvir Itamar Assumpção não é apenas ouvir suas canções, não é simplesmente apreciar seu repertório, mas sentir seu som, sentir a performance vocal e gestual de quem o interpreta.

A banda, sob o comando do Paulinho, preserva o som cheio e entrecortado, característico do Itamar, com modulações tonais e poéticas e irreverentes transposições literomusicais na extraordinária experiência de pulsão e beleza da sua obra. No início, fiquei um pouco apreensivo, achando que sentiria falta do grave da voz do Itamar em equilíbrio com o agudo das Orquídeas, o áspero e o delicado, o preto e as brancas, o colorido tonal de suas vibrações. No entanto, logo percebi que a Vange e a Suzana conseguiram cantar as mesmas notas, com sofisticada distinção de timbres, fazendo o tempo passar mais rápido em nossos corações do que no relógio.

As primeiras composições gravadas por Itamar saltam da Isca como se fossem criadas hoje: “Olha aqui beleléu, tá limpo coisíssima nenhuma meu (...) que black navalha é você, beleléu? tá mais é parecendo chamariz de turista e isca de polícia” (Luzia); “Espero ver você curtindo o reggae desse rock comigo (...) grite forte, dê um jeito, cante, permaneça comigo” (Fico louco); “Baby nada existe resguardando nossa vida, duvido que me chamem para sentar naquela mesa (...) e a grande família já não é tão grande” (Baby); “Tudo que eu podia fazer eu já fiz, no entanto você nem se toca, ainda diz que a vida não é nada mais que um beijo na boca” (Beijo na boca); e “Meu nome é benedito joão dos santos silva beleléu, vulgo nego dito cascavé” (Nego Dito).

Das inéditas, a música “Persigo São Paulo” traduz o território do Nego Dito e sua desassossegada urbanidade: “São Paulo é uma outra coisa / não é amor exatamente / é identificação absoluta / Sou eu / Eu não me amo, mas me persigo / Eu persigo São Paulo”. No momento que o Brasil vive uma emersão de sua cultura periférica do rap e do funk, essas movimentações revolvedoras da obra de Itamar, que chegam com a “Caixa Preta”, incendeiam as expectativas de possibilidades de acesso para quem está disposto a curtir mais do melhor do Brasil.

Seria maravilhoso ver a obra de Itamar Assumpção descoberta pela parte da juventude que está cheia de vontade de criar e de agitar, mas quase sempre sem condições de acessar as mais bem elaboradas referências do seu tempo. Edgard Varèse (1883 – 1965), compositor franco-estadunidense, dizia contrariando o senso comum, que os artistas não estão à frente do seu tempo, os outros é que estão atrás deles. É por essa angulação que me animo a observar a discografia de Itamar, pois o momento está propício para a música popular urbana chegar realmente aos nossos dias.

O abandono a que foi relegada cultural e educacionalmente parte significativa da população brasileira, somado ao inchaço das metrópoles, fez florescer o rap e o funk como estética oficial da periferia, cujo som pulou o muro dos condomínios fechados; o primeiro como discurso antissistema e o segundo como válvula de escape. A liga entre a base e o topo da pirâmide social e econômica é o vazio do “eu” extremado, na busca da felicidade no consumismo, e a falsa ideia de liberdade, expressa em fobias, ressentimentos e impulsos de segregação.

A música de Itamar pode perfeitamente “chegar chegando” à crônica dos rappers e funkeiros porque é música irmã, é brother, embora bastante diferenciada por sua consistência estilística e destacada criatividade literária e musical. Como Marcel Proust (1871 – 1922), a Isca de Polícia corre na recuperação de um presente que se não for bem fisgado pode ficar injustificadamente preso ao passado. A entrada em cena dos conteúdos da “Caixa Preta” atualiza a interação da nova música urbana, colocando a arte como experiência de construção.

Os dez álbuns publicados com Itamar ainda em vida foram: “Beleléu, Leléu, Eu” (1980), “Às próprias custas S/A” (1982), “Sampa Midnight – Isso não vai ficar assim” (1983), “Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava!!!” (1988), “Bicho de Sete Cabeças”, volumes I, II e III (1993), “Ataulfo Alves por Itamar Assumpção – Pra sempre agora” (1996), “PRETObrás I – Por que não pensei nisso antes” (1998) e “Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção – Isso vai dar repercussão” (2004). Os dois CDs de inéditas (“PRETObrás II – maldito, vírgula” e PRETObrás III – devia ser proibido”) foram feitos em 2010 com músicas que Itamar estava trabalhando antes de morrer prematuramente de câncer em 2003, aos 53 anos.

Se a “Caixa Preta” é uma relíquia, a banda Isca de Polícia também. O show que assisti no Auditório Ibirapuera não teve convidados. No palco, a formação da Isca foi a mesma do final dos anos 1980. Vange Milliet conta que quando o Itamar Assumpção conheceu o Paulo Lepetit, profetizou que eles tocariam juntos por toda a vida. Lá se foram 30 anos, o Itamar já partiu e o Paulinho continua tocando com ele. O converseiro no palco é assim, cheio de graciosidades e histórias para contar. Vange foi vocal das Orquídeas e da Isca, enquanto Suzana Salles antes de ser Isca foi Sabor de Veneno, com Arrigo Barnabé. Só pode mesmo é dar em coisa boa, hein, hein, hein???



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A ciência na contramão - Diário do Nordeste - 2/12/2010


Considerando que a contribuição efetiva da ciência é tão indispensável quanto o seu papel no conjunto da experiência simbólica (...) O debate que coloca a saúde como direito e não como mercadoria chegou às prateleiras das farmácias

O fascínio que a ciência construiu e acumulou historicamente em torno de si está ameaçado. Não por falta de avanços científicos inquestionáveis, pois a busca por respostas aos mistérios da vida e do mundo continua sendo muito bem desvendada por modelos cada vez mais precisos.

O que está desgastando a sua mística é a fragilidade de um horizonte moral traçado pelos abusos resultantes do excesso de subordinação da ciência ao mundo dos negócios.

O comportamento social sofre influência direta da ciência, assim como da religião. Cada um desses fenômenos tem a sua explicação evolutiva no conjunto de mecanismos mentais que ordenam a transmissão cultural. A capacidade de discernir entre o que é aceitável e que não é inaceitável tem uma parte intuitiva e outra parte que é construída com base em simulações que fazemos na combinação entre os nossos sentidos e a nossa mente.

É desnecessário conhecer como isso funciona para nos posicionarmos diante das regras coletivas de conduta. O chamado senso comum tinha até pouco tempo uma devotada confiança na verdade científica. Essa confiança está mudando porque ao invés de ir ao encontro do tendente social-ambientalismo participativo, ela se desencontra de si mesma, recusando-se a seguir como uma das grandes referências da credibilidade humana.

Esse impasse entre razão e irracionalidade é lamentável, considerando que a contribuição efetiva da ciência é tão indispensável quanto o seu papel no conjunto da experiência simbólica. A forma falaciosa e o aspecto prioritariamente econômico (e político, óbvio) de determinadas escolhas científicas, estão na contramão da reputação desse precioso apanágio das civilizações.

As notícias de novas pesquisas científicas sempre estão cobertas de curiosidades e expectativas. Na última década, os estudos sobre as proteínas das sementes de pau-brasil, realizados pela UFPE e por algumas universidades paulistas, confirmam essa minha sensação.

As descobertas de utilização da árvore que deu nome ao Brasil para o benefício da saúde têm um alcance cultural importantíssimo: a devastação ocorrida no período colonial para uso da madeira como matéria-prima para a produção de corante, encontra na medicina a sua redenção.

E com um detalhe: os pesquisadores brasileiros estão considerando à sabedoria popular que já usava o pó da casca do pau-brasil para tratar de diarreia, cólicas menstruais e recurso anti-inflamatório. Além de tentarem comprovar essas propriedades, os nossos pesquisadores conseguiram identificar na semente do pau-brasil atributos para tratamentos anticoagulantes, redução de edemas pulmonares e mal de Alzheimer. Isso, sem derrubar um único pé de pau, como se diz no interior.

Entretanto, esse tipo de notícia não tem sido comum. O que está na mídia com mais frequência e que suja a imagem da ciência é a sua característica deslavadamente venal, que vincula a "verdade" científica pública a interesses meramente particulares. Têm sido comum as denúncias de corporações multinacionais que "compram" cientistas e revistas especializadas para darem um jeito de comprovar a eficácia de seus produtos de duvidosa eficácia, difundindo-os como evidência científica.

A produção e veiculação de falsos textos científicos, assinados por pesquisadores contratados para dar respaldo aos seus conteúdos, está virando commodity e em alguns casos tem provocado ações judiciais contra a má conduta dos seus signatários. O uso de artigos científicos como marketing e de cientistas como garotos-propaganda vem sendo alvo, em muitos países, de órgãos reguladores da concorrência, de associações de consumidores e de entidades de defesa do consumo.

No centro desses escândalos encontra-se a indústria farmacêutica. O setor é acusado de limitar o acesso ao uso de medicamentos porque só pensa em lucros exorbitantes. Talvez o caso mais polêmico no universo dos medicamentos seja o da terapêutica da AIDS, que se tornou uma queda de braços entre governos e multinacionais detentoras das patentes dos compostos de drogas anti-HIV.

O uso da ciência para fins mercantis não é novidade. O que há de novo na atualidade é a troca da exceção pela regra. Nesse cenário, destaca-se a utilização de artigo científico para propaganda de produtos de consumo. "O caso mais emblemático é o do remédio Prempo, usado para reposição hormonal em mulheres na menopausa. Nos EUA, o produto gerou uma ação pública, movida por 14 mil pessoas, que acusam a droga de aumentar o risco de câncer de mama" (MIRANDA, Giuliana e RIGHETTI, Sabine, in: FSP, 8/9/2010, p. A12).

As fraudes de laboratórios, mancomunados com pesquisadores de condutas desviantes são tão alarmantes que o governo estadunidense criou um órgão, a Agência para a Integridade da Pesquisa (ORI), com a finalidade específica de tratar das denúncias de manipulação da ciência naquele país.

No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) está criando um selo de segurança, com código de barras, que será impresso na Casa da Moeda, para ser fixado nas caixas de remédios, como forma de garantir a autenticidade do conteúdo.

A pressão dos laboratórios para defender seus interesses é grande e passa pelo custeio de despesas de parlamentares - uma espécie de "bancada do remédio" - e pelos tradicionais patrocínios de viagens para médicos que se dispões a receitar e indicar determinados produtos a pacientes que deles necessitam ou não. No meio médico essa anomalia ética é chamada de "parceria". O lobby é tão poderoso que até os genéricos já voltaram a ser "preferidos" por marcas.

Recentemente o Conselho Federal de Medicina (CFM) tentou emplacar uma resolução para evitar a farra das viagens de profissionais da área, custeada pela indústria farmacêutica e pelas farmácias, o que restringiria essas "ajudas" apenas a quem fosse apresentar trabalho em evento científico. Não conseguiu. A força de algumas associações médicas e de promotores de eventos falou mais alto e o CFM foi forçado a criar uma comissão que elaborará um protocolo de recomendações a ser "consensado" com a indústria farmacêutica, o Conselho Nacional de Farmácias e com a Anvisa.

O debate que coloca a questão da saúde como direito e não como mercadoria levou a agência do governo brasileiro a regulamentar a venda nas farmácias e drogarias (Resolução 44/99), limitando a esses estabelecimentos a permissão para a comercialização apenas de produtos relacionados à saúde. A grita das boticas foi geral. Essa turma quer exercer função de serviço bancário, de venda de loterias e fazer promoção de venda de remédios, com "novidades" para a automedicação.

O problema do avanço do mercado sobre a ciência é tão grave que já não se sabe bem no que ou em quem acreditar. Na semana passada, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal aprovou o PLS 159/10, que proíbe a venda de mamadeiras e chupetas com a substância bisfenol A (BPA). Tomara que ande, mas a questão de fundo mesmo é o uso desses acessórios que priorizam os interesses da indústria de produtos lácteos e dos serviços de ortodontia, em detrimento do aleitamento materno.

O pior é que não se sabe o que esperar dos novos cientistas, muitos deles sendo formador com trabalhos baixados da internet ou encomendados a "consultores acadêmicos". Ao invés de aprender a raciocinar, a formular, esses falsos "expertos" tornam-se presas fáceis das corporações mal intencionadas, empurrando mais ainda a ciência para a contramão dos interesses da sociedade e para o abismo da descrença.