tag:blogger.com,1999:blog-42190234450596458702024-02-20T17:56:32.509-08:00Flávio PaivaONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.comBlogger121125tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-18838676931684886222013-01-31T04:45:00.002-08:002013-01-31T04:45:15.674-08:00O Mali e a alma do deserto (final)<div class="ultima-hora" id="barrawide">
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<div class="dotted" id="topo-materia" style="text-align: right;">
<h3 class="titulo">
Flávio Paiva</h3>
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<div style="text-align: justify;">
Os levantes,
ataques e bombardeios ocorridos no Mali fazem parte de disputas de
poder que são internas e externas. O presidente interino, Dioncounda
Troaré, que pediu ajuda internacional nos conflitos, não se entende com
Amadou Sanogo, comandante da junta militar golpista, que está
imobilizado pelo exército francês. A França, por sua vez, tenta
afirmação política e militar na conjuntura internacional ao procurar
comandar a operação, mas os Estados Unidos, também em crise de
referência, não acham uma boa ideia. Ambos, assim como as demais
potências europeias, sentem suas lideranças na região ameaçadas pela
China, que vem avançando no país, dentro de uma paciente estratégia de
ocupação da África.<br /><br />A China é hoje o maior parceiro comercial do
continente africano, ao qual vem expandindo investimentos na recuperação
e montagem de infraestrutura de ferrovias, estradas, pontes,
aeroportos, casas, hospitais, escolas, fábricas, sistemas de
fornecimento de água e formação técnica agrícola e industrial. Transfere
tecnologia e experiência de gestão, vende produtos, presta serviços,
exporta gente e abre seu mercado aos produtos africanos, conquistando
confiança e recebendo petróleo e diamantes, dentre outras
contrapartidas. A paisagem pintada pelos chineses não é, portanto,
apreciada por Europa e EUA, ainda em situação de abalo provocado pelos
efeitos da desglobalização.<br /><br />A última vez que EUA e França
disputaram publicamente a coordenação de tropas na África foi em 2008,
quando da insurreição ocorrida no Chade, país do centro-norte africano,
onde há grandes reservas petrolíferas e um lago gigantesco de preciosa
água doce. A França, do então presidente François Sarkozy (2007 - 2012),
tentou liderar uma força internacional de países da União Europeia, a
Eufor, mas fracassou. A despeito de razões geopolíticas e econômicas,
tanto Sarkozy sabia quanto Hollande sabe que "guerra santa" e "guerra
contra o terrorismo" são sempre um bom remédio para baixar a temperatura
de pressão popular.<br /><br />Nem todos os que falam francês são
franceses, pensam ou sentem em francês. Somente no Mali, além da língua
oficial francesa, grupos falam dogon, gozo, hassania, peul, songhai e
tamachek. Na hora de uma guerra, sabe-se lá o que se passa por dentro da
cabeça de cada um, inclusive nos seus campos de vínculos com a
vizinhança. Nunca é demais lembrar que o mapa da África foi desenhado de
fora para dentro e que o território da alma do deserto não se limita a
essas fronteiras. A linguagem comum dos povos da região do Mali parece
ser a arte e, entre as artes, a música ocupa lugar de destaque.<br /><br />Os
artistas do Mali têm demonstrado que não querem a desagregação. Eles se
movimentam e cantam com profunda vitalidade em defesa da união no país.
O Mali é um lugar encantador e arriscado, onde coexistem intensamente
beleza, riqueza, devastação e pobreza. O regueiro Tiken Jah (Costa do
Marfim) gravou a música "An ka Wili" (Vamos subir) convocando a
população a se unir para não deixar que a guerrilha divida o Mali: "O
país vai deslizar das nossas mãos (...) Cadê os descendentes do
Sundiata?". O MC Soumy saiu com o rap "Sini kelle ye" (Amanhã é na luta)
instigando jovens a se juntarem ao exército e às tropas francesas para
lutar.<br /><br />Diante da brutalidade estabelecida na guerra sangrenta
pelo poder político e econômico, a arte incita as pessoas a escutarem a
voz do coração. Foi aí que um grupo de mais de quarenta artistas da
região vestiu todas as cores dos seus tecidos da terra e lançou o canto
de paz "Mali-ko", em vídeo espalhado para o mundo pela internet desde o
dia 17 passado. Os sentimentos de cantoras, cantores e músicos sobre a
situação têm valor significativo para uma gente que vive a música como
parte da sua espiritualidade.<br /><br />Entoando a tradição do "blues" do
deserto, a cantora Kaïra Arby convoca uma tomada de mãos pela paz.
Fatoumata Diawara (Costa do Marfim) pergunta com em sua sensualidade o
que está acontecendo para pessoas do mesmo sangue se matarem. E lembra
que no dia em que os povos africanos se unirem o continente será mais
forte. Em marcação de "hip hop", Amkoullel entra no diálogo reforçando o
convite para que todos se deem as mãos e juntos sejam mais fortes.<br /><br />O
guitarrista e cantor Baba Salah saca a história no tempo de Sundiata
Keïta quando o Mali "era o sol que iluminava os quatro cantos do mundo".
E o cantor Soumaila Kanouté pede a palavra para dizer que "o Mali é
indivisível". As cantoras M´baou Tounkara, Oumou Sangaré e Fati Kouyaté
cantam pela preservação dos valores, contra o risco de jogar fora a
história do país e para dizer que a guerra não respeita ninguém. A dupla
Amadou e Mariam louva a força da união, o cantor Mylmo apega-se aos
princípios legados pelos heróis do país, citando novamente Sundiata
Keïta, e a bela Nahawa Doumbia encerra o canto evocando paz na África e
paz no mundo!<br /><br />Ao ver, ouvir e compartilhar o videoclipe de
"Mali-ko" na internet, voltei a ler com os meus filhos o surrado
livrinho "Sundiata - o leão do Mali", de Will Eisner, e tirei algumas
horas para me deleitar com a coleção História Geral da África, volumes
IV (org. Djibril Tamsir Niane) e VII (org. Albert Adu Boahen),
Unesco/Cortez Editora, São Paulo, 2011, onde encontrei muito da incrível
história do Mali, na condição de império da África Ocidental.<br /><br />Estavam
lá os dispersos grupos de comerciantes de ouro e de sal, as aldeias do
rio Níger e o início das rotas transaarianas no século IX. A
agricultura, a criação de animais, a metalurgia, as caravanas de
mercadores de óleo de dendê, de cobre, noz de cola, marfim, algodão e o
esplendor cultural e econômico de Djenné no século XV. Que fantástica
mistura de lenda com história! A hegemonia do Sasso, entre os anos de
1180 e 1230, suas guerras contra os muçulmanos e o domínio da região
pelo rei-feiticeiro Sumanguru Kante, com seu corpo invulnerável ao
ferro, mas que tinha como ponto fraco não poder ser ferido por esporão
de galo branco.<br /><br />E o Sundiata, hein? O Sundiata era um garoto
quando seu povo foi destroçado pelo exército de Sumanguru. Tinha
paralisia nas pernas e, por isso, foi tratado com desdém. Anos depois
reuniu grupos subjugados da região e comandou uma série de façanhas
militares, derrotando Sumanguru e criando o Mali, em 1235. No poder,
Sundiata definiu alguns princípios constitucionais para seu país e para
os povos federados, com a codificação de alguns costumes e interditos
que ainda hoje inspiram as relações naquela região. Teve a sabedoria de
valorizar o violão tetracórdio (balafo ou dan) utilizado pelos
contadores de histórias, que havia sido popularizado por Sumanguru. No
seu governo, Sundiata Keïta adotou o canto conhecido por Boloba (a
grande música), composto pelos griôs para ouvir e para dançar e criou as
condições para o florescimento da matemática, da literatura e da arte.<br /><br />O
império do Mali só entrou em declínio depois do século XV com as
grandes navegações, época em que dirigiu a atenção para o litoral, em
negociações com portugueses que, dentre outras coisas, trocavam um
cavalo por quinze escravos inimigos. Enfraqueceu, entrou em processo de
divisão e, na segunda metade do século XIX, caiu na cota da França,
quando as potências europeias ratearam o continente africano para todo
tipo de exploração. Foram muitos os movimentos de resistência, mas o
Mali, assim como quase duas dezenas de colônias francesas na África, só
conquistou a independência em 1960. Hoje, com mais de um milhão de
quilômetros quadrados e cerca de quinze milhões de habitantes, vive o
paradoxo de, por um lado, ser acusado de entreposto de pirataria e, por
outro, de ser uma das fontes de tendência de moda e da música
internacional. Paz para o Mali!!!</div>
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<a href="http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1228897&coluna=1">Fonte: Caderno 3 - Diário do Nordeste </a></div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-86097375093324652582013-01-24T18:08:00.003-08:002013-01-24T18:08:50.793-08:00O Mali e a alma do deserto (I) - 24/01/2013<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHRFoMJUo5ewBi1trbZtrB3Y9FT6brlGGOWYLznYenIJH0zl7YlnRPWjw_G0Ci7IoeeKlDJ4Dzh7Fyq_AxEagiSk9q5FSkmkfeVHGTesYOl-ee9a3DuSgZAMseuG8SJdt9da_KgZCs38A/s1600/sundiata.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHRFoMJUo5ewBi1trbZtrB3Y9FT6brlGGOWYLznYenIJH0zl7YlnRPWjw_G0Ci7IoeeKlDJ4Dzh7Fyq_AxEagiSk9q5FSkmkfeVHGTesYOl-ee9a3DuSgZAMseuG8SJdt9da_KgZCs38A/s1600/sundiata.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Faz pouco menos de uma década que passei a dar atenção especial ao Mali, país localizado ao sul do deserto do Saara, no noroeste africano, sem saída para o mar, mas contemplado pelas divinas águas dos rios Níger e Senegal. No sentido horário, o Mali tem fronteiras com Mauritânia, Argélia, Níger, Burkina Faso (antigo Alto Volta), Costa do Marfim, Guiné e Senegal. É um país fascinante, de gente que encontrou a beleza do humano na arte, na cultura oral e na imensidão do deserto.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">A minha admiração por esse país começou quando comprei o livro "Sundiata - O leão do Mali" (Editora Schwarcz, São Paulo, 2004) para ler com os meus filhos e eles, assim como eu, imediatamente colocamos essa lenda africana, contada em quadrinhos pelo genial Will Eisner (1917 - 2005), entre as nossas preferidas. Lemos e relemos tantas vezes essa história e isso fez com que passássemos a notar mais as coisas do Mali. E esse país tornou-se um lugar com importância afetiva na nossa memória.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Na abertura do livro, Eisner conta que no início do século XIII as pessoas que viviam às margens do rio Senegal eram subjugadas por Sumanguru, o poderoso rei do Sasso. Explica que ao expandir suas conquistas esse soberano, com força militar e de feitiçaria, derrotou e passou a dominar um povo mercador de sal e de ouro que havia fundado, às margens do rio Níger, uma nação chamada Mali. Nesse misto de história e de lenda, um pequeno príncipe coxo foi poupado da morte por não representar uma ameaça ao poder que se estabelecia. Essa criança era o Sundiata Keïta, que viria a ser um herói nacional.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Depois de estar com os sentidos aguçados para a existência do Mali, comecei a descobrir que o compositor e cantor afro-pop Salif Keïta nasceu lá. Daí, escutando o blues violado de Ali Farka Touré (1939 - 2006), li na capa do CD que o sujeito era malinês. E veio a Oumou Sangaré, com sua pegada contemporânea e apelo ancestral, a Rokia Traore, em refinados arranjos vocais, e, mais recentemente, numa descoberta do Lucas (13) e do Artur (11), a dupla Amadou e Mariam. Ano após ano fomos dando de escutar acidentalmente cantadores dessa terra de contadores (griôs) e suas músicas ao passo e compasso das caravanas de camelos em tempestade de areia pelas dunas do Saara.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Abro certa vez uma revista na sala de espera de um consultório médico e uma reportagem cheia de fotos impactantes mostra que, desde 2001, acontece anualmente, no mês de janeiro, um evento musical no Mali, o Festival do Deserto, inspirado nas festividades dos tuaregues, pastores e comerciantes saarianos que, depois de temporadas nômades pelos diversos países que habitam, tradicionalmente se encontram num oásis do norte do Mali, para celebrações de dança, poesia e música, para beberem uns nas fontes de experiência dos outros, saciando a sede das trocas e munindo-se de informações para tomadas de decisões. Pouco tempo depois compramos o CD duplo "Desert Blues" (Rough Guides, Hong Kong, 2010), com três horas de música em 23 faixas contendo parte da narrativa sonora do festival.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">O Festival do Deserto é formado especialmente por artistas norte-africanos e de países europeus que colonizaram o continente, mas é um evento aberto também à música do resto do mundo. Mesmo com endereço definido apenas por coordenadas de latitude e longitude, com temperatura diurna de 40 graus e noturna abaixo de zero, com palco em plenas dunas do Saara, sem estrutura formal de acomodações e acesso em carro tracionado ou no lombo de camelo, o evento ainda consegue juntar até dez mil pessoas para desfrutar das apresentações da música atemporal do deserto em diálogo com guitarras e programações eletrônicas.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Com o passar do tempo, fomos sabendo cada vez mais e por diversas fontes sobre as expressões artesanais e artísticas do Mali, nas joias de Timbuktu, nas cerâmicas de Segov, nas máscaras de Dogon e nos tecidos coloridos que dão o tom do país, no seu esplendor estético e na sua força simbólica. Assim como a música, tudo isso nos faz crer na grandeza da alma cultural malinesa. Na condição de grande produtor de algodão, o Mali foi além da economia, tecendo significados e valores em panos, por meio do tingimento em tintura vegetal e de desenhos em argila rica nas propriedades do óxido de ferro.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Das imagens emblemáticas do Mali, talvez a mais conhecida seja a grande mesquita de Djenné. Diz a história que esse templo, originalmente construído entre os séculos XIII e XIV, foi totalmente refeito no ano de 1907, quando o Mali já estava sob domínio francês. Essa fantástica obra de arquitetura, feita de tijolo de adobe com revestimento de barro e amarração de tronco de palmeira, representa a forte presença do islamismo naquele país. É um templo com as paredes da mesma cor do chão, situado em uma região de clima quente e chuvoso, para onde sistematicamente deslocam-se levas e mais levas de peregrinos que, em mutirão, refazem o seu reboco em forma de oração.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Observando esses sinais exteriores de arte, nomadismo e do valor das coisas móveis que parecem constituir a base da cultura do Mali, deu vontade de ir passar umas férias por lá. No ano passado (2012), chegamos a traçar algumas rotas, via Senegal, para conhecer o Mali e ver o Festival do Deserto, mas por motivo de segurança e de vulnerabilidade logística, acabamos desistindo. O noticiário dizia o tempo todo que estava havendo muitos sequestros de turistas e que a situação política do país era bastante delicada em decorrência dos surtos de violência ocorridos no país.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">O pior é que, calejados com tantas informações desencontradas, a exemplo das fantasias e verdades relativas ao Iraque, ao Afeganistão e às mobilizações da Primavera Árabe, já não sabemos medir o grau de implicações dos fatos, em situações como essa do Mali, que envolve, de um lado, os interesses de grandes corporações transnacionais de petróleo, gás e urânio, e, do outro, o que seriam ações agressivas de revoltosos ou de extremistas ligados a redes de terroristas. O que tende ao certo é que o povo malinês está novamente condenado à violência atroz, sem ter um Estado ou um clã capaz de assegurar o mínimo de estabilidade política e social.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">A possibilidade de desmembramento é real. Pode acontecer no Mali o que aconteceu no Sudão, com a criação do Sudão do Sul (2011) ou na Somália, com a separação da Somalilândia (1991), ambas envolvendo a interferência de exploradores de petróleo. Os insurgentes que querem criar o território de Azawad, no norte do Mali, são identificados étnico e linguisticamente como norte-africanos, enquanto são classificados de subsaarianos os grupos que mantêm o controle da capital Bamako. O Mali não tem riquezas naturais no jogo das cobiças atuais, mas é vizinho do Níger, onde está uma grande reserva de urânio, que fornece um terço do consumo das usinas nucleares francesas, responsáveis pela maior parte da eletricidade do país, e tem fronteira com a Argélia, cuja produção de gás natural atende a um quarto do consumo da Europa.</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;">Nos últimos quatro anos, os EUA treinaram o exército malinês para combater os chamados "terroristas islâmicos" no norte do Mali. A iniciativa acabou em golpe militar que depôs o presidente eleito Amadou Toumani Touré (2012). Essa quartelada exacerbou os ânimos da rebelião separatista, acionando levantes comandados pelos tuaregues, que tomaram as cidades de Kidal, Gao e Timbuktu, as principais do norte do país. O poder militar dos separatistas islâmicos malineses foi reforçado com o retorno de guerrilheiros anteriormente lotados nas forças armadas de Muammar Gaddafi (1942 - 2011), na Líbia. E as milícias que tomaram o norte do país querem conquistar a capital Bamako. (continua na próxima quinta-feira, dia 31 de janeiro de 2013).</span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px;" /><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; font-weight: bold; line-height: 20.29166603088379px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;">http://www.flaviopaiva.com.br</a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;"> </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.29166603088379px;"></span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-26232688194678668232012-12-07T16:54:00.003-08:002012-12-07T16:54:55.569-08:00Educação para a cidadania<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ioMoavQdQjX_obSjuuJm_qJroY0o7Rzr69zigZ7EkM8Y6ZVtnI19zwRuVI9J7Y1QMv7ngYFXXVfGBBU4GLuNfhpuSGhhle2QlMgMFEXKB-P15JD6WHFY9BvzpGUFUo77oYe4Cdf7a7o/s1600/olhares-180x160.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ioMoavQdQjX_obSjuuJm_qJroY0o7Rzr69zigZ7EkM8Y6ZVtnI19zwRuVI9J7Y1QMv7ngYFXXVfGBBU4GLuNfhpuSGhhle2QlMgMFEXKB-P15JD6WHFY9BvzpGUFUo77oYe4Cdf7a7o/s1600/olhares-180x160.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">As transformações sociais, econômicas e políticas vividas pelo Brasil no momento atual requerem uma educação à altura do diferencial comparativo das suas riquezas naturais e culturais: uma educação voltada à construção de um projeto de país. Para isso, cabe ao sistema educacional brasileiro ser, antes de tudo, eficiente na formação das pessoas para a cidadania. Com as proporções alcançadas na atualidade pela educação tecnomidiática e digital, esse desafio está cada vez maior, mais complexo, mais indispensável e mais urgente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Perguntas como "qual educação?" e "qual cidadania?" passaram a exigir constantes atitudes reflexivas da comunidade educativa, tornando impreterível o investimento na preparação continuada de professores. É o que vem fazendo com que Sobral, a 238 quilômetros de Fortaleza, ocupe lugar de destaque na educação nacional. Estive lá, no sábado passado (01/12), fazendo a palestra de encerramento do VII Encontro de Educadores (de 29/11 a 01/12/ 2012) do Projeto Novos Olhares, realizado pela Escola de Formação Permanente do Magistério (Esfapem), e posso dizer que é empolgante testemunhar esse misto de orgulho e comprometimento.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Tive a oportunidade de compartilhar com educadoras e educadores de Sobral e dos municípios da sua região metropolitana, que lotaram o auditório do Centro de Convenções, uma sequência de conceitos que venho esboçando a respeito das metáforas da modernidade, dos grandes atos virtuosos da humanidade e da cultura em 4D, como recursos educativos para o fortalecimento e a consolidação da "cidadania orgânica", conforme defino o estado de participação social no qual as pessoas dão relevância ao cotidiano pela associação das suas vidas à vida do planeta.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A atual crise de significados me faz recorrer ao dilema da incompatibilidade trágica, que nos impõe a necessidade de posicionamento "por suicídio ou por esperança?" na hora de fugir do absurdo, conforme refletido pelo pensador argelino Albert Camus (1913 - 1960), a partir dos traumas de quem sentiu na pele os presságios das guerras mundiais ocorridas na primeira metade do século passado. Assim como Camus, eu acredito mais na revolta do que na capitulação diante da inutilidade e da inconsequência de muitos dos nossos esforços em favor do absurdo no curso da hipermodernidade.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O primeiro movimento da educação rumo à cidadania orgânica é a atenção para a cultura nas suas dimensões de expressão do lugar onde a vida acontece, de respeito e valorização de quem a interpreta e refina, de criação de condições para a dinamização das trocas de saberes e conhecimentos nos mundos sociais físicos e virtuais, e de oferta de conteúdos e ambientes agradavelmente distintos para quem chegar. Na economia pós-crescimento, quando rico for quem tiver um pequeno pedaço de terra e quem conseguir momentos desconectados para a reapropriação seletiva do tempo, a principal matéria-prima será extraída dos conteúdos culturais.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A educação dos sentidos e das novas maneiras de ler e de atuar no mundo é uma plataforma para a coesão e para o bem-estar social. No frescor do tempo, a memória, a história e a expectativa de destino são janelas que se abrem e se fecham em constante ressignificação. A ética, enquanto habilidade de distinguir e procurar o bom, o decente e o agradável, é um atributo natural do humano, que precisa ser refinado. A moral, por sua vez, está ligada à conduta e ao modo de agir social, portanto, trata-se de um atributo do coletivo, que varia de acordo com as circunstâncias e os contextos culturais e históricos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O êxito da formação do ser social para a cidadania orgânica depende em muito do aproveitamento dos atos virtuosos colocados em ação pela humanidade na sua longa e intensa aprendizagem evolutiva. O que chamo de ato virtuoso é a prática social da sensibilidade no que temos de melhor na nossa disposição para fazer o bem e para contribuir com a perpetuação da experiência humana. Um ato virtuoso não é apenas uma qualidade ou um sentimento, como a bondade, a solidariedade, a honestidade e o senso de justiça, ele surge com a interação efetiva do sujeito no dia a dia do viver.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Quando digo que a cooperação é um dos primeiros atos virtuosos da humanidade, refiro-me ao modo concreto como os nossos ancestrais descobriram que na companhia uns dos outros poderiam assegurar a sobrevivência e a perpetuação da espécie. Tão atual e tão primitivo é também o ato da tolerância. Não foi fácil suportar a diferença em favor da sociabilidade, mas avançamos e o relacionamento com alguém que possui necessidades, desejos e vontades próprias acabou contribuindo significativamente para a evolução.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Do interesse pelo outro nasceu o espírito solidário e a compreensão de que todos nós temos fragilidades que merecem ser consideradas. E quando essa atenção acontece, não pela tentação de se mostrar superior ou mais forte, mas pelo impulso sincero de desejar o bem, pode-se chamar esse ato virtuoso de generosidade. Como nas hipóteses do jogo simbólico da infância, a humanidade foi encontrando respostas entre erros e acertos. Fruto da cumplicidade e do anseio de compartilhar aspirações comuns acertou mais uma vez na descoberta do que intitulei de idealidade, ou seja, o ato virtuoso da consciência individual voltada para o coletivo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O ato virtuoso da moralidade, sob o aspecto de condição essencial para reger os costumes, o da alteridade, considerada como recíproca à visão do próximo, e o da gentileza, enquanto a presença que estabiliza o outro complementam as sete invenções sociais que atravessam o tempo em aprimoramento e que continuam fundamentais à educação para a cidadania, nesses tempos de transmigração que qualifico como Baixa Modernidade, numa alusão à Baixa Idade Média, quando há cerca de cinco séculos a crise do modelo de produção e proteção feudal deu ensejo ao Renascimento.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Não houve ainda uma ruptura que alterasse a base dos fundamentos da modernidade. A incapacidade de ouvir o outro, o cientificismo e o excesso de racionalidade no ordenamento da sociedade ainda não sofreram descontinuidade. Por isso, uso a metáfora do "lenhador" para caracterizar essa baixa modernidade. O lenhador é um predador da flora, um destruidor da própria base de subsistência, um agente da insustentabilidade. Ao deixar o solo infértil e impróprio para o florescer da vida, a figura do lenhador assume a antítese do cidadão orgânico.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Como tenho a esperança de que daremos a volta por cima e que a tendência da humanidade será reduzir as práticas infecundas do lenhador para ampliar a germinação do que temos de melhor no aprendizado da humanidade, propus também a metáfora do ser humano para a era (ainda sem nome) que virá logo após a hipermodernidade: o lavrador. O lavrador seria ou será a sublimação do cidadão orgânico, por ser alguém que cultiva a simplicidade, que faz a semeadura do que é preciso produzir para viver, usando a ciência e a tecnologia em favor do usufruto pleno do que a vida nos oferece.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A educação para a cidadania orgânica é a cidadania do lavrador, onde quer que ela aconteça, sem restrições de territórios, classes, categorias, partidos, gênero, faixas etárias ou etnias. É a reaproximação da cultura com a natureza em um fluxo mental intuído e antenado, em rede, integral e integrado, experienciado, socialmente participativo e, acima de tudo, consciente de que ser rico é ser uma pessoa de valor. Tudo vivido com o que de mais genial a inteligência humana foi e é capaz de criar e com a sabedoria de que também somos animais naturais.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<div style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; font-weight: bold; line-height: 20.288888931274414px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; text-decoration: initial;">
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; font-weight: bold; line-height: 20.288888931274414px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;"></a><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;">http://www.flaviopaiva.com.br</a><span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"> </span></div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-58782380340327539242012-11-22T18:38:00.004-08:002012-11-22T18:38:55.765-08:00Roteiros de leituras do mundo - 22/11/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgccVO1CB3AgGhz6_kr6EHq2fq8FKUQgcHYxT2NF1HvdEQfbqLDgh7Y3mQUASy4ASljADUgIUyuH2rC63ty-a83wPlirtZj88a66p2pQpPEgE5WbvT1FWetrv3av0J617lTaBmFNqTNwPo/s1600/af006de3a696948328c0197b75500496.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgccVO1CB3AgGhz6_kr6EHq2fq8FKUQgcHYxT2NF1HvdEQfbqLDgh7Y3mQUASy4ASljADUgIUyuH2rC63ty-a83wPlirtZj88a66p2pQpPEgE5WbvT1FWetrv3av0J617lTaBmFNqTNwPo/s1600/af006de3a696948328c0197b75500496.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Dos bons frutos que colhi na safra da X Bienal Internacional do Livro no Ceará (8 a 18/11/2012), destaco como um dos mais saborosos e proveitosos o conjunto de livretos da coleção "Mundo da Leitura", do Centro de Referência da Literatura e Multimeios, do Curso de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF), editada com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). São 20 publicações com planejamento de práticas leitoras multimidiais, resultantes de um diálogo permanente e direto daquela universidade com leitores de várias escolas brasileiras, sobretudo gaúchas, catarinenses e paranaenses.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Orientada pela evolução de novas concepções de leitura e novos jeitos de ler, a coleção, intitulada "Roteiro de Práticas Leitoras para a Escola" (2010 e 2011), sugere abordagens para o despertar do gosto pela leitura em diferentes suportes e linguagens, com tratamento específico para os níveis infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior. Recebi esse valioso presente das mãos da professora Tânia Rösing, que esteve na Bienal em Fortaleza participando do "6º Encontro do Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado do Ceará".</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">No texto de apresentação ela expressa categoricamente a defesa que faz da leitura multimidial em espaços educativos e culturais: "Precisamos despertar o interesse dos leitores em formação pela leitura da música, da pintura, do teatro, da dança, da escultura, da arquitetura. Precisamos mostrar o valor das histórias em quadrinhos, das charges, dos cartuns, do grafite, formando públicos interessados nessas manifestações artísticas. Precisamos valorizar as manifestações da cultura popular, ampliando nosso conhecimento e nossa sensibilidade pela pluralidade de vozes em que se constitui a cultura em toda a sua complexidade e em toda a diversidade".</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A produção desse roteiro pedagógico, incluindo os volumes do projeto "Livro do Mês" (2006 a 2011), com metodologia de leitura antecipada de obras com enfoques em mídias, dialogismo e relação leitor-autor, revelam uma consciência, presente na UPF, da importância do investimento em leitura, como condição indispensável ao desenvolvimento. Para Tânia Rösing, através da leitura, as pessoas podem alcançar gradualmente patamares de criticidade na condução de suas vidas e na atuação nos mais diferentes grupos e áreas sociais. Assim, sem receio de expor suas inquietações com relação a um assunto repleto de interrogações, a Universidade de Passo Fundo oferece esse roteiro no sentido da reflexão permanente pelo estímulo à vivência de experiências leitoras.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Além do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Referência da Literatura e Multimeios, desde 1997, incluindo a produção do programa de televisão "Mundo da Leitura", veiculado nacionalmente pelo canal Futura, a equipe de responsáveis pelas propostas de práticas leitoras com distintos públicos e meios conta com experiências colhidas no maior evento brasileiro de formação de leitores, que é a Jornada Nacional de Literatura, realizada há mais de três décadas pela UPF, com apoio da Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Com tudo isso, a professora Tânia, que fundou e é coordenadora da Jornada e do Centro de Referência, faz questão de dizer que essa é uma equipe que ouve bem, que está aberta a contribuições, numa clara atitude de quem faz para valer.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A educação do olhar, pelo estímulo à formação da memória visual e sua vinculação com a imagem que existe na palavra em si, é apresentada pela equipe de UPF no plano da leitura audiovisual para os primeiros anos do ensino fundamental, como maneira de instrumentalizar o estudante no seu processo de construção do conhecimento. O conceito trabalhado é o de encontrar o potencial do concreto e do virtual na relação entre o signo da língua escrita e sua transformação em bytes, entre o papel em branco e o monitor, a caneta e o teclado.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">No anseio de conquistar leitores, partes desse importante roteiro apresentam displicência a respeito de questões relevantes, como a da publicidade voltada para a criança. O trabalho recomenda que o educador exiba peças comerciais para crianças como se estivesse apenas fazendo uma pesquisa qualitativa de opinião e não em uma missão educacional. No capítulo "Mãe, compra para mim?" o tema chega a ser mencionado, mas perde a chance de, por exemplo, chamar a atenção para licenciamentos e usos de personagens como mascotes de vendas.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Em uma das etapas propostas para o 3º e 4º anos, a título de mostrar como são feitos os filmes de animação, a metodologia pede para o professor literalmente "Exibir aos alunos o vídeo da propaganda da Coca-Cola...". Com tantos e tantos exemplos existentes de caráter anímico no audiovisual é difícil entender a razão da escolha dessa propaganda de açúcar líquido e gasoso, num país onde cresce a taxa de sobrepeso, obesidade e refluxo. Ademais, consciente ou inconscientemente, merchandising em material didático não é nada recomendado.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O "Roteiro de Práticas Leitoras para a Escola" da UPF abrange ainda, para estudantes do 5º e 6º anos, as histórias em quadrinhos, charge, cartuns, tirinhas cômicas e discute símbolos vividos no âmbito da cultura popular, de massa e acadêmica. Há espaço para a dinâmica dos saberes e do conhecimento, da sabedoria e da erudição. Ao mexer especificamente na temática do folclore, o material deixa a desejar um pensamento mais descolado do passado, qualquer coisa que pudesse aproximar mais as crianças das tradições e crenças populares, estimulando-as a vivenciarem esses mitos e não apenas a estudarem sobre eles.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">No bloco de uso de diferentes mídias e criação colaborativa, destinado ao 7º, 8º e 9º anos, é muito bacana a noção da riqueza de convivência em grupo e da aprendizagem com o outro, compartilhada com a juventude. O mesmo tom efusivo faz-se presente na parte do ensino médio com enfoque na literatura fantástica. Sei que nem tudo dá para estar escrito em um trabalho que se propõe a oferecer tópicos a serem complementados no ato de seu uso, mas senti falta de referências comparativas em exercícios como o de "imaginar-se em outra época"; algo como paralelos da violência entre as cidades amuralhadas medievais e as periferias dos atuais centros urbanos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Nesse ponto de alusões comparativas, acho que cairia bem expor determinados contextos e atemporalidades, como no caso das práticas de minicontos e haicais, dirigidas ao ensino médio. O miniconto é citado como uma literatura decorrente do "tudo tão rápido e fragmentado", mas sem uma perspectiva. E os jovens precisam de horizontes. Por sua importância, esse "Roteiro de Práticas Leitoras para a Escola", precisa ser mais vórtice, mais roteador, mais sinalizador de rotas. A narrativa curta e criativa, do tipo 140 caracteres definidos pela empresa Twitter para conversação global, seria percebida com mais curiosidade caso, ao ser associada ao miniconto, pudesse fazer alguma ligação da hipermodernidade lipovetskyana com a tradição japonesa, na qual o haicai surgiu como gênero poético.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A coleção "Mundo da Leitura" tem ainda um caderno extra, orientado para o período do 1º ao 4º anos, e outro destinado ao ensino superior. Todos apresentam obras literárias embasando a discussão dos temas e suportes propostos. Grandes abordagens, como a combinação da literatura com a música no processo de aprendizagem, certamente ainda estão por ser trabalhadas e retrabalhadas pela equipe desse Centro de Referência da Literatura e Multimeios da atuante Universidade de Passo Fundo, que tem dado significativas contribuições à construção do conhecimento para a aprendizagem emancipatória.</span><span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"> </span></div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-46715890825830178752012-11-15T16:35:00.005-08:002012-11-15T16:35:53.978-08:00Muito além da obesidade - 15/11/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7HV01qLiQnXSCXeV_3f0gQ6amgKiIYOJJFrvkTdg80_RpP3fjEYioGW4iyYJFZ6zdz5uEwWuB3Lgl4E0fsGEElK-_3UIDZ6MZgWE37uTxB3G-EPrKhLv8cla2mhVxvpaaGwxkhJDoxb4/s1600/cartaz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7HV01qLiQnXSCXeV_3f0gQ6amgKiIYOJJFrvkTdg80_RpP3fjEYioGW4iyYJFZ6zdz5uEwWuB3Lgl4E0fsGEElK-_3UIDZ6MZgWE37uTxB3G-EPrKhLv8cla2mhVxvpaaGwxkhJDoxb4/s320/cartaz.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Tanto quanto nos seus aspectos nutritivos, o valor simbólico dos alimentos segue várias fases da evolução humana. A história da comida teve momentos de grandes impactos, como o intercâmbio de plantas e animais favorecido pelas navegações transoceânicas do século XVI. Foi essa excepcional movimentação marítima que tornou universal, dentre inúmeros outros, o trigo europeu, o milho americano, o arroz asiático e o café africano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Essa permutação ecológica e cultural criou as condições para a variedade de ofertas de alimentação em todo o mundo. Mas não foi bem isso o que aconteceu. A industrialização nos centros urbanos fez migrar parte significativa da população do campo para a cidade, esvaziando as áreas rurais onde se produziam os alimentos. No século passado (XX), o domínio das corporações criou a ilusão do paladar unificado e da comida massificada, estorvando o potencial da diversidade orgânica.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A preeminência da cultura consumista estadunidense instalou no mundo um padrão de oferta industrial que somente nas últimas décadas começou a ser efetivamente desafiado por organizações da sociedade. A obrigatoriedade de informar nas embalagens dos produtos a presença de insumos que podem ser prejudiciais à saúde, tais como as gorduras trans, a quantidade de sódio, açúcar ou de adoçantes sintéticos, a indicação de organismos geneticamente modificados (transgênicos) é uma conquista muito recente.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A resistência de muitas empresas que insistem em tentar desrespeitar o consumidor tem gerado uma onda de desconfiança e o aumento da vontade de participar por parte da população. Mudam-se os sentimentos, os significados, os estilos de vida e as atitudes. E é nessa conjuntura que a diretora Estela Renner está lançando o seu segundo documentário sobre o tema. Estive presente na pré-estreia do seu filme "Muito Além do Peso" (84min, Maria Farinha, 2012), na segunda-feira passada (12) no Ibirapuera, em São Paulo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O público compareceu. Faltou pouco para lotar os 800 lugares do auditório. Isso demonstra o tamanho do interesse das pessoas pelo debate sobre a obesidade na infância, proposto pelo filme. A produção do evento caprichou. Antes da exibição teve um maravilhoso bufê de frutas e sucos e a fala de Amit Goswami, pesquisador indiano que trabalha a física quântica na relação corpo e mente. Após projetado, o documentário foi discutido no palco com a participação de Frei Betto, do endocrinologista Amélio Godoy, da ativista Ann Cooper e da diretora Estela Renner, com mediação do VJ Cazé Peçanha.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O filme de Estela Renner vai direto ao assunto. Assume o partido da infância e tem êxito na opção pela retórica da revelação. É curioso ver como as famílias obesas ou com filhos obesos se dispuseram a contribuir com a realização dessa obra, relatando experiências da má nutrição assumida por elas. A consciência de que podem servir de antiexemplo denota um quê de altruísmo nessas pessoas. Com isso, a diretora certamente sentiu-se aliviada para expor naturalmente as crianças dos grupos familiares que participaram dos depoimentos. As demais crianças que aparecem em cenas contextuais tiveram cuidadosamente seus rostos embaçados para evitar identificação.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Ao patrocinar "Muito Além do Peso", o Instituto Alana oferta para debate uma síntese viva da problemática do sobrepeso na atualidade. Por isso, esse documentário é tão importante de ser visto por cidadãos, consumidores, empresários, adultos e crianças. Mesmo que ele mexa com os nervos de algumas empresas citadas, as mais antenadas não deverão reagir frontalmente ao que Estela Renner apresenta como fato inquestionável, sob pena de terem aumento de desgaste nas imagens de suas marcas e produtos. É uma oportunidade de o mundo corporativo reavaliar seu código de ética e de conduta.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">"Muito Além do Peso" é uma peça de utilidade pública. Reflete uma aderência referencial e reverencial aos Estados Unidos. Não faz mal, afinal foram eles mesmos que nos incutiram a ideia de uma sociedade refém do "fast-food". A obesidade no Brasil ainda não está no nível de gravidade dos EUA, mas poderá chegar lá, caso não revertamos a taxa crescente de 33% de crianças com sobrepeso. Reservei, contudo, os meus vivas e palmas para as cenas e depoimentos incríveis gravadas por Estela Renner e sua equipe.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">É impactante a imagem do supermercado flutuante da Nestlé, invadindo as águas amazônicas, todo adesivado com marcas e produtos da multinacional suíça para assediar as comunidades ribeirinhas. Causa impacto também a revelação da menina que adora batata frita, mas diante de uma batata natural arrisca dizer que é uma cebola. As falas são intercaladas por informações e imagens de efeito comparativo rápido, como a colocação lado a lado de produtos alimentícios e de copos contendo a porção de açúcar ou de óleo neles contidos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Chocante também é o depoimento de uma ex-funcionária do McDonalds que é mãe de uma criança obesa. Ela conta da angústia que tinha ao ver sua filha acima do peso, enquanto trabalhava em uma empresa causadora desse tipo de problema para a sociedade. Declara que pediu demissão por não aguentar mais se sentir como se fosse um traficante de drogas. Outra mãe confessa que tenta convencer o filho de que determinado alimento não é saudável, mas fica sem saber o que dizer quando o argumento do filho é o de que se aquele alimento não fosse saudável ele não apareceria sendo comido por uma criança na televisão.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">O filme apregoa que problemas de educação alimentar levam as crianças obesas a uma ameaça de morte prematura, constituindo-se neste caso a primeira geração de meninas e meninos com expectativa de vida menor do que a dos seus pais. O disparate é saber que muitas das crianças que levam frutas para se alimentar no intervalo das aulas as comem escondidas no banheiro, pois se forem vistas podem sofrer discriminação, considerando que, do ponto de vista de quem quer significar alguma coisa de qualquer jeito, os alimentos industrializados são tipificados como símbolos de distinção de poder de consumo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Depois que as luzes se acendem, a lembrança da sala escura deixa o espectador de "Muito Além do Peso" sem chance de ficar indiferente. O filme tem a mesma força do documentário "Criança, a Alma do Negócio" (49min, Maria Farinha, 2008), no qual Estela Renner trata dos efeitos da publicidade no comportamento e nos valores das crianças. É uma espécie de continuidade. Ambos apresentam o viés intrapsíquico das pessoas que são vítimas de suas próprias dificuldades de superarem a condição de obesa, e o viés do indivíduo como parte de uma sociedade doente.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">A pressão contra os fatores causadores de obesidade tenderá a aumentar, visto que não tem sentido crianças com trombose, dificuldades respiratórias, hipertensão arterial, aterosclerose, intolerância à glicose, diabetes, distúrbio metabólico e todas as doenças resultantes do limite trágico da obesidade. Sem contar com os problemas ortopédicos, como os psicossociais, tipo ansiedade, depressão e isolamento social, e da busca desnorteada de como encontrar alternativas para escapar do sedentarismo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.44444465637207px; line-height: 20.27777862548828px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Estela Renner trata a obesidade como um problema de saúde pública, sem cair nas armadilhas estéticas do feio e do bonito ou em preceitos morais do tipo certo ou errado. Não é à toa que a parte mais emocionante do filme é quando uma mãe diz que acha o filho bonito de qualquer jeito, gordo ou magro. E afirma que quando se esforça para que ele perca a gordura corporal que tem em demasia é apenas para vê-lo sadio. Eis a dinâmica circular da existência, sinalizando que, na combinação da racionalidade com o instinto, pode estar em processo uma nova revolução na história da comida.</span></div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-34024179469061571132012-11-08T16:40:00.002-08:002012-11-08T16:40:43.487-08:00O PT da outra margem do rio - 8/11/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijZlMyMeLLPmc3VgwO-mJ4eKo7mzyVBmTZTNQmYgoilctJAp-4Zhn74U7lo63VXP6TEAlJ89W0o0KqAirROsphJbPMr5_ZqRMpG2u-38Kwb2xXfxafr0OyJjbeXQSHtEmUGw_DKuPjNRM/s1600/haddad-mic.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijZlMyMeLLPmc3VgwO-mJ4eKo7mzyVBmTZTNQmYgoilctJAp-4Zhn74U7lo63VXP6TEAlJ89W0o0KqAirROsphJbPMr5_ZqRMpG2u-38Kwb2xXfxafr0OyJjbeXQSHtEmUGw_DKuPjNRM/s320/haddad-mic.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span>
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<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;">Alex Antunes, agitador e produtor cultural paulistano, declarado militante do Partido dos Trabalhadores (PT), publicou na semana passada, na sua página do Facebook, o texto "Por que eu elegi Haddad contra o PT", no qual aborda as possibilidades simbólicas do momento paulistano, com a eleição de Fernando Haddad, como sinal de que a potência transformadora na política brasileira ainda passa por dentro do PT. O título é caricatural, mas na argumentação percebe-se que ele se coloca contra os políticos do partido que confundem voto e militância com "carta branca para a sua burrice e truculência". Por isso, assevera, associa-se aos que, como o ministro Joaquim Barbosa, protegem "o Lula do Lula" e "o PT do PT".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Na conversa com os leitores do seu artigo-desabafo, ele afirma que não consegue imaginar momento melhor para o partido e bate de frente com as correntes petistas que estão se movimentando para "salvar" alguns condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "O Dirceu me estuprou, e estuprou meu voto, três vezes. Sem a menor piedade (...) não elegi o PT para a presidência para corromper (...). Elegi o PT para exterminar esses coronéis dos grotões psíquicos, e não para financiá-los". Procurei ler a mensagem de Alex Antunes como uma advertência que reforça a atitude do eleitor brasileiro nas eleições (prefeito e vereador) do mês passado. O resultado concreto desse posicionamento é que o PT cresceu no Brasil (14%), mas perdeu onde, salvo raras exceções, a insensatez dos seus líderes locais vinham levando o partido à autodestruição.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
O que me fascina no eleitor brasileiro é que, mesmo acossado no labirinto das desinformações e bombardeado por más intenções de pesquisas muitas vezes manipuladas, ele apresenta comportamento desviante, alterando intuitivamente os arranjos de quem quer que esteja no poder. Assim, o Brasil avança nesse incrível fenômeno que tenho chamado de democracia empírica. Nessa democracia à brasileira, o eleitor não se coloca a favor ou contra a corrente, nem orientado pela busca de margem direita ou de margem esquerda; ele atravessa um rio a cada eleição para ver o que há do outro lado. Pena que se pense e se discuta tão pouco sobre isso. Uma boa compreensão dessa sabedoria da miscigenação poderia elevar os nossos políticos ao nível dos eleitores.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Nesse sentido, a situação atual do Partido dos Trabalhadores é propícia ao que Alex Antunes chama de "refundação psíquica do PT", uma nova atitude partidária, na qual o "PT pare de tropeçar nele mesmo. Porque o PT não é dos petistas, o PT é do Brasil, o PT é do mundo". E ele carrega no tom da voz: "Na verdade, eu que peguei filiações para o registro definitivo do PT de porta em porta, nos bairros de São Paulo, para mudar o Brasil e o mundo, é que sou o DONO do PT, não o Zé Dirceu, que tentou roubá-lo de mim. Pois agora eu vim reclamá-lo (...) Por isso que eu votei e fiz campanha para o Haddad (...) Honrando sua condição de signatário do manifesto pela refundação do PT, ele fez um discurso de eleito que emitiu TODOS os sinais corretos sobre o significado de sua vitória".</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
A presidenta Dilma Rousseff tem dito desde o início do seu mandato (2011) que não vai "admitir malfeito" da parte de quem quer que seja. Logo no primeiro ano de governo afastou uma meia dúzia de ministros, inclusive o então da Casa Civil, Antonio Palocci, tão poderoso e petista quando o José Dirceu, que ocupou o mesmo cargo. A ministra Gleisi Hoffmann, senadora que está atualmente na Casa Civil, diz claramente que o partido está iniciando o resgate da sua credibilidade: "Já passamos uma fase muito mais difícil. Eu diria que o PT está vivendo uma fase muito boa. Está num governo bem avaliado, que está oferecendo ao povo brasileiro respostas importantes a seus problemas. Mesmo numa crise mundial, o Brasil tem tido resultados importantes na economia, na geração de emprego. E ter uma presidente que é petista com a avaliação que tem, e ter tido um presidente que saiu com a avaliação que saiu" (Folha de S. Paulo, p. A6, Poder, 29/10/2012).</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Ao ser indagada sobre as críticas e as contestações que parte dos petistas está movendo contra o julgamento do Supremo e em prol dos condenados, com patéticas ameaça de denúncia do STF em organismos internacionais, a ministra é taxativa em sua posição: "Nós podemos gostar ou não gostar de como as coisas se dão, mas nós temos que respeitar resultados e instituições" (Idem). Muitos militantes e políticos que não se envergonham de situações patéticas como a emblemática cena dos "dólares na cueca", que ainda estão com a tentação de desonestidade no armário ou que não entenderam a necessidade de amadurecimento do partido, podem até achar ruim e desnecessário esse debate, mas, querendo ou não, esse assunto é importante para o PT e para o País.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Anos atrás, quando estourou o escândalo do "mensalão" (2005), houve, por parte de pessoas que sonharam e lutaram por um partido diferente, uma reação de inconformismo em vários setores do PT. Uns ficaram tentados a deixar o partido e outros debandaram logo. Embora não sendo filiado ao PT - como nunca fui nem sou ligado a qualquer partido político - defendi que seria um erro largar o partido à insolvência. Naquele momento, a convite da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina (Adital) e do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), estive reunido algumas vezes com petistas e simpatizantes do PT, para argumentar que, apesar de tudo, o partido tinha lastro histórico para pagar a dívida que moralmente passava naquele momento a ter com a população brasileira.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Naquela época, procurei refletir o escândalo do "mensalão" como uma oportunidade de aperfeiçoamento dos princípios e práticas de um partido que aprendia a sair da condição de denunciador para a obrigação de fazedor. Agora, por ocasião do julgamento do "mensalão", reforcei em mim a convicção de que, independentemente das circunstâncias e dos interesses que o conduzem, o efeito dessa ampla audiência coletiva e pública simboliza uma "expressão de passagem para um novo ciclo de renovação política" ("O julgamento de Macunaíma", Diário do Nordeste, 18/10/2012). Não há mais espaço para o tipo de heroísmo dissimulado, revelado no palco do teatro do "mensalão": "Vivia deitado, mas se punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém", como está escrito logo na primeira página do livro de Mário de Andrade (1928).</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
Na condição de autor de uma crônica aberta à conexão de pontos de vista, nos últimos dias tenho trocado ideias com leitores sobre as críticas de que sou benevolente com relação a Lula. Encontrei na mensagem de Alex Antunes uma boa resposta para isso e deu vontade de compartilhá-la. Em síntese, ele também poupa Lula por considerar que "fora seus desvios egóicos", o ex-presidente tem um papel "mágico" nesse processo. E como tem. Porém, o debate não é por aí. No contexto atual do PT e do País, renovar, resgatar e refundar é mais do que faixa etária, tempo de filiação e volta ao passado. Pelo bem e pelo mal, o PT é um produto cultural do Brasil, o que leva as discussões sobre o partido a não se restringirem a dirigentes e militantes. O desafio posto é o de como lidar com o tempo político brasileiro e a maturidade do partido, entre teorias, abstrações e as mensagens realistas das urnas.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14.666666984558105px; line-height: 20.288888931274414px;"><div style="text-align: justify;">
www.flaviopaiva.com.br</div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-64235603266441552642012-10-11T15:34:00.001-07:002012-10-11T15:34:13.438-07:00Catarse literomusical criativa - 11/10/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_7rFANSOb55wNrOC5CWlbKLg4qjU-Zu-zOQeNAU-k2VDWx_3hKn-7sbnlw8-gK8QkqzMkAvW6r70nu7EFf0wzjTyeNRj5W_TjZ4OwnnOJahFh8eizQ4RQKeia68jIaHTXpi-JmlTW38g/s1600/30_foto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="156" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_7rFANSOb55wNrOC5CWlbKLg4qjU-Zu-zOQeNAU-k2VDWx_3hKn-7sbnlw8-gK8QkqzMkAvW6r70nu7EFf0wzjTyeNRj5W_TjZ4OwnnOJahFh8eizQ4RQKeia68jIaHTXpi-JmlTW38g/s320/30_foto.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;">A vida de um compositor que teima em viver de trabalhos autorais passa por uma existencial oposição recíproca entre as perspectivas oportunizadas pelas novas tecnologias e a dificuldade de pagar as contas no final do mês. Muitos desses artistas já não conseguem saber se correm ou se ficam para serem comidos pelo bicho da competitividade e da fama. É o tema do livro-CD "Na Lojinha de Um Real Eu Me Sinto Milionário", do compositor e cantor paulistano Paulo Padilha (Borandá, 2012), produção autobiográfica que inclui um pouco de vida alheia, como a da cantora que fingia ser sua própria produtora ao tempo em que entregava pizza para reforçar o orçamento (Soube, p. 19).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">O tom desse trabalho de Padilha é o sentimento de inutilidade e teimosia presente no cotidiano do músico brasileiro que se vê pressionado por padrões de ofertas inclusivas de consumo, mas destituídos de qualidade no processo de discernimento. E ele canta: "O balanço tá bom só que eu não me encaixo" (Partido Baixo, p. 25). O autor demonstra total compreensão de que vive numa espécie de tempo errado e, sem saber como consertar essa realidade, trata de regurgitá-la numa catarse literomusical criativa.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">O livro-CD de Paulo Padrilha é cômico e perturbador em sua função de espelho, diante de um compositor que samba os seus sentimentos e dificuldades sobre parte significativa da situação atual da criação artística. Relato sonoro, literário e visual, feito na primeira pessoa de um artista que vai transformando o cotidiano em canções e crônicas intersemióticas cheias de provocantes revelações de uma vivência marcada por toda sorte de pressão psicossocial que aflige a quem tudo pode ser delegado, por "passar o dia fazendo música" (Todo tipo de tarefa, p. 26).</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Em formato alternativo dos anos 1980, a publicação recontextualiza a estética de "Somos todos assassinos", antológico livro independente do escritor mineiro Sebastião Nunes, que escracha o lado obscuro da produção publicitária. Paulo Padilha trilha a mesma ironia de um mundo no qual o dinheiro está na base das relações entre as pessoas e expõe seu olhar musical na cadência de variadas ilustrações com textos de máquina de escrever, imagens recortadas, estampas rebaixadas e, como não poderia deixar de ser, a reprodução da moeda e da cédula de um real. Na advertência grafada na página de "copyright", o espírito da coisa: "Use o bom senso. Se é para curtir e divulgar, pode espalhar! Se vai faturar, é bom pagar!"</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Nessa vida de quem vive a compor até em fila de banco, às vezes o artista fica no desamparo: "Eu bato o escanteio / Corro pra cabecear / Eu mesmo faço a jogada / Sento na arquibancada e grito gol! / Toco pandeiro, frevo, samba, rock, funk, soul / Armo o circo, vendo ingresso, e vou assistir o show" (Escanteio, faixa 6, p. 21). E para quem abandona o barco, trai a causa, pula do bonde, tira o time e deixa o sujeito sem clima, ele manda um refrão encolerizado: "Vai te catá, vai te catá / Que tem, vai, vai / Vai te catá, vai te catá / Que tu tem, vai, vai" (Idem).</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">A situação não é nada fácil para quem se acha incompreendido e sonha com um drummondiano "mundo, mundo, vasto mundo" apreciando a sua criação. Na faixa-crônica 1, "Eu e minhas ideias geniais", o autor faz uma fala em reggae, como um cantador que recebe um mote para um xote. Ataca de Itamar Assumpção, inclusive convidando as cantoras Suzana Salles e Vange Milliet para um coro na pegada "Isca de Polícia". Como as coisas não funcionam assim, ele, na liseira, acaba viciado em telefonia, como descreve em "Pré-Pago Pai de Santo" (faixa 10, p. 31), para a qual contou com o auxílio luxuoso da Mart´nália.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Numa e outra de ficar inventando coisa, ele caiu na besteira de calcular quantas músicas cabem em equipamento de armazenamento digital e isso só contribuiu para aumentar sua angústia ao chegar a conclusão de que "Seriam necessários 34,3 metros lineares de estantes para armazenar 3.428,5 LPs e aproximadamente 9 anos, 4 meses e 26 dias para ouvir todas as canções de um tocador de mp3 com 120 GB" (p. 49). A pior conclusão estava por vir: se ouvindo um velho long-play por dia, sem repetir uma só faixa, a pessoa precisaria de uma década, não há muita razão para alguém fazer novas canções. Isso pode até ter algum fundo de verdade, mas, diante de tal constatação, a dúvida que surge para o compositor é o que ele vai fazer com o seu impulso criativo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Tendo ou não quem vá ouvir, conseguindo ou não viver de música, o que Paulo Padrilha mostra nesse trabalho é que o compositor à vera é aquele que nunca entrega os pontos. Foi assim quando ele levantou o astral ao entrar em uma dessas pequenas lojas populares de preço único : "Na lojinha de 1 real / Eu me sinto um milionário / Vasculhando corredores /Escolhendo escorredores de prato / Cores sortidas, baixelas de plástico / Fala, filhinho / Fala o que você quer / Pega o brinquedo / Pega, eu insisto / Filosofia de hoje / Compro, logo existo" (Lojinha de 1 Real, faixa 2, p. 7). Neste samba, o compositor experimenta a sensação de "eu posso" atender a vontade do filho, cujo comportamento foi moldado pelo mercado de consumo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Muito boa também é a crônica-canção em que o autor revela o quanto gostaria de ter a oportunidade que têm os autores de livros de autoajuda. "Sempre olho aquelas gôndolas com CDs e livros de autoajuda e fico pensando, puxa, será que algum dia terei a honra de estar aqui, dividindo o espaço com essas maravilhas da cultura de massa?" (Guia fácil para lidar com pessoas difíceis, p. 9). É o compositor em situação de exílio, de desencanto, de cara com aquele vazio da solidão de Caetano, em London, London, um vagar atento, enquanto as pessoas parecem passar apressadas com suas dores silenciosas. E o compositor fica indignado por transformar tudo isso em canção, esse "serviço sujo, que não enche a barriga dos meus filhos, q não alivia o trabalho da minha mulher, q não paga o salário da empregada, que não paga escola"... (Idem).</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">O pior é que ao comprar o guia na banca de jornal, ele descobre que a autora é sua mulher, aquela que consegue aguentá-lo, que tanto o atura, investiu na literatura. "Pois é... não é fácil casar com um compositor. No começo é lindo. Ele faz uma canção pra você. Suas amigas morrem de inveja. Depois começa a fazer canções pras suas amigas, com o pretexto de não magoá-las" até o dia em que, dizendo que se inspirou na história de um amigo, faz uma música para a sogra: "Minha mulher / Tá cada vez mais parecida com a minha sogra / Salga a comida, o joelho não dobra / Dorme na frente da televisão / Tá engordando, anda arrastando o chinelo de dedo / Ai meu Deus, eu tô com medo, / De enfrentar a situação" (Eu sou ela amanhã, faixa 4, p. 12). E conta conta que no começo a sogra estranhou a canção, mas quando viu que fazia sucesso nos shows, passou a pedir: "Paulo, toca aquela que você fez em minha homenagem!" (p. 13).</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Na vida de compositor, essa confusão toda deixa o indivíduo com insônia e ele começa a maquinar uma forma de ter alguma serventia. Na madrugada lenta só pensa em deliberar sobre algo, em ter a sensação de utilidade. Imagina alguém implorando por uma canção, de modo que pudesse furar todos os prazos de entrega, como fazem os carpinteiros, os encanadores, pedreiros, jardineiros, técnicos de computadores, médicos, dentistas, advogados e prestadores de serviço em geral. Tem um tipo de devaneio como o da "Jenny dos piratas" de Bertolt Brecht e Kurt Weill que, ao limpar as mãos no avental inspirava a convicção de que um dia seria arrebatada por um navio de sedutores cinquenta canhões.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Em seu desejo de ser tão necessário, o compositor toma uma atitude concreta e serra as pernas da mesa e o braço do violão para fazer uma mesa de centro de sala para a festa de aniversário dos filhos. E confessa: "Fiz tudo com consciência / Paciência e determinação / Com a ciência de um bruxo / Num ritual de mutilação / Movido por um impulso / Que gritava dentro de mim / Preciso cometer um ato / Com começo, meio e fim" (Serrei as pernas da mesa, faixa 5, p. 15). À noite, os convidados fazem comentários elogiosos ao móvel... "E la nave va", nesse enredo feliniano que dá sobrevida à criatividade nesse funeral que pode até parecer, mas certamente não é da literatura nem da arte.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<div style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; text-decoration: none;">
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;"></a><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</a></div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-27991766343529652722012-09-28T08:24:00.001-07:002012-09-28T08:24:38.552-07:00Família e consumo no cubo de Rubik (Final) - 30/09/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmNmJIJKJ1svzor2hhHG_kMMx2SE3SPFgkK7nbFtM7J0oi_eQ4dUGQneZh5RmxiLVhzyO_1rRskNKYsGtAl61YqKccS1MhKY9F53d3SNQnSJyqUpQy25AzXimpd4R7vn-PLrptJUiUEEM/s1600/cubo-magico-rubik-3x3x3-cubo-magico-rubik-3x3x3_MLB-O-227128253_4902.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmNmJIJKJ1svzor2hhHG_kMMx2SE3SPFgkK7nbFtM7J0oi_eQ4dUGQneZh5RmxiLVhzyO_1rRskNKYsGtAl61YqKccS1MhKY9F53d3SNQnSJyqUpQy25AzXimpd4R7vn-PLrptJUiUEEM/s1600/cubo-magico-rubik-3x3x3-cubo-magico-rubik-3x3x3_MLB-O-227128253_4902.jpg" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;">Na coluna da quinta-feira passada recorri à figura do cubo de Rubik – aquele quebra-cabeça colorido e tridimensional, conhecido como “cubo mágico” – como metáfora da educação para o consumo, do ponto de vista da intervenção familiar. Entendendo que cada família tem o seu próprio jeito de refletir e de lidar com a questão, e convicto da necessidade de troca dessas experiências, tomei a liberdade de contar um pouco de como lancei mão das nove peças que formam o lado da família nesse “cubo mágico”, tratando inicialmente da pedagogia do “Acolhimento”, dos “Jogos” e da “Narrativa”. O assunto segue hoje em breves relatos das demais “pedagogias” e nas considerações finais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 4: Pedagogia da ARTE – Um dos pontos que tornam as crianças mais frágeis diante do ataque da publicidade é a falta de chance da experiência estética. As alternativas ao lixo da massificação dependem de um esforço extra da família para serem acessadas, adquiridas e assimiladas pelos filhos. Em um mundo onde a criatividade e a inovação ganham dimensões estratégicas sociais e econômicas, a precariedade dos parâmetros estéticos é um limitante do desenvolvimento individual e coletivo. Um dos recursos que funcionam muito bem com os nossos filhos é o da escolha separada para a curtição conjunta. Isso vale para literatura, cinema e música. No som do carro, por exemplo, cada qual escolhe um CD e, em rotatividade consentida, todos escutam a preferência do outro, dando ensejo a uma rica troca de influências.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 5: Pedagogia do LETRAMENTO VIRTUAL – No mundo social virtual é comum a sobrecarga de informações e a constrangedora pressão de consumo de novos equipamentos e aplicativos como obrigação social. A vivência excessiva nesse mundo tende a ampliar a agilidade mental e a aumentar a capacidade de processamento de informações no cérebro do usuário, mas, além de produzir efeitos bioquímicos semelhantes aos das drogas, reduz o nível de empatia, afeta a memória de longo prazo e compromete a formação da consciência. Na tentativa de aproveitar o máximo das maravilhas da evolução da internet e das tecnologias digitais, criamos em nossa casa duas regras básicas: 1) não devemos expor nos logradouros públicos e nas áreas privadas do cyberespaço o que não estivermos confortáveis em mostrar na realidade física; 2) assim como no mundo social físico, a vida virtual tem anonimato relativo e precisa de experiências subjetivas que só podem ser desenvolvidas com tempo para o ócio e para o devaneio.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 6: Pedagogia da OFICINA – A maneira mais contundente que encontramos para dizer aos nossos filhos que a vida de estudante deles tem valor de fato, foi criando em casa um mesmo ambiente de produção para adultos e crianças. Assim, montamos um escritório com bancada de quatro estações de trabalho e equalizamos a importância do que fazemos com as tarefas escolares deles. É uma oficina da casa, onde podemos nos ajudar mutuamente nos nossos afazeres. Em muitas circunstâncias, quando estou escrevendo, escuto a voz dos meus filhos dizendo que algo não está claro ou sugerindo que eu troque determinada palavra. E as sugestões deles são sempre consideradas, seja com alterações ou com esclarecimentos. Eles fazem isso com o intuito de contribuir, da mesma forma que a mãe deles e eu temos a liberdade de comentar o que eles fazem, sem qualquer receio de intromissão (Embora, claro, nem sempre sejamos considerados).</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 7: Pedagogia da VIAGEM – Esse recurso educativo familiar é um dos meus preferidos. A definição do destino, a arrumação das coisas e a intensificação da convivência por um determinado período é fundamental para ampliarmos o conhecimento um do outro, em zonas de comportamento que no cotidiano não temos a oportunidade de transitar juntos. Procurar novidades a partir de nós, mas estando em outro lugar, é participar um pouco de realidades distintas, sentir como outras pessoas vivem e observar como, por terem outros traços culturais, encontraram soluções diferentes para as mesmas necessidades humanas que temos. Nas nossas viagens sempre priorizamos a fotografia na captura de imagens. Diferentemente da filmadora, a máquina fotográfica facilita o treinamento do olhar; com ela tende-se mais a escolher o objeto a ser fotografado. Depois de cada viagem costumo sentar com o Lucas e o Artur para fazer o jornal "Aventuras", que está na trigésima edição e completará dez anos em 2013.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 8: Pedagogia da DESCOMPRESSÃO – O patrocínio da "pedocracia", como o poder da criança acima da autoridade dos pais e dos professores, é uma das mais poderosas táticas da ideologia do consumismo. No "cubo mágico" da educação para o consumo, a atitude de construção de alternativas simbólicas a essa situação prática é um dos movimentos mais difíceis de serem feitos pelo lado da família. Para romper com essa condição de permanente estresse social causado pela busca da felicidade no objeto, a experiência mais bem estruturada que realizamos na infância dos nossos filhos é a Festa do Saci, na qual eles e os amigos podem se divertir em brincadeiras de suspensão da lógica consumista cotidiana, como um exercício imaginativo de desestabilização do estabelecido. Buscamos o alívio da pressão do consumismo também em outras práticas do sentido contrário, tais como o esforço para estarmos juntos na hora das refeições e a priorização do Deus amoroso nas orações antes de dormir.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Peça 9: Pedagogia da EMANCIPAÇÃO – Não há uma única fronteira entre a proteção e a emancipação dos nossos filhos. Na educação familiar para o consumo esse é um ponto crítico que traz em si indagações sobre os limites do cuidado excessivo e da autonomia forçada. Para conduzir essa questão propus na nossa casa a metáfora do ninho e da árvore esgalhada. Da varanda do prédio olhamos para as ruas e avenidas que deu para a vista alcançar e fomos comparando cada via com os galhos das árvores. E fui falando que primeiro eles andariam na rua apenas do mesmo lado da calçada, depois passariam de fase e poderiam atravessar o asfalto; em outro momento mudariam de rua até cruzarem bairros etc. Já tivemos um dia para andar de ônibus e ainda insistimos em circular de bicicleta pela cidade. Esta referência de preparação para o uso da cidade vale para qualquer evolução de liberdade física, moral e intelectual.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Assim como temos nos esforçado para praticar essas pedagogias derivadas da vontade de acertar na criação dos filhos, cada família naturalmente vai inventando seus modos de educar para o consumo. A título de ilustração, defini dez juízos aparentemente lógicos do chamo de falsas verdades do consumismo, instaladas em maior ou menor intensidade no nosso senso comum: 1) a autonomia dispensa liberdade e direito; 2) quem é nativo digital é mais inteligente; 3) o cybermundo prescinde do mundo concreto; 4) para participar basta clicar; 5) para ser feliz na web não precisa ser feliz; 6) o conhecimento é desnecessário para o sucesso; 7) ser bem-sucedido é uma questão de esperteza; 8) não há sucesso sem droga química ou psíquica; 9) a autoajuda dispensa a espiritualidade; e 10) nunca a realidade esteve tão complexa.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">As articulações educativas para a vida em sociedade, feitas na dinâmica das nove peças do lado da família no cubo da educação para o consumo, passam diretamente pelas peças do mundo escolar, das mídias, do social físico, do social virtual e da espiritualidade. O êxito de cada giro, de cada acoplamento, de cada combinação de cores está sempre associado ao eixo mágico que permite a consciência e o discernimento mais profundo, que é a cultura. Essas pedagogias são contranarrativas cotidianas com as quais pretendemos aprender a "desaprender", a informar, formar, "desenformar", sentir, evocar, encantar e socializar a ideia de que viver é muito mais do que consumir.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<div style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; text-decoration: none;">
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;"></a><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</a><span style="line-height: 20.28333282470703px;"> </span></div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-49865246264529543272012-09-20T09:19:00.003-07:002012-09-20T09:19:49.668-07:00Família e consumo no cubo de Rubik (I) - 20/09/2012<div style="text-align: justify;">
Todo mundo conhece o popular "cubo mágico", aquele quebra-cabeça
colorido e tridimensional. O nome de batismo dele é Cubo de Rubik porque
foi inventado por Ernö Rubik, um professor de design da Academia de
Artes de Budapeste (Hungria). Como todo cubo, o de Rubik tem seis lados
e, na sua versão mais comum, cada lado é dividido em nove peças
articuladas (3x3x3), que podem ser giradas livremente, criando diversas
possibilidades de configurações em cada um dos lados, desde o
agrupamento em peças com variadas cores até a composição com todas as
cores iguais.<br /><br />Tomei a figura desse brinquedo como uma metáfora da
educação para o consumo, do ponto de vista da intervenção familiar.
Cada lado do cubo representa, nessa minha ilustração, uma instância de
relacionamento da família nas suas práticas parentais educativas: o
mundo escolar, o das mídias, o social físico, o social virtual e o da
espiritualidade. O eixo "mágico" que permite o entrelaçamento desses
seis mundos no cubo da educação é a cultura. E assim, o bloco inteiro
pode ser movimentado, ora na vertical, ao dizer "não", e ora na
horizontal, quando diz "sim".<br /><br />Educar para o consumo é criar
condições para o entendimento e a convivência crítica com as "verdades"
efêmeras, comuns em uma sociedade contagiada pelo consumismo e suas
falsas ofertas de ideal de felicidade. Como quem busca encontrar novas
combinações de cores no "Cubo de Rubik", organizei alguns exemplos de
como a função simbólica e orientadora da família pode contribuir para
contornar essa situação causadora de tantos problemas físicos e
psíquicos no mundo contemporâneo, e os inclui na palestra "A Família na
Educação para o Consumo" que farei às 19:30, do próximo dia 26, para
pais da Educação Infantil e do Ensino Médio do Colégio Santa Cecília, em
Fortaleza.<br /><br />Em que pese a negligência social com relação à
vulnerabilidade da função estruturante da família no seu processo de
adaptação e de reinvenção de laços afetivos, não podemos esquecer que
cerca de 70% dos lares brasileiros têm filhos, sendo, em números
redondos, 50% de casais e 20% de famílias monoparentais. Sem contar que o
levantamento dos "Arranjos Familiares Residenciais" (Censo Demográfico
do IBGE - 2010) não contempla filhos que vivem na condição de guarda
compartilhada. A expressividade desses percentuais confere destaque
especial ao papel da família (na configuração que for) no bloco de
articulações educativas para a vida em sociedade.<br /><br />A situação da
família é muito delicada. Não é fácil lidar com a pressão consumista que
chega a todo momento, de todas as formas e de todos os lados: o clipe
de meninas de avental e peruca rosa, imitando as "empreguetes" da novela
"Cheias de Charme" (TV Globo) teve mais de dez milhões de acessos no
YouTube; como se não bastasse o comércio de sutiãs com enchimento,
lingerie, sapato alto, blush, batom, brilho labial e esmalte para
crianças, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está com
uma consulta pública aberta para liberar a venda de sombras infantis; e o
palhaço do McDonalds continua solto, fazendo apresentações "gratuitas"
em creches, escolas, orfanatos e hospitais, com "mensagens educativas",
enquanto o Ministério da Saúde e a Fenep (Federação Nacional das Escolas
Particulares) começa a distribuir uma cartilha estimulando a venda de
alimentos saudáveis nas cantinas escolares.<br /><br />Esses exemplos
caracterizam bem as dissonâncias cognitivas que precisam ser trabalhadas
por mães, pais e cuidadores em um cenário de pulsões desejantes
indefinidas e de encantos insaciáveis, que levam à ansiedade, à
agressividade e à depressão. A contribuição da família na realização do
equilíbrio emocional e social das crianças e dos adolescentes passa pela
compreensão do motivo que leva as pessoas a terem filhos, pela
aceitação de que eles precisam ser embalados, acariciados e estimulados a
amar o mundo em suas contradições, e por ações que deem materialidade à
razão de ser familiar.<br /><br />Cada família tem o seu próprio jeito de
refletir e de lidar com essas questões. A troca de experiências
torna-se, portanto, fundamental à reconstrução do valor simbólico da
vida familiar no mundo do consumo. Deste modo, tomo a liberdade de
contar um pouco de como lancei mão das nove peças que formam as cores do
lado da família na analogia que fiz com o "Cubo de Rubik", para
desenvolver métodos de sentidos e sentimentos, porque acho que as noções
de bússola e de sensibilidade são mais eficazes do que a racionalidade
na educação para o enfrentamento do consumismo. As nove peças que
simbolizam essa pedagogia familiar empírica não se baseiam na renúncia
ao prazer e, sim, na fuga das obrigações de usufruir o desnecessário.<br /><br />Peça
1: Pedagogia do ACOLHIMENTO - Como primeiro exercício de educação para o
consumo, procuramos não seguir as caracterizações tradicionalmente
indicadas para quarto de bebê. Embora com todos os toques de preparação
de um cantinho para quem é esperado, nossos dois filhos não chegaram
apenas em um quarto, mas em um lar, com cores e decorações próprias e
integradas. Para cada um, compus dez músicas infantis e eles nasceram
ouvindo esse repertório em primeira mão. E criamos a sigla F.A.L.A.
(Flávio, Andréa, Lucas e Artur), como uma forma bem particular de nos
reconhecermos numa unidade de diálogo.<br /><br />Peça 2: Pedagogia dos
JOGOS - O oferecimento de várias opções de modalidades de esportes, sem
cobrança de desempenho, tem sido um dos nossos esforços para estimular o
gosto pela atividade física e para combater a tendência de reclusão
forçada pela atração das telas. Chegamos a inventar um "Futebol de
Sala", de um contra dois. Quando eles cresceram mais, passamos a
frequentar o estádio, indo tanto para jogos do Fortaleza quanto do
Ceará, a fim de que eles decidissem o time de suas preferências. Com a
opção dos dois pelo alvinegro, a experienciação do ato de torcer e da
psicologia da multidão ganhou regularidade e, na arena, eles podem dizer
palavrões e comer todo tipo de alimento que se vende em estádio. Sou
também coadjuvante no videogame e em jogos de tabuleiro, como o
Monopoly, em que a F.A.L.A. se junta aos amigos deles para uma diversão
que dá a oportunidade de sentir e refletir sobre a perversidade da
riqueza concentrada.<br /><br />Peça 3: Pedagogia da NARRATIVA - A
descoberta do hábito de leitura começa em casa, com a intimidade do
contato com livros de pano, livro de plástico para ler no banheiro e com
a regularidade da leitura na hora de dormir. Histórias para sentir
sempre são mais interessantes do que para entender. O que a criança
precisa perceber é que a vida é uma grande narrativa e que a narrativa é
parte indissociável do humano. Quando leio para os meus filhos ou
quando vejo que eles notam que seus livros estão nas principais
prateleiras da sala, a sensação que tenho é que tudo isso sugere
significado e direção, fascínio pelo cotidiano e grandeza pela vida.<br /><br />Quando
a interpretação do mundo nasce de dentro de nós, de dentro da nossa
cultura, estamos supostamente mais preparados para discernir a fabulação
da publicidade e da propaganda em nossas vidas. (Continua na próxima
quinta-feira, dia 27/09/2012).<br /><br /><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/">www.flaviopaiva.com.br</a> <br />
</div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-17861301654476364472012-09-13T04:52:00.000-07:002012-09-13T04:52:24.480-07:00Socioeconomia da cultura em 4D - 13/09/2012<div style="text-align: justify;">
O anúncio do pacote de investimentos de R$ 118 milhões na economia da
cultura no Ceará, feito pelo governador Cid Gomes por ocasião da
inauguração do Teatro Carlos Câmara, no dia 5 passado, foi um momento
luminoso e inquietante para quem acredita que o potencial de realização
de uma gente passa necessariamente pela força transformadora da sua
vivência cultural. Foi também um sinal positivo de que a estratégia de
desenvolvimento do estado contempla a criação de uma base de pensamento
criativo e disruptivo, fundamental para a elevação do nosso poder
comparativo e competitivo no médio e no longo prazos.<br /><br />A fábrica
clássica, que trata as pessoas como recursos de produção, e o
capitalismo laissez-faire, que levou o planeta à exaustão de recursos
naturais não renováveis, não são mais necessariamente sinônimos de
progresso. O conceito de mercado e de mercadoria está mudando e o
intangível, o renovável, o conteúdo artístico e cultural assumem o posto
de matéria-prima mais cobiçada da economia pós-crescimento. Neste
cenário em fase de configuração, os valores determinantes para o
financiamento do setor cultural vão além dos interesses corporativos e
da corrida dos governos pela fermentação da riqueza concentradora.<br /><br />Dentro
de um pensar grande e de uma olhada para o alto e para longe - e
acredito que o governador Cid e o secretário da cultura, Professor
Pinheiro, estão pensando e olhando assim - impõe-se uma nova ordem à
nossa dinâmica de desenvolvimento, com perspectiva para o intercâmbio
discursivo e prático entre economia e cultura. Abre-se um espaço para a
esperança de uma política cultural com governança democrática, o que
sugere o aproveitamento do melhor da evolução tecnológica para trabalhar
a cultura como um diferencial local no jogo global multipolar. E isso
requer que nos conheçamos, nos curtamos e nos respeitemos em uma nova
lógica política, que passa por quatro dimensões culturais complementares
e interligadas, que estou chamando de Cultura em 4D:<br /><br />1) A
primeira dimensão é: "Cultura para o lugar onde a vida acontece"
(bairro, cidade etc). Nesta dimensão, o poder público prioriza a
população, e não os produtores culturais, com programas
preferencialmente realizados em parcerias dos órgãos de cultura com a
EDUCAÇÃO, envolvendo as crianças e as famílias, promovendo o
desenvolvimento de habilidades relativas às formas de manifestações
culturais, a economia interna e o que de melhor existir nas artes e na
literatura, para o refinamento técnico e estético.<br /><br />2) A segunda
dimensão é: "Cultura para quem faz cultura". Nesta dimensão, cabe ao
poder público estabelecer parcerias com agências de apoio ao
EMPREENDEDORISMO, que facilitam, dentre outros, o acesso a instrumentos,
o incentivo à criação e à produção local, a capacitação para o
entendimento de como elaborar e viabilizar um projeto, informações
comentadas sobre editais públicos e privados, estímulo a criações
individuais e coletivas e orientações de financiamentos formais e
colaborativos (crowdfunding).<br /><br />3) A terceira dimensão é: "Cultura
de trocas". Nesta dimensão, a tarefa do poder público é somar força com
as instituições da SOCIEDADE voltadas para a difusão cultural, de modo a
contribuir para o apuro do nosso posicionamento com relação às
tendências contemporâneas móveis e estacionárias, físicas e virtuais,
por meio de aproximações, exercícios de improvisações, conversas com
quem abriu trilhas exitosas, enfim, fazendo conexões entre bairros,
cidades, estados e países, ampliando formas de sentir e de expressar o
mundo.<br /><br />4) A quinta dimensão é: "Cultura para quem chegar". Nesta
dimensão, o parceiro natural da cultura é o TURISMO. Trata-se de ofertar
respostas da nossa criatividade, imaginação e habilidade fazedora a
quem escolhe o Ceará como destino de viagem. O jeito de acolher, de ser,
de fazer negócios e de contar do que somos, em expressões de design, da
culinária, das artes, da literatura, da moda, do artesanato, da
arquitetura e da comunicação, soma-se às atrações naturais de litoral,
serra e sertão, para abraçar essa atividade econômica, que, como mercado
trans-setorial, apresenta os mais altos índices de crescimento no
mundo.<br /><br />Para ser eficaz, a socioeconomia da Cultura em 4D
necessita de uma nova ordem organizacional, capaz de superar as
restrições impostas pelo velho modelo concentrador aos vasos
comunicantes responsáveis pela saúde do corpo social. Somente o poder
público, exercendo o seu papel de regulador dos diversos interesses da
coletividade, tem condições objetivas de abrir cenários radicalmente
distintos para a construção de uma rede de contatos, de trabalho e de
comercialização de bens e serviços culturais, livre de atravessadores
indesejáveis. Refiro-me aos indesejáveis, porque é importante que
existam os desejáveis empresários da cultura, aqueles que são capazes de
desenvolver bons conceitos de negócios e de se estabelecerem por
mérito.<br /><br />Com a inclusão da cultura no circuito superior da criação
de valor e diferenciação com impacto social e econômico, o Ceará pode
estar inaugurando uma nova fase de pensamento estratégico. Está,
portanto, mais do que na hora da criação de um ambiente virtual para
realizações concretas; um espaço de nuvem onde tudo possa estar
visivelmente interligado, facilitando o movimento de criação, confecção e
comercialização dos nossos produtos e serviços culturais. Um lugar onde
a cearensidade pudesse se pronunciar de forma viva e atemporal; um
instrumento que poderia ser desenvolvido com uma metodologia de fácil
navegação e de fácil abastecimento de informações.<br /><br />Ao poder
público cabe a obrigação de gestão integrada do nosso manancial de
conteúdos. Isso poderia ser muito bem efetuado com a criação do que se
poderia chamar de Portal de Oportunidades Culturais; uma plataforma de
dinamização do tipo "wiki", capaz de quebrar barreiras e superar lacunas
históricas, horizontalizando ofertas e demandas, onde todos pudessem
postar referências de seus trabalhos, contatos e opções de uso liberado e
venda. Dá para fazer isso com uma estrutura enxuta, ágil, com
auxiliares técnicos que facilitassem a alimentação dos espaços e um
comitê de moderadores para conferir se está tudo certo e para evitar
qualquer hipótese de uso indevido da ferramenta.<br /><br />Com esse portal,
parte dos editais poderia ser direcionada à produção de conteúdos para a
sua própria alimentação: produção de imagens de qualidade, textos,
digitalizações de acervos, pagamento de Direitos Autorais, produção de
documentários e entrevistas com quem produz cultura no Ceará e obras de
domínio público. Tudo com proposições de sentido para facilitar a
postagem e a localização, com palavras-chave e buscadores por temas,
nomes, categorias, enfim, todo tipo imaginável de passagem. Mais do que
dar impulso à economia, assegurar a justiça cultural é um dos caminhos
possíveis para nos tornarmos uma sociedade com melhores índices de
bem-estar e qualidade de vida.<br /><br />Investir na socioeconomia da
sensibilidade e da inteligência individual e coletiva, aproveitando os
benefícios da evolução tecnológica digital, pede um modelo duplo de
gestão oficial da cultura: a) a regulação do fluxo em rede das
oportunidades, deixando o êxito comercial com a competência de cada um e
dos coletivos; e b) o investimento direto na sistematização, definição e
disseminação do patrimônio comum, assumindo a responsabilidade de
pensar o todo e pela definição de um conceito de lugar. A cultura ajuda a
olhar, a se ver e a ver os outros, por isso, o acesso livre a bens
culturais é um direito e uma necessidade social, proporcionador de
ganhos imensuráveis para a vida, com significativos efeitos econômicos.<br /><br />www.flaviopaiva.com.br<br />
</div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-53266973511577115402012-08-30T19:37:00.001-07:002012-08-30T19:37:26.697-07:00Reencontro com Anna Torres - 30/08/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfgwwiyQw71RDvWO-HlHifrh55OOAx7D6McJzUejOdBYblB4pAyvfUWc8TmDkaTNul_CWBexVBC784t94M25V_vFRgSRqxqsLxqRblzkTHxzDqZzutFJiXyfM2EMjxVrTo3o_F7bDQDu4/s1600/annatorres11111.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfgwwiyQw71RDvWO-HlHifrh55OOAx7D6McJzUejOdBYblB4pAyvfUWc8TmDkaTNul_CWBexVBC784t94M25V_vFRgSRqxqsLxqRblzkTHxzDqZzutFJiXyfM2EMjxVrTo3o_F7bDQDu4/s320/annatorres11111.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;">Há pessoas que temos a alegria de conhecer e que, mesmo vivendo longe, não deixam de fazer parte da nossa vida. A cantora Anna Torres é uma dessas pessoas que eu conheci e que fiquei com a certeza de que havia conhecido alguém. Fizemos muitas coisas juntos, desde parcerias musicais até um disco peterpanamericano, intitulado "Terra do Nunca", com arranjos do Paulo Lepetit, o baixista da Isca de Polícia, a banda do lendário Itamar Assumpção.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Mas ela, como a tartaruga Manuelita, de Maria Elena Walsh, foi embora para Paris. Correspondência vai, correspondência vem, até que um dia deu certo o nosso reencontro. Depois de quinze anos, Anna está em Fortaleza novamente, cumprindo uma série de shows da sua turnê de lançamento do CD "Divas", no qual reverencia grandes cantoras do jazz e da música brasileira, gravado no "Petit Journal Montparnasse", um destacado clube de jazz parisiense.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Tenho acompanhado o trabalho da Anna Torres no seu esforço de construção de uma carreira internacional. Vez por outra ela me atualiza das apresentações que faz constantemente na França, mas também em países como o Marrocos, a Tunísia, nos Emirados Árabes, na Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. Recordo de um dos e-mails que ela me enviou em 2009, quando estava grávida da Marianna: com figurino branco, descalça e umbigo de fora, ela estreava a filha no teatro da Universidade Sorbonne (Paris V), com participação especial de batuque e capoeira, num espetáculo que se chamou "noite branca com Anna Torres".</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">No primeiro momento do nosso reencontro em Fortaleza ela me mostrou com ternura as fotos da Marianna, com quase três aninhos, na casa da avó, com quem está passando as férias na Itália. Como boa nordestina, Anna deu à filha um nome composto pelo nome do pai, Mário, e pelo seu, Anna. Como bom "tio" posso dizer que tenho uma responsabilidade nisso também, pois antes de fazermos o disco "Terra do Nunca", a Anna assinava apenas "Ana", com uma só letra "ene". Foi na construção do projeto, no desenrolar das nossas conversas, que ela decidiu colocar dois "enes" entre os dois "as".</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Anna Torres segue uma trajetória que se aproxima da que foi construída por sua conterrânea, a cantora e pianista Tânia Maria, diva do jazz internacional, que foi para Paris em 1974, depois morou mais de quinze anos nos Estados Unidos e, em 1996, voltou à capital francesa. Ambas cantam emocionadas, com todo o corpo, com a alma, com o dom do improviso, com instinto e técnica. Tânia Maria é inclusive uma das grandes intérpretes reverenciadas por Anna no CD "Divas", ao lado de Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Edith Piaf, Elis Regina, Sarah Vaughan e Janis Joplin.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Em junho passado ela me falou por telefone que faria Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão, com o repertório do "Divas". Ficou aquela indagação no ar: "E por que não o Ceará?" Sei que Anna Torres é uma cantora eclética, capaz de brilhar com um baião ou um samba, mas fiquei curioso com o conceito desse novo disco, onde ela canta músicas como "Night and day" (Cole Porter), "Fever" (Otis Blackwell), "Upa Neguinho" (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri), "Bala com bala" (Aldir Blanc / João Bosco), "Yatra Ta" (Tânia Maria), Summertime (George Gershwin) e "Ilha dos Amores" (Anna Torres / Saul Gutman), uma espécie de soul-bumbá que ela compôs para a festa de 400 anos da cidade de São Luís do Maranhão, fundada pelos franceses em oito de setembro de 1612.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Provoquei o poeta Alan Mendonça e ele aceitou assumir a produção dos shows da Anna no Ceará, juntamente com Lilian Alves e Jô Sousa, da Radiadora Cultural. O chef Faustino, que há quinze anos apoiou a turnê "Terra do Nunca", recebeu a Anna com acolhimento de bom cearense em seu novo restaurante, da rua Bauxita, no Mucuripe. A realização ficou aos cuidados da Diz, empresa da musicista Izaíra Silvino.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Assim, e com o acompanhamento de músicos locais, a cantora maranhense abriu os dias de Ceará ontem (29/08), no bar Novos Poetas, e continua hoje e amanhã (30 e 31/08) no Sesc-Iracema. No sábado (01/09) sobe a serra e canta no restaurante Basílico, em Guaramiranga, e encerra sua circulação pelo território musical cearense, participando domingo (02/09) de um descontraído sarau com o coletivo "Bora! Ceará Autoral Criativo", no Passeio Público. Ela demorou a voltar, mas chegou com várias opções de datas para o público rever e reouvir seu canto poderoso e suingado.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Conheci a Anna Torres em 1995, em São Luís, por ocasião do Festival Canta Nordeste, que era realizado pela Rede Globo na região, quando o Ricardo Black ganhou o prêmio de melhor intérprete, com a música "Latitude", parceria minha com Tato Fischer. Fiquei impressionado com a biomusicalidade da Anna Torres, com voz potente e seu gosto pelo cantar. Consegui o contato dela com o amigo e compositor Josias Sobrinho, autor de "Engenho de Flores" e outros tantos sucessos da música maranhense. Daí, surgiu a ideia de fazermos um trabalho experimental (Terra do Nunca), no qual pudéssemos expressar o que havia de convergência estética urbana entre um compositor do sertão do Ceará, uma cantora da faixa amazônica do Maranhão e um músico do interior de São Paulo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Foi uma farra de liberdade criativa e desobrigada, esse ensaio de Música Plural Brasileira. O disco, que teve produção executiva da cantora Mona Gadêlha e de Rosely Lordello, contou com a participação de figuras especialmente agregadoras em sensibilidade, emoção e qualidade artística, como o trombonista Bocato, o guitarrista Lanny Gordin, o percussionista Gigante Brazil, o pianista Daniel Szafran, o rapper Rica Cavemam, o físico indo-paquistanês Harbans lal Arora e a iogue indiana Ved Kumari Arora. No meio das feras ela mostrou que era uma delas e topou gravar a voz no nível da banda e não com a banda servindo à intérprete. O resultado foi uma boa surpresa para mim, pela garra e pelo potencial artístico da Anna.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Em vários momentos pude constatar que ela era cantora de estúdio e de palco, de técnica e de emoção. Por ocasião dos shows que fizemos, lançando o "Terra do Nunca", eu sempre ficava admirado com a desenvoltura dela. Foi assim nas ruas do bairro Aerolândia, no bar The Wall; no aconchego do Sindbar, do Sindicato dos Jornalistas; no salão animado do Domínio Público, na Praia de Iracema; no ruge-ruge do projeto "BEC Seis e Meia", no anexo do Theatro José de Alencar; e na quadra de esportes da "Broadway", na praia de Canoa Quebrada, show que contou com a participação da cantora paulistana Vange Milliet.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.28333282470703px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 20.28333282470703px;">Não estou contando tudo isso por saudosismo, a minha intenção com esse rápido flashback é juntar as pontas de dois momentos unidos por quinze anos de duas passagens de uma artista pelo mesmo lugar e fazer a devida saudação ao que em Anna Torres me parece permanecer entre o experimentalismo pop do "Terra do Nunca" e a predominância jazzística do "Divas", que é o valor artístico e o espírito indomável dessa guerreira cafuza; a menininha Ana Maria Lopes Torres, que nasceu em Lago da Pedra, nos confins do Maranhão, que um dia sonhou ser cantora e fez por onde merecer o seu sonho.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20.266666412353516px;"><br /></span></div>
<div style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify; text-decoration: none;">
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;"></a><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/" style="border: 0px; color: #09824e; line-height: 20.28333282470703px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;">www.flaviopaiva.com.br</a><span style="line-height: 20.28333282470703px;"> </span></div>
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-20667621425621270662012-08-23T12:01:00.000-07:002012-08-23T12:01:53.076-07:00Samba do Criolo safo - 23/08/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0EAm8YrFLcFhvRkhk1siedzSoR0nyFHZtbWa7skA_P27LywzofE-2jimO433X3y2quFeIcL_LUTTXT0Nlie2ys2Pnl0gMb65Y2HSMrsDM8JfDZ8Dn5U2TjWYToD5X7CGG619XNLDZMqo/s1600/32027766885209c7a811f76520f19704.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0EAm8YrFLcFhvRkhk1siedzSoR0nyFHZtbWa7skA_P27LywzofE-2jimO433X3y2quFeIcL_LUTTXT0Nlie2ys2Pnl0gMb65Y2HSMrsDM8JfDZ8Dn5U2TjWYToD5X7CGG619XNLDZMqo/s1600/32027766885209c7a811f76520f19704.png" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi mais de um ano de espera para ver uma apresentação do Criolo em
Fortaleza, depois que passei a ouvir com frequência e admiração o seu
disco "Nó na orelha" (Matilha, 2011). Fico imaginando o quanto não foi
demorado para ele só poder se apresentar na terra dos seus pais, depois
de mais de duas décadas de atuação como artista de rap. Fato
injustificável à parte, quem foi assistir ao show "Na batida do
Criolo", na sexta-feira passada (17), na Guarderia Brasil, Praia do
Futuro, viu que a espera não foi em vão.<br /><br />Criolo naturaliza o rap
como fator cultural no Brasil, inserindo-o no campo da música plural
brasileira pelo sentido de pertencimento, sem perder as características
que o universalizaram como estética dos apartados, marcada por batidas
de refrão e embolada-urbana, que desconsertam (com "s") e concertam
(com "c") expectativas de ritmo e narrativa de uma sociedade
positivamente mestiça e negativamente desigual. Criolo é fruto dessa
trama da mistura na sua diversidade singular; é filho do Brasil real.<br /><br />O
CD "Nó na orelha" representa a materialização do processo de
amadurecimento antropofágico do rap brasileiro; a música como
plataforma ética e poética da adversidade, seus aspectos psicológicos e
filosóficos, pela força do significado da palavra e não pela
agressividade da entonação. Criolo conseguiu essa reversão sem
somatizações ou atitudes antissociais. Em seu trabalho, a arte se
pronuncia em um campo de significados de atitudes, a partir do seu
núcleo crítico comunitário e da sua memória cultural. Ele foi a letra
"C" do abecedário da música plural brasileira que publiquei neste
Diário (8/3/2012), como síntese das trilhas sonoras do meu cotidiano.<br /><br />A
propósito, as músicas do filho do casal Cleon e Vilani têm sido
intensamente escutadas na nossa casa também pelos nossos filhos. Tanto
que, mesmo a apresentação tendo sido bem tarde da noite, fomos todos,
levando máquina fotográfica e a capa do disco para ser autografada.
Valeu a pena. No palco, vimos um artista sensível, com sua dança de
corpo jogado em gestos firmes e amorosos; um jeito especial de
interpretar o mundo e de se ver dentro dele. No camarim, vimos de perto
a grandeza da sua humildade, ora com o espanto de um passarinho que
percebe ser observado e, ora, abraçando os manos com a graça de quem
está transmitindo a segurança de que essa pegada tem valor.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNU6wr2axmgWof6AFyW4fLHpW0tkS2YBwW5mRCylSqPyMjF11Cvd0QRjg7z5NJbw8VjVRhfiEQ80CBsUVxGfi0jOptOiaoppcVgxGanUrzfJa_wLR1Q4Gn80HAKxkJFpuUYATHLamJ1K8/s1600/criolo11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNU6wr2axmgWof6AFyW4fLHpW0tkS2YBwW5mRCylSqPyMjF11Cvd0QRjg7z5NJbw8VjVRhfiEQ80CBsUVxGfi0jOptOiaoppcVgxGanUrzfJa_wLR1Q4Gn80HAKxkJFpuUYATHLamJ1K8/s320/criolo11.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A denúncia na arte de Criolo veste-se da vontade de embelezar o mundo.
Tem estética poderosa, narrativa sincera. Quando ele tem coragem de
falar no palco que usar drogas é uma roubada está dizendo que não tem
receio de patrulhamento. No bolero "Freguês da meia noite" conta a
história de um usuário de drogas que espera "a confeiteira e seus
doces" para comprar "furta-cor de prazer", mas depois de conseguir
meditar decide que "Dessa vez não serei seu freguês". E no rap misto de
maracatu, "Sucrilhos", passa nova mensagem: "Cocaína desgraça a vida de
um bom rapaz". Ele sabe que é na favela que essa história repercute de
forma mais trágica e sabe que nada pode ser mais careta hoje do que
fazer parte dos financiadores da violência por meio do consumo de
drogas.<br /><br />Criolo outorga à juventude uma perspectiva mais digna e
oferece seu som, sua voz, sua poesia em nome de um outro olhar, de
outro estilo de vida menos consumista, menos mentiroso. Com isso, ele
dá um chega para lá na desesperança e na fantasmagoria daqueles que
insistem em perturbar a juventude, para se aproveitarem do seu coração
utópico. Não tem essa de vida paralela para quem chegou ao mundo com
tantas limitações sociais e econômicas. Como dizia o Henfil, ele tem
mãe e quem tem mãe não tem medo. E tem pai, amigos, uma relação
familiar e uma vida comunitária modesta, mas intensa.<br /><br />Deixa
claro na letra do afrobeat-funkeado, "Bogotá" que desde pequeno sabe o
que é "brincar no precipício", que aprendeu que "quando uma pessoa lhe
oferece um caminho mais curto, fique atento, irmão". O grito de
indignação de Criolo é macio, porque ele tem a compreensão de que "cada
um sabe o preço do papel que tem", e profundo, para poder encarar as
frustrações da insanidade do egoísmo social com poesia e bombardear a
desigualdade com valores. Sabe da "força do verso" e da "rima que
espanca", como rasga no rap "Mariô", parceria com Kiko Dinucci, letra
que faz coro com a "Roda Viva" de Chico Buarque no esforço de ir contra
a corrente.<br /><br />Esse recurso de metacanção aparece bem utilizado
também no rap "Sucrilhos", como uma caricatura vigorosa da canção
"Índio", de Caetano Veloso: "Cartola virá que eu vi / tão lindo e forte
e belo como Muhammad Ali / cantar rap nunca foi pra homem fraco". Como
o "abraço pra ti / pequenina" que Caetano dá em "Terra", aludindo ao
baião "Paraíba", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Criolo canta o
orgulho da cor, do cabelo, do nariz e a felicidade de ser "índio,
caboclo, cafuso, crioulo", de ser brasileiro; o que Caetano vaticinara
em seus versos: "Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
(...) em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro / em sombra, em
luz, em som magnífico".</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1SG-kUvF0ikjQOKUaQEjL9aQ7frNdrak4G7ACxWjZ7N75OC7mxn6ZoGmzVdEMivnI295T5gtZ4smQerSpb4CmZaLkr2M3wIWgXoFuD55mbtwUOnpQRWg4TBOoKF9SPsJklDX2zcqIlPc/s1600/No-Na-Orelha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1SG-kUvF0ikjQOKUaQEjL9aQ7frNdrak4G7ACxWjZ7N75OC7mxn6ZoGmzVdEMivnI295T5gtZ4smQerSpb4CmZaLkr2M3wIWgXoFuD55mbtwUOnpQRWg4TBOoKF9SPsJklDX2zcqIlPc/s1600/No-Na-Orelha.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Criolo tem luz própria, mas nem por isso quer clarear sozinho. É um
poeta, um MC, com ideais de juventude e uma narrativa voltada ao que
chamo de "cidadania orgânica". Atento às motivações da espiritualidade
- apresentou-se com vestes brancas de candomblé - e foi além dessas
fronteiras, como no soul-canção "Não existe amor em SP", no qual afirma
que "Não precisa morrer pra ver Deus / Não precisa sofrer pra saber o
que é melhor pra você". Criolo não é gueto, Criolo é Mandela,
Gandhi..., alguém aberto às vozes que combatem desigualdades e
injustiças. Sua poética vocal tem um "criolês" de pregação de paz,
direitos iguais e orgulho dos ancestrais e pede para que ninguém baixe
a guarda porque "a luta ainda não acabou", conforme convoca no reggae
"Samba Sambei".<br /><br />"Grajauex" é um rap de ilustração com imagens
faladas do "x" da questão: "Duas laje é triplex / No morro os moleques
(...) o ouro branco, o pó mágico e o poder de um Rolex / Na favela, com
fome, atrás dos Nike Air Max / Os canela cinzenta que não tem nem
cotonets (...) Os irmão que tão com fome desce três marmitex / Sabão de
coco não é Pompom com Protex / E se jogo do bicho é contravenção, Mega
Sena é ilusão pra colar com durex (...) Atrás de um verdix pra mandar
por Sedex / Zona sul é o universo e os vagabundo é belezex"... Um
dialeto de sons do inconsciente, como diria Nise da Silveira.<br /><br />O
trabalho do Criolo recicla, reutiliza e reprocessa aspectos culturais
que, segundo Tom Zé, caíram do córtex (zona mais rica e sofisticada de
processamento dos neurônios) para o hipotálamo; deslocamento que ele
inventou de chamar de "lixo lógico" (Revista Bravo! nº 179, p. 24, São
Paulo, junho 2012). Tom Zé explica que o "lixo lógico" é tudo aquilo
que vai ficando de lado porque não parece inteligente de ser utilizado,
como ideia de valor social e cultural. Esse conceito aplica-se bem ao
trabalho de Criolo. Nele o rapper resgata e dinamiza o aprendizado das
suas raízes da música plural brasileira e a herança nordestina,
combinando tudo com o rap estadunidense, devolvendo o "lixo lógico" ao
córtex, produzindo originalidade, gerando o novo.<br /><br />Por não ser um
instrumentista, ele compõe como Patativa do Assaré, João do Vale e Dona
Ivone Lara compuseram, o que facilita para que sua música seja um ato
de liberdade de um saber oral e de uma compreensão de mundo que ecoa
compaixão, aflora identificações e suscita reflexões, contribuindo para
alargar a percepção de quem o escuta. Nesse samba do Criolo safo, o
"samba" é uma velha festa da cearensidade e o "safo" uma mistura de
espírito descolado com talento recitativo de Safo, a emblemática poeta
grega do século VII, abrigados na paródia de Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto), que ironizava a pressão em cima dos sambistas para
fazerem enredos com fatos históricos.</div>
<br /><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/">http://www.flaviopaiva.com.br</a>
<!-- /Conteudo -->
ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-4674629926328717142012-08-16T16:18:00.000-07:002012-08-16T16:18:48.219-07:00Na Dinamarca de Andersen e da Lego – 16/08/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBElhwWCGsqTRLg5h0-F8kqhTWqusJC5u95MYpJadJ52tFDZz9qAwUSefImgpSYVBsQiCbD7tKsy4smjOXWzEKHaES858pkKH1QcIV8o3mN9QFYELkyFkyF3BJia4Uo3IaRMjnCxc8G0/s1600/legoland-3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBElhwWCGsqTRLg5h0-F8kqhTWqusJC5u95MYpJadJ52tFDZz9qAwUSefImgpSYVBsQiCbD7tKsy4smjOXWzEKHaES858pkKH1QcIV8o3mN9QFYELkyFkyF3BJia4Uo3IaRMjnCxc8G0/s320/legoland-3.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Fui com a minha
família à Dinamarca com a intenção de celebrar a infância dos nossos filhos, o
Lucas com 13 anos e o Artur com 11. Queríamos vivenciar com eles um lugar com
reconhecida experiência de civilidade e que essa experiência tivesse base no
lúdico, como essência do humano. Assim, fizemos de carro alugado um corte
horizontal de leste a oeste no mapa dinamarquês, cruzando cenários
maravilhosos, numa viagem que durou do dia 30 de julho ao dia seis deste mês de
agosto, nas três principais regiões do país: as ilhas de Sjaelland e Fyn e a
península de Jutlândia.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Embora tenhamos
feito paradas rápidas em lugares como Roskilde, para conhecer a cidade do rock,
ver o museu de barcos vikings (Vikingskibhallen), com embarcações dos séculos X
e XI, e visitar a catedral gótica de tijolinhos vermelhos, onde estão
enterrados os reis e as rainhas da Dinamarca desde a Idade Média, nos
concentramos na capital Copenhagen (Sjaelland), em Odense (Fyn), a cidade natal
do escritor Hans Christian Andersen (1805 - 1875), e em Billund (Jutlândia),
onde nasceu a indústria da Lego e onde está localizada a sua fábrica sede, o
hotel e o parque Legoland.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Copenhagen é uma
cidade na qual dá gosto pedalar. As ciclovias têm paralelepípedo duplo, com
separação da calçada de pedestres e da via de automóveis. Circulamos de
bicicleta por quase toda a cidade, desde a estátua da Pequena Sereia, em um
canal de mar (Langelinje) até o bairro Nørrebro, onde fica o cemitério em que
está sepultado o corpo de Andersen, passando por Nyhaun, antigo porto
transformado em área de turismo, com restaurantes e saídas para passeios de
barco, onde Andersen morou durante vários períodos de sua vida, inclusive
quando se mudou para a capital com 14 anos.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">É uma cidade
muito bonita, agradável, movimentada, com uma arquitetura espetacular, na qual
se destacam prédios como o "diamento negro" da Biblioteca Real
(Kongelige Bibliotek) e a Casa da Ópera (Operaen). O respeito às áreas públicas
é uma marca que se soma ao seu caráter de importante centro urbano, com pouco mais
de meio milhão de habitantes (próximo de dois milhões na região metropolitana).
Nela, é comum a presença de lojas da Lego e de espaços com a figura e a obra de
Andersen. Bem em frente ao Tivoli, um dos parques temáticos mais antigos do
mundo, há uma grande estátua do escritor. Encontramos crianças brincando com
lego até na visita que fizemos à reserva Christiania, uma antiga área militar
de 30 hectares, ocupada pelos hippies em 1971, que tem autonomia econômica,
regras próprias.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Na estrada de
Copenhagen para Odense passamos por duas pontes, uma delas (Storebæltsbroen)
com 18 quilômetros de extensão, com torres de energia eólica construídas dentro
do mar. Odense é a terceira maior cidade da Dinamarca. Seu nome é uma homenagem
a Odin, um dos principais deuses da mitologia nórdica, o pai do poderoso Thor.
O dia estava chuvoso e chegamos a cidade contemplados por um belo arco-íris,
como se entrássemos no temperamento poético de um conto de Andersen. Adoramos a
cidade, sobretudo a Casa de Andersen (H. C. Andersens Hus), o museu, o lago e a
grama que a circunda, onde assistimos um teatro de histórias do célebre autor.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Andersen
conseguiu com sua ampla e consistente obra entrar para a galeria dos escritores
mais importantes de todos os tempos. Autor de 156 contos que se tornaram
clássicos por encantar crianças e adultos e que foram traduzidos em 160 idiomas
diferentes, dentre eles, A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo, O Patinho
Feio, O Pequeno Polegar, O Rouxinol do Imperador. Vimos em sua casa-museu, que
ele escreveu 14 novelas, uma 50 obras dramáticas, cerca de mil poemas, além de
biografias (inclusive a autobiografia O conto da minha vida), artigos e
pequenas peças humorísticas.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">O museu de
Andersen foi inaugurado em 1908, na casa em que o escritor nasceu. Em mais de
um século passou por muitas ampliações e hoje é um lugar com espaço de
referência cultural e turística da Dinamarca. Andersen viveu sua infância
naquela casa em uma época em que o rei era a lei, quando a maioria dos
dinamarqueses era pobre e analfabeta, numa Europa sofrida pelos efeitos das
guerras. Ele enfrentou tudo isso produzindo uma literatura de desconstrução do
materialismo, com humor poético e caricatural, em favor dos mais humildes, dos
mais humilhados e mais injustiçados.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Como pessoa,
pode-se dizer que ele foi o próprio patinho feio, aquele personagem que um dia
descobriu ser um lindo cisne, depois de amargar o preconceito resultante da
circunstância de ter sido chocado por uma pata. Andersen era grandão (tinha
1,85m), nariz enorme, olhos fundos e papudos, totalmente fora dos ideais de
beleza tradicionais. Mas com o êxito internacional da sua obra, foi convidado
para almoçar com o rei da Dinamarca, com a rainha da Inglaterra e a ser
paparicado pela nobreza européia, passando a ser visto de perto, com seu
verdadeiro rosto, cheio de vida, de olhar sem malícia, e com sua figura altiva
e elegante.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">De Odense, na
ilha de Fyn, tocamos o carro para a península de Jutlândia, onde fica Billund,
a cidade onde foi fundada e onde está a sede da Lego, a mais admirável
indústria de brinquedos do mundo. A Lego é uma empresa símbolo do respeito à
criança, da inovação e da capacidade de se reinventar. No jogo da competição
tem feito alianças com outras organizações e marcas respeitáveis, como a Toyota
(em atividades no parque), a Nitendo (no desenvolvimento de robôs) e com o
diretor George Lucas, na transformação em brinquedo dos temas e personagens da
série Star Wars.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Os brinquedos da
Lego inspiram as crianças, tornando-se universais por falar a linguagem da
infância, que é o brincar e a brincadeira. Mesmo utilizando antigos bloquinhos
de construção não são brinquedos do passado; mas brinquedos para a criança que
vem de longe em cada um de nós e que tem no passado um valor a agregar ao
presente. Essa filosofia é visível também no arborizado parque Legoland, onde
tudo é integrado e espaçoso, com o funcionamento das cidades em miniatura, das
ofertas de diversão e suas montanhas-russas. No meio de tudo, uma estátua de
Andersen com um livro e uma criança, em um banco de praça, onde sentamos para
fazer fotos.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">A hospedagem no
hotel Legoland deixa a meninada enlouquecida. As instalações são temáticas e há
uma ponte de acesso direto ao parque. O hotel é todo pensado para a infância,
com áreas de jogos, panelões cheios de peças de lego para montagem a qualquer
hora, zonas de videogames de lego e decoração com temas dos brinquedos. Tudo
bem harmonizado com obras de arte. É impressionante o cuidado com os detalhes.
No restaurante, os alimentos estão ao alcance das crianças em mesas baixinhas
facilmente acessíveis.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">Essa história
toda começou em 1916, quando Ole Kirk Kristiansen, o fundador da Lego, comprou
uma oficina de construção de casas e móveis de madeira e colocou na parede a
seguinte frase: "Só o melhor é suficiente". Queria que os
funcionários não esquecessem nunca a importância da qualidade no que faziam. E
ainda hoje esta é a mensagem motivadora da Lego. Digo isso porque temos em casa
vários brinquedos com muitas e variadas peças e nunca tivemos que reclamar porque
faltou um só bloquinho para a montagem do que está prometido na embalagem.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">A Lego é uma
empresa familiar que já está na terceira geração. Por conta da grande depressão
européia no início do século passado, em 1932 o fundador decidiu deixar de
fazer casas e móveis e passou a orientar a carpintaria para a produção de
brinquedos de madeira: ioiô, carrinhos, tratores, trens, aves e animais, blocos
de madeira com números e letras e, inclusive, um boneco de madeira de H. C.
Andersen, montado em um animal com rodinhas. Dois anos depois criou a marca
Lego, a partir da expressão "LEg GOdt", que significa "brinque
bem".</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;">A segunda
geração assumiu em 1954, quando a fábrica já produzia os bloquinhos de encaixe
com injeção de plástico. O filho de Ole, Godtfred, organizou a filosofia da
empresa em dez princípios, algo como: 1) brincar com ilimitadas possibilidades;
2) para meninas e meninos; 3) entusiasmar todas as idades; 4) para brincar o
ano todo; 5) saudável e sem fazer barulho; 6) brincadeira que não se esgota; 7)
imaginação, criatividade e desenvolvimento; 8) cada novo produto deve
multiplicar o valor da brincadeira; 9) brinquedos contextualizados; 10)
segurança e qualidade. A partir de 1979, Kjeld, neto do fundador, assume a
presidência e a Lego passa a desenvolver brinquedos com linhas para faixas
etárias específicas.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/"><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #09824e; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 13.0pt; line-height: 115%; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm; text-decoration: none; text-underline: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</span></b></a></span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-74479338637437242662012-08-03T04:17:00.001-07:002012-08-03T04:17:36.709-07:00Estocolmo é tudo de bom!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIGSXF2cXYCYb-M1JN-DdnqigLApjGkmKv7P98AYIaodtCeAqfOY6Ycol63_igDG_7APYYwSNyWD7z8i-3l-ISSVjLphERzdjXkAmsaA1-RVVLdFopdRmPv1qXEAysrJHw6AtY2zqoMto/s1600/55433_Papel-de-Parede-Palacio-Real-de-Drottningholm-Estocolmo-Suecia_1600x1200.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIGSXF2cXYCYb-M1JN-DdnqigLApjGkmKv7P98AYIaodtCeAqfOY6Ycol63_igDG_7APYYwSNyWD7z8i-3l-ISSVjLphERzdjXkAmsaA1-RVVLdFopdRmPv1qXEAysrJHw6AtY2zqoMto/s320/55433_Papel-de-Parede-Palacio-Real-de-Drottningholm-Estocolmo-Suecia_1600x1200.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">Estocolmo tem oito séculos e é uma cidade que surpreende por estar à frente do nosso tempo. É uma cidade com admirável cultura urbana, na relação com o verde, no sistema integrado de transporte público e serviços de barco, no design, no lazer e até no tratamento novo que dá à sua Cidade Velha (Gamla Stan). As 14 ilhas interligadas por pontes, que formam o seu território, tornaram-se tão orgânicas ao longo do tempo que a cidade parece flutuar como se fosse formada por uma rede de folhas de plantas aquáticas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
A leste, espalha-se entre as águas do mar Báltico e, a oeste, distribui-se harmoniosamente pelas águas do lago Mälaren. Percebi bem essa relação estruturada com a água, na quinta-feira passada (26) ao fazer um passeio de barco, cruzando as pontes por baixo e passando por uma eclusa, construída para facilitar o tráfego de barcos no desnível entre as águas do mar e do lago. Mesmo já tendo circulado separadamente pelas ilhas, de dentro dos canais deu para apreciar melhor a beleza do conjunto ajardinado, com arquitetura diversificada e encantadora, as altas torres das igrejas e os balões coloridos no céu.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Durante a semana fui acumulando uma série de experiências, próprias de quem está em um lugar diferenciado em muitos e muitos aspectos. Muita água, muito verde, canais e parques, pontes e praças.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Nas ruas, a servidora pública sai do carro para aguar e cuidar das flores; de outro carro de apoio, um rapaz desce para fazer a reposição de bicicletas de aluguel; nas paradas dos trens, funcionárias uniformizadas ajudam pessoas com dificuldade de locomoção. Isso, sem contar que os transportes coletivos têm batente de acesso no mesmo nível da calçada.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Embora com placas e letreiros somente em sueco (o que vejo com bons olhos), Estocolmo é tão bem sinalizada que dá para circular sem problemas pela cidade.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Estávamos em um grupo de seis: além de mim, da Andréa e dos nossos filhos, Lucas e Artur, viajamos também com o meu sobrinho Pedro, que mora na Alemanha, e a sua namorada Vanessa, com quem vive em Colônia (Köln). Ao chegarmos no aeroporto Arlanda, adquirimos um passe para usar o sistema de transporte coletivo e somos todos testemunhas da sua eficácia. Assim, pudemos ir e vir livre e agilmente pelas ilhas da cidade. Sem contar que andamos muito à pé. É incrível caminhar pelas ruas de Estocolmo; cada quadra que se descortina tem uma composição visual diferente; cada qual a mais bela.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
E o impressionante em tudo isso é que, mesmo com tanta diversidade, o lugar mantém uma formidável unidade urbanística. Há em Estocolmo uma invejável cultura de respeito ao que é comum; os transportes coletivos respeitam os automóveis, que respeitam as bicicletas, que respeitam o pedestre... e todos respeitam as normas de trânsito.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
O respeito à criança também chama a atenção. Em toda a cidade há lugar para a cultura da infância, para o brincar e para a brincadeira. Alguns são prioritariamente dedicados a isso, como é o caso do Junibacken, um ambiente lúdico e literário, que tem como tema central a obra da escritora sueca Astrid Lindgren (1907 - 2002). As crianças usufruem integralmente desse espaço, entrando literalmente em uma história e saindo em outra. A viagem no trem dos contos de Lindgren é fantástica, com sua caracterização de relatos em narrativa lenta, subindo e descendo suavemente, num encontro com personagens e cenários da imaginação.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
O Junibacken fica na ilha Djugarden, que é uma agradável e diversificada zona de lazer. O sentido pleno de parque aplica-se muito bem a esse lugar onde a memória e a história misturam-se ao verde na preservação da convivência comunitária sadia. Logo que descemos do trem deparamo-nos com um dos monumentos da cidade, que é o prédio do Museu da Cultura Nórdica (Nordiska Museet). São vários andares de encontro magistral com a forma de viver das tribos, sua indumentária, seu canto, enfim, com a cultura popular nórdica. Tudo com o apoio de um sistema de guia eletrônico, conduzido e controlado pelo visitante.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Não é minha intenção sair aqui descrevendo museus dessa ilha, mas não posso deixar de mencionar o Museu Vasa (Vasamuseet), pelo que ele significa para a compreensão da própria Suécia. É o museu de um barco de guerra, com 68 metros e 32 canhões de cada lado, que afundou em 1628, na ocasião da sua viagem inaugural, devido a seu peso excessivo e à sua altura desproporcional. Resgatado mais de trezentos anos depois, esse barco deixa qualquer um perplexo por ser uma joia gigante de madeira, um tesouro artístico e bélico, construído com a finalidade de ostentar o poder do rei Gustav Vasa, fundador das bases do estado nacional sueco.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
A demonstração desse poder estava na força dos canhões e na qualidade artística das esculturas que adornam a embarcação, em pinturas que vão do dourado ao vermelho, passando pelo verde, amarelo, azul e violeta. O barco, que vimos em cada parte dos seus mais de cinquenta metros de altura, foi apresentado como uma máquina de guerra e uma obra de arte. Vasa iniciou seu reinado em 1523 e ao morrer, em 1560, deixou uma dinastia que durou mais de um século no poder. É uma figura emblemática, cuja síntese pode ser simbolizada nessa relíquia que leva o seu nome e que se encontra exposta desde 1990.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Das sabedorias do povo sueco, uma que também encontramos em Estocolmo está organizada no Skansen, o museu ao ar livre mais antigo do mundo (1891), com 300 hectares de área urbana. Com o início da era industrial os suecos tiveram a feliz ideia de documentar a vida da sociedade camponesa; casas, granjas, oficinas, igrejas, mercados e moinhos de vento, incluindo zoológico com animais nórdicos (ursos, alces, renas, focas etc). São mais de 150 edificações transplantadas ou construídas, que funcionam normalmente nesse espaço com "moradores" que se vestem e atuam como um testemunho vivo do seu passado.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
No dia que fomos à ilha Skeppsholmen, concentramos nossa experienciação na caminhada pelo parque e na visita a dois museus. No Museu da Arquitetura (Arkitekturmuseet) vimos maquetes de diversas épocas e lugares do mundo e alguns comparativos em recortes específicos de tempo, como é o caso da arquitetura no Peru e no Cambodja, no início do segundo milênio. No Museu de Arte Moderna (Moderna Museet) curtimos salas e salas de obras instigantes, sobretudo aquelas relacionadas aos artistas participantes da mostra intitulada "Explosão", onde a pintura é tratada como ação, e a instalação "Grapefruits", de Yoko Ono, inspirada no seu livro homônimo, de desenhos e instruções para a vida e para a arte.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
Estávamos cruzando a praça Real e nos deparamos com um show realizado por um movimento musical chamado "Lilith*Eve", que reúne mais de quinze compositoras e cantoras da Suécia. Pegada boa a dessa gente, inspirada na relação de Lilith e Eva com Adão, e movida a rock tradicional sueco, baladas dramáticas, pop existencial, jazz, blues, sons bem-humorados e reflexivos, poesia, música performática e canções de metrô.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
O que me intriga nessa riqueza cultural e ambiental de Estocolmo é a sensação de que a cidade chegou ao futuro, com aproximadamente um milhão de habitantes, ótima gastronomia de frutos do mar, uma beleza arquitetônica impressionante e uma vida social marcada pela qualidade dos serviços públicos, em um país com território ocupado por florestas e lagos. E pensar que há menos de dois séculos a Suécia era um dos lugares considerados mais pobres da Europa. Parece que deu certo. É possível. Estocolmo é tudo de bom. </div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-13091067582404361452012-07-26T06:05:00.002-07:002012-07-26T06:05:59.236-07:00Na instabilidade da luz e da cor - 26/07/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLzwqodIx2qLur_oB8Ru3WU0bmyD3y4m0OxXcJduraj-OosgmbqttdstaLuInPqqytHNQB7yEIOPKfw-RFN1A31h4lLo64InpVicGZHYDNozlWbZbaKV9CJM0GMSrtOfXv1piIlGWPEE0/s1600/CCDWEB_201205_07.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLzwqodIx2qLur_oB8Ru3WU0bmyD3y4m0OxXcJduraj-OosgmbqttdstaLuInPqqytHNQB7yEIOPKfw-RFN1A31h4lLo64InpVicGZHYDNozlWbZbaKV9CJM0GMSrtOfXv1piIlGWPEE0/s320/CCDWEB_201205_07.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">A minha agenda de trabalho em São Paulo estava pressionada na semana passada, mas na sexta-feira (20) dei um jeito de pegar um táxi e ir desfrutar por alguns momentos da experiência de investigação da potência das cores e da luz desenvolvida há cinco décadas pelo artista plástico venezuelano Carlos Cruz-Diez. As salas da Pinacoteca que abrigaram a exposição "Cor no tempo e espaço" estavam em inquietante atmosfera cromática, resultante da presença de um conjunto de cento e tantas obras a contar a trajetória conceitual e técnica do seu autor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Cruz-Diez (1923) é um comunicador visual que nunca mediu esforços para que o seu trabalho interferisse na reflexão plástica das pessoas. Senti o efeito dessa intenção logo que retornei à rua e comecei a achar que os prédios não pareciam os mesmos que eu havia visto antes de entrar na Pinacoteca. Cada filete de alvenaria cedia ao meu olhar a autonomia da composição da cor, da luz e da sombra. De dentro do táxi em movimento era a cidade que se movimentava, sem sair do lugar.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Foi para chamar a atenção do quanto o nosso deslocamento é responsável pela existência das cores como as vemos, que ele tanto procurou demonstrar que, mais do que pigmentos aplicados a superfícies, a cor é uma circunstância derivada da ambiguidade da projeção da luz, em permanente estado de mutação. Por sua característica interativa, a obra de Carlos Cruz-Diez oferece a quem se dispõe a apreciá-la um manancial de eventos que partem da luz e da angulação do olhar para libertar a cor do domínio exclusivo da matéria.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A retrospectiva apresentada na Pinacoteca paulista começa com a mostra de telas figurativas pintadas a óleo na década de 1940, tal como a bela pintura dos empinadores de papagaios verdes, e se estende até uma instalação mais recente, da década de 2000, com a qual o artista desconstrói os volumes em cores. Essa cromointerferência, que envolve inclusive os corpos dos observadores, é feita com a projeção cruzada de faixas das cores azul e amarela (se não me engano) em uma sala branca, onde balões também brancos e pendurados no teto se agitam perdendo as linhas de contorno.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio2j3HHYLNOC_JGWg3ExiXfyUyFM5mgqOCbWIYtUwa1He8BLyEZclYvLQ3Q27I8xzUR_UXHkC6Cc8SY6uzhlYSXPxRifGGax0ytlSsPOvqqjrrJijiXVgQqqEpGtTTJN863bShEU_WzPw/s1600/Splash_Top_Daros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio2j3HHYLNOC_JGWg3ExiXfyUyFM5mgqOCbWIYtUwa1He8BLyEZclYvLQ3Q27I8xzUR_UXHkC6Cc8SY6uzhlYSXPxRifGGax0ytlSsPOvqqjrrJijiXVgQqqEpGtTTJN863bShEU_WzPw/s320/Splash_Top_Daros.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">O passeio por cada uma das salas revela como a estrutura expositiva contribuiu para facilitar a nossa compreensão do discurso do design e pintor, posto em prática nos campos da radiação das cores, do comprimento de onda cromática e de toda a migração que ele fez da pintura de realismo social para o aprofundamento nos estudos de luz e percepção. O controle meticuloso das superfícies e sua relação com o ponto de olho do espectador vai nos desacomodando do senso comum pelo respeito à subjetividade do nosso olhar.</span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">As vitrines com esboços de criações sobre papel, o preto e branco das gravuras e dos desenhos de ilusão de ótica, as composições geométricas abstratas, os painéis multicores em constante transformação, os ambientes cromatizados, as ondulações dos tons, as mandalas em efeito de vibração de retículas, os documentários em vídeo sobre o seu processo de trabalho, as máquinas e ferramentas inventadas por ele para dar precisão às canaletas de alumínio e o corte das lâminas de papelão e algumas maquetes de edificações vestidas de retalhos de cores, como os silos miméticos de um moinho de trigo, produzem uma emoção estética a reforçar a posição do observador diante da obra.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Há momentos na exposição "Cor no tempo e espaço" que vemos cores que não existem, mas as vemos; logo existem. São cores geradas pela proximidade de outras cores na fertilidade da luz e do olhar. No lugar de algo fixo, dependente de suporte, um organismo que ganha vida na realidade da luz, vibrando, flutuando e dialogando com o nosso plano sensorial bem além dos sentidos. Para mim, esse foi um encontro de comportamentos entre a minha percepção e a atitude da cor.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Por possibilitar que a cor seja vista como detentora de uma realidade própria e por colocar o entendimento do que chamamos de cor na dimensão dos tons e do movimento, o trabalho de Cruz-Diez transita na atemporalidade da aparição e da desaparição. Ao longo dos anos ele foi dando provas disso em investigações sobre a instabilidade da luz e da cor, isolando uma daqui, aproveitando a complementaridade de outra acolá, colocando filtros refletores de um lado e induzindo condições de visibilidade por outro. E foi categorizando isso como cromosaturação, transcromia, cromointerferência, fisicromia, e desenvolvendo fases conceituais e tecnológicas de induções cromáticas e cromoscopia, para atingir o estágio maturidade que alcançou na fenomenologia ótica da cor.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Dono de um estilo visual que o destacou como um dos mais importantes artistas plásticos da América latina, Carlos Cruz-Diez é um artista gráfico e pintor que saiu das galerias para os logradouros públicos. O sistema de hastes coloridas (fisicromia), criado por ele para possibilitar frequências cromáticas em superfícies e, assim, expressar a vida própria das cores, destaca-se como arte em prédios, corredores e calçadas de grandes cidades do mundo. Para tornar-se uma referência internacional também em intervenções de arquitetura e urbanismo, conquistadas por sua forma peculiar de tratar a cor, a luz e o movimento em variadas situações de condições culturais e climáticas, Cruz-Diez acreditou na essência participativa das cores.</span><span style="background-color: white;"> </span></div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-71974869680900324082012-07-19T05:11:00.000-07:002012-07-19T05:11:02.869-07:00A midiaeducação faz 80 anos (final) - 19/07/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghbX1VAYd76TEEI-kC_AB2BsLFlY80w6QorcRZulzupcaOFmqbQzMdSoBSBYhPy6HTResECjY06-5bjaKyJ5nRITNgMMh8txO2a3fnrbZl3AXbobnfA48KnGBKwLhXp0d1bKirHXwK5yE/s1600/m1_sala.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghbX1VAYd76TEEI-kC_AB2BsLFlY80w6QorcRZulzupcaOFmqbQzMdSoBSBYhPy6HTResECjY06-5bjaKyJ5nRITNgMMh8txO2a3fnrbZl3AXbobnfA48KnGBKwLhXp0d1bKirHXwK5yE/s320/m1_sala.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><br /></span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">O fato de a educação ser hoje em dia muito mais do que uma atribuição escolar, aumenta a importância da escola como ambiente de sociabilidade comprometido com a potencialização do contexto experiencial local, do conhecimento crítico universal e da aprendizagem significativa. Fora da vida escolar não há como assegurar a integridade dos aspectos cognitivos, culturais, relacionais e afetivos, embora não haja também como fazer isso sem o fortalecimento da midiaeducação no processo educacional.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A busca pela construção de uma compreensão comum de sociedade, iniciada há oito décadas pelos pioneiros da nova educação, permanece desafiante, principalmente porque as mídias de massa, como destacadas provedoras de representações, tendem a rejeitar uma experiência pedagógica que fuja aos encartes, cadernos especiais e programas educativos audiovisuais. A ampliação dessas iniciativas esbarra nas contradições homogeneizantes da educação tecnomidiática e sua aplicação em lugares culturalmente diversos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O compromisso educacional dos sistemas massivos de comunicação começa com o fortalecimento da liberdade de expressão, da circulação de interpretações e de análises com posicionamentos explícitos e da veiculação de notícias livres. O futuro do jornalismo, por exemplo, está atrelado à clareza da voz que toma partido, que diz por quem torce e que assume a parcialidade do ponto de vista, simplesmente porque se inspira em valores e interesses defensáveis.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">As empresas de serviços de relacionamentos, a indústria de games, os portais de venda de conteúdos, os serviços de buscas e as agências de comunicação mercadológica, dificilmente aceitarão uma corresponsabilidade educacional sem uma grande e firme pressão social. Essas corporações têm o domínio mundial das atenções e obviamente não querem perder vantagens comerciais em nome de qualquer projeto de coletividade. Os limites das mídias de massa no desenvolvimento da midiaeducação apresentam variados conflitos. A perturbação gerada pela abundância de dados e informações é uma delas. Outra é a confusa distinção entre o que é de interesse social e o que é criação de valor de mercado. Às vezes a deformação educativa está apenas no jeito de expor, como é o caso da publicação das notas e fotos de socialites nos cadernos de arte e cultura e da promoção de celebridades midiáticas como modelos, disfarçando o mundo do espetáculo de realidade objetiva.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Ao ocupar o cotidiano escolar, o mercado informacional-cognitivo trabalhou com a supervalorização da tecnologia, dos meios eletrônicos, digitais e interativos sobre a comunicação no fazer pedagógico. A formação do usuário de educação, para a aplicação das novas tecnologias como ferramenta pedagógica e didática, contou com a vulgata da aceleração do tempo, com a força invisível da informação pulverizada, com a facilidade da produção de mensagens escritas em tom de oralidade e com o determinismo da técnica sobre o humano, recurso ardiloso que chamo de maktub digital.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O que inicialmente era apenas "TI", ou seja, tecnologia da informação, ganhou um "C" de comunicação, formando a sigla "TIC" e ganhando uma abrangência conceitual pouco efetiva. Mesmo assim, os laboratórios de informática viraram moda, como se por si possibilitassem o nivelamento entre a escola e a sociedade. E muitos processos educativos ficaram reféns da ideia de neutralidade que foi vendida com a TIC, enquanto suporte para a ampliação da aprendizagem. As escolas mais atentas conseguiram perceber que não dava para educar somente com a posse da tecnologia. Antes de tudo, deveriam refletir sobre a própria tecnologia.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Na atualidade, a incorporação dos novos sistemas de mídia nos processos de educomunicação e de midiaeducação precisa ir além da TIC. Mais do que aproveitar seus recursos para soluções pedagógicas sonoras e visuais, para o incremento de didática participativa e para a construção de territórios de identificação, cabe escapar do bullying dos defensores de equipamentos que estimulam mais a mente do que os sentimentos, não fazendo caso do tempo para a reflexão interior. Pulamos uma etapa, mas ainda temos condições de recuperá-la, por meio de uma boa articulação do que poderíamos apelidar de TEC; tecnologia, educação e comunicação, entre si e com a sociedade.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A TEC seria o tripé de base da comunidade educativa para a experiência da interdependência do múltiplo repertório cultural e educacional em trânsito pelas vias e infovias. Para isso, os planejamentos pedagógicos de midiaeducação teriam ou terão que passar por uma reconfiguração comunicativa e educacional, na qual a integração dos processos tenha como suporte a dialética formadora da tecnologia, da educação e da comunicação. É na catálise do ponto comum desses três conjuntos que ocorre a midiaeducação. Para que, com os locus da web, a ampliação da esfera pública não siga trazendo consigo a possibilidade de promoção apenas do consumo, mas também da cidadania, as inovações pedagógicas com técnicas midiáticas (Informação, ficção e entretenimento) podem ter intensificado o ensino sobre as próprias mídias (com as mídias), sem que se esqueça, todavia, da importância da convergência de autônomos complementares: o educador saber que pode atuar também como comunicador e vice-versa; e o mercado de informática saber que os dois sabem que não dá mais para deixar de cobrar o seu compromisso educacional diante do consumismo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A proeminência do papel das mídias na formação da sociabilidade exige o aprofundamento e a ampliação do debate sobre a educação para o consumo, com extensão para o impacto do poder da visibilidade na constituição espacial e temporal da vida em sociedade e suas repercussões no transbordamento da esfera íntima.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O problema é crítico porque a migração do controle dos meios de produção para o controle dos canais de transmissão de dados e informações criou uma verdadeira webtruste, atualmente constituída por corporações do comércio virtual de conteúdos, de serviços de busca e relacionamento, a exemplo da Microsoft, Google, Facebook, CNN e Fox.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A essência da midiaeducação se dá na zona de interseção da tecnologia, da educação e da comunicação (TEC), como campo de eventos civilizatórios, dinamizado pelo engajamento de pessoas no processo educacional, a despeito de serem ou não formalmente educadoras. Algo como as vivências educacionais da pedagogia da Dona Benta, na obra lobatiana, que tem na cultura a substância adstringente da midiaeducação em um processo de elaboração discursiva capaz de preparar as pessoas para se orientarem no mundo, pensando por si e para saberem o que buscam.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A compreensão de que o lugar, as circunstâncias e os interesses na produção de mensagens têm vínculos diretos com os indivíduos, os grupos e as comunidades, liga o saber local ao não-local, na construção de sentido, de conhecimento e de relações (não apenas de contatos). Quanto mais teias de comunicação existirem, mais necessidade da cultura local para a interação humana, sob pena de nos tornarmos apenas usuários passivos nas estatísticas de consumidores finais.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Parafraseando o manifesto da Nova Educação, de 1932, penso que a sociedade deve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitude possível, todos os recursos possíveis da midiaeducação para a promoção de significantes culturais, que correspondam à vida, com seu valor estético, produtivo e intelectual. Afinal, midiaeducação não é a intermediação de modelos ideais, mas a criação de oportunidades de emancipação.</span><span style="background-color: white;"> </span></div>
</span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-34711484547836428652012-07-12T07:26:00.001-07:002012-07-12T07:26:16.231-07:00A mídiaeducação faz 80 anos - 12/06/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf7erTY_fymiPWE1xxErW_OXStGN7IwywU7r44lwIZtrv5RhPuDDWxRAZrkcTexknHbGz8YdYEFMR0A5Y_DrjESDqSf2MHU3NJvS0C8ydncBV0LPJVWnTGjh9tHvq8o_Yax3sT7PJKWII/s1600/logo_midia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf7erTY_fymiPWE1xxErW_OXStGN7IwywU7r44lwIZtrv5RhPuDDWxRAZrkcTexknHbGz8YdYEFMR0A5Y_DrjESDqSf2MHU3NJvS0C8ydncBV0LPJVWnTGjh9tHvq8o_Yax3sT7PJKWII/s320/logo_midia.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">À primeira vista o tema da mídiaeducação pode parecer algo novo, surgido por força da crescente influência das tecnologias eletrônicas e digitais. Claro que a onipresença das mídias na formação do ser social ganhou proporções grandiosas na atualidade, mas a necessidade de exercitar o entendimento crítico da informação e o sentido de tratar os meios de comunicação de massa como parte indissociável dos sistemas educacionais é um debate que está fazendo 80 anos no Brasil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Tomo como marco para essa celebração, o manifesto da Nova Educação, assinado em 1932 por intelectuais comprometidos com a melhoria das condições sociais e culturais brasileiras, no contexto de um país imenso, com o futuro ameaçado por sua imensidão de analfabetos. Dentre os signatários desse importante documento estavam o educador Anísio Teixeira, a escritora Cecília Meirelles e Roquette Pinto, o pai da radiodifusão brasileira.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">No trecho que trata da busca por uma propagação de conteúdos considerados fundamentais ao processo educacional e à formação de uma compreensão comum de sociedade, eles foram abertos e taxativos quanto ao uso das mídias no processo educacional: "A escola deve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitude possível, todos os recursos formidáveis, como a imprensa, o disco, o cinema e o rádio". Com essa afirmação eles reconheceram e invocaram o potencial da mídia como parte relevante da comunidade educativa.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A repercussão do pensamento desse grupo diversificado de educadores ganhou concretude na carta constitucional brasileira, que indica uma necessidade de preferência dos meios de comunicação social para as "finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas" (art. 221, I). O texto, constante da Constituição de 1988, deve ou deveria alcançar, inclusive, os meios de transmissão de informações e do comércio de conteúdos presentes na rede mundial de computadores.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O tema vem sendo tratado nessas oito décadas ao sabor das inquietações e dos interesses de cada conjuntura. Em 1942, o educador argentino-uruguaio, Mario Kaplún, avançou na perspectiva da inter-relação entre educação e comunicação para a formação cidadã e criou o conceito de educomunicação, tendo ele mesmo se tornado um educomunicador ao trabalhar com o sentido freiriano de visão crítica das mensagens em programas de rádio educativa. Nos anos 1960, a "mídia-educação", foi fomentada pelas Nações Unidas, como alternativa para a formação em escala do sentido da nova ordem da sociedade de consumo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Ensinar sobre as mídias e com as mídias, dentro de um propósito cidadão e não apenas comercial continuou e continua sendo desafiante. O cabo de guerra entre os interesses da sociedade e do mercado, que já tinha na televisão um problema nada simples de ser resolvido, foi intensificado sobretudo com a massificação da internet nas três últimas décadas. Algumas dessas movimentações ganharam realce em simpósios de grande envergadura, como o que foi realizado pela Unesco, na Alemanha (1982), em cujo documento final - a Declaração de Grunwald - o poder formador da mídia foi reconhecido e valorizado como de destacada importância para o mundo moderno.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A constatação de que as telas, inicialmente de cinema e televisão, e mais recentemente, de computador, celular e tablet, passavam e passaram a "educar" mais do que as escolas e as igrejas, levou os participantes a defesa de uma alfabetização que preparasse as pessoas para esse mundo de poderosas imagens, palavras e sons. Essa proposta de mídiaeducação implicou em reavaliações das prioridades educacionais, voltadas para o envolvimento mais amplo dos responsáveis pela educação - incluindo aí os profissionais de mídia e os tomadores de decisões - na busca pela preparação de uma cidadania responsável.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Passados 25 anos de Grunwald, um encontro semelhante em Paris (2007), reforçou a necessidade da mídia-educação, com ênfase no desenvolvimento das chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). A agenda francesa pregou a vinculação das mídias de massa com a diversidade cultural e direitos humanos, numa articulação capaz de trazer em si escolas, famílias, associações e profissionais de mídia, com vistas à emancipação social.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O tempo passa e cada vez mais as mídias ganham importância na formação das pessoas, fazendo com que o debate se torne dia após dia mais atual e urgente. No início deste mês (1/7) fiz uma palestra sobre o tema "Mídiaeducação: debatendo o papel das mídias na educação para o consumo", no "I Meeting Nacional de Educação e Tecnologia", ocorrido no Teatro Guararapes, do Centro de Convenções de Olinda, em Pernambuco. Para se ter uma ideia do interesse pelo tema, o auditório tinha cerca de 500 pessoas presentes em plena tarde de domingo.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Acredito nessas educadoras e nesses educadores que estão se mexendo como podem entre a especialização e a interdisciplinaridade, entre o curtir e o participar, o físico e o virtual, as culturas e a cultura de massa. Pessoas empenhadas em encontrar o lugar da educação no novo Brasil em curso, na nova configuração geopolítica mundial, nos novos sistemas de comunicação e seus horizontes de teias, nodos e canais, nas novas formas de percepção, compreensão e de atuação cidadã, enfim, nas buscas por ressignificações da modernidade de exceção.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A mídiaeducação é um tema desafiador porque coloca as estruturas de comunicação social dentro do conjunto de sistemas institucionais e de vivências de educação. E hoje esse complexo de núcleos de sociabilidade tem imbricações de elevado poder, perpassando os ambientes familiares, escolares, espirituais, governamentais, empresariais, midiáticos e em grupos de afinidades, que se estendem desde interesses esportivos e artísticos até os de negócios, drogas, violência e de entretenimento.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Nesse cenário de trancelim, onde a joia sagrada é a educação, os encontros e desencontros de expectativas vão gerando dilemas inquietantes. O principal deles está na sensação mútua de potência e de impotência gerada, por um lado, pelo enriquecimento das possibilidades educativas disponíveis nas condições excepcionais de suportes digitais e pelas infovias e, por outro lado, pela dificuldade de encaminhamento dos interesses sociais permanentes, em franca disputa com o imediatismo praticado pela nova economia, de cunho imaterial, que domina o mesmo aparato para a venda de conteúdos.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">A gestão social da educação oscila entre ética, estética e consumismo. É quase impossível uma conduta humana decente e sensível em uma situação de predomínio da transferência dos ideais de felicidade para a insaciável aquisição de objetos. Enquanto os anseios de correção de injustiças históricas fragmentam de modo abusivo a estrutura curricular, as escolas que viraram meros pontos de venda tentam destruir o livro para impor o tablet, como se ambos não fossem plataformas de leitura com características específicas.</span></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">Nessa geografia de interconexões virtuais, por onde a mente pode transitar com desenvoltura, e dos lugares físicos, onde o corpo pode aferir que tem cabeça, tronco e membros, educar passou a ser um misto de embaraço e ato de coragem. "A carreira ou a vida?", perguntam-se as mães, os pais e cuidadores quando pensam em educação. Fragilizados pela falsa dúvida, muitos decidem pela terceirização dos filhos, entregando-os para a modelagem do inteligente vazio em </span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;">estabelecimentos comerciais camuflados de educacionais (continua na quinta-feira, 19/07/2012).</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"> </span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; text-align: left;"></span><br style="border: none; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: left;" />ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-6234276024964927752012-06-21T11:22:00.001-07:002012-06-21T11:22:14.142-07:00São João em Maracanaú - 21/06/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9J5eNareijpQ0cHWNmJsSol9DGUkCnap7NFz8lMkMeaPV7WRAbW0MCDpctRbTDRq1ZkfzxiV6UIY3NGYJISg-t2uLylUVFrZnKcLf-zuBQYOoZ8Om3FXPK76-r2vE2hyphenhyphen5qx25f2DmwhE/s1600/quadrilhas_470.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9J5eNareijpQ0cHWNmJsSol9DGUkCnap7NFz8lMkMeaPV7WRAbW0MCDpctRbTDRq1ZkfzxiV6UIY3NGYJISg-t2uLylUVFrZnKcLf-zuBQYOoZ8Om3FXPK76-r2vE2hyphenhyphen5qx25f2DmwhE/s320/quadrilhas_470.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Andei por um bom tempo meio desencantado com a descaracterização
provocada pelos exageros dos figurinos, dos passos das danças e dos
autos das quadrilhas juninas e com a homogeneidade e o empobrecimento
artístico dos shows incorporados às festas de São João. Isso vinha me
inquietando porque sei da importância desses eventos para a
cearensidade e do tanto que eles têm de alma nordestina e de potencial
turístico.<br /><br />As festas juninas estão direta ou indiretamente entre
os traços culturais mais presentes no Ceará. Constituídas e organizadas
simbolicamente como decorrência do nosso sistema de relações sociais,
formatado a partir da influência histórica da colonização,
modificaram-se ao longo dos anos e continuam em franco processo de
alteração, enquanto festejos oscilantes entre manifestação popular
espontânea e produto da cultura de massa.<br /><br />Resolvi tomar pé de
como se dá uma grande festa junina atualmente e, sábado passado (16),
fui ver de perto a de Maracanaú, cidade da região metropolitana de
Fortaleza, considerada a Capital Junina do Ceará. Adianto que fiquei
positivamente impressionado com a estrutura de aproximadamente quatro
hectares, circundada por tapumes de madeira e divida em três ambientes:
quadrilhódromo, praça de shows e uma cidade cenográfica em homenagem ao
centenário de Luiz Gonzaga. Tudo bem organizado pela municipalidade,
com entrada gratuita e bem-estar de segurança.<br /><br />A concepção de
três ambientes em um só espaço destaca-se por sua configuração
integrada do sentido atual das festas juninas, dando novos significados
a uma diversão antes orientada principalmente por intenções pastorais.
O deslocamento do cunho religioso para o cultural estava coloridamente
caracterizado na cidade cenográfica, onde a representação da capela
apresentava a mesma distinção do xilindró, da radiadora, do engenho
moendo cana e do cabaré da luz vermelha.<br /><br />A presença desses
elementos tradicionalizados na vida interiorana, conjugados e
conjurados na mesma área, abre diversas possibilidades de conotações,
analogias e permutações porque se resumem apenas a um ordenamento
festivo e não a qualquer prescrição social. A simples combinação de
réplicas abre passagem para validades particulares e suas compreensões
relativas, muitas vezes guardadas no íntimo de cada pessoa como algo
apagado de sua cultura.<br /><br />Convém lembrar que Maracanaú é uma
cidade industrial habitada praticamente por desterrados. Para seus
moradores, aquele espaço público deve reacender uma via de
identificação cultural profunda, elevada pelo sentimento atávico de
quermesse, misturado em fantasias de clubes e de praças de igreja e de
mercado. Nessas festas de São João, que a cidade realiza há oito anos,
as pessoas têm a oportunidade de receber, por quase um mês, centenas de
visitantes, provenientes de municípios vizinhos, além dos integrantes
dos cerca de oitenta grupos de quadrilha que se deslocam para lá em
busca de diversão e dos títulos dos festivais que acontecem no
quadrilhódromo.<br /><br />Tenho consciência de que as festas juninas, como
toda invenção social coletiva, precisam mesmo ser repensadas a partir
das mudanças ocorridas na sociedade e, por conseguinte, no nosso olhar
sobre a cultura. Na dinâmica da vida urbana talvez seja de pouca
razoabilidade querer um folguedo nos moldes dos mais isolados recantos
do mundo rural. O que me embaraça a mente quando fico matutando sobre
isso é a sensação de carência de estímulo ao prazer da apreciação,
acentuada especialmente na praça de shows. Minha expectativa é que o
encontro e a dispersão que essas festas produzem estiquem o alfenim da
sabedoria popular até libertar a sua consistência e o seu sabor mais
puro de melado com goma.<br /><br />O que me pareceu mais relevante na ida
ao São João em Maracanaú com a minha família foi não ficar preso ao
claro e escuro, até porque no fundo, no fundo, o preto e o branco são
policromáticos. Procurei fazer o exercício de dar prioridade aos fatos
na minha experiência perceptual. Transitamos descontraídos na
plasticidade da cidade cenográfica, do quadrilhódromo e da praça de
shows, entre bandeirolas e balões no efeito recíproco de saturação e
brilho das cores estouradas da decoração, sem cobrar o que poderia ser
claridade e escuridão.<br /><br />No percurso evolutivo das festas juninas,
muitos altos e baixos já foram deixados para trás. O mais importante de
tudo é que a essência dessa tradição ainda não desapareceu; o que era
não é mais, contudo, segue com vigor em busca de renovação e sentido. A
estética das quadrilhas perdeu as nuanças intuitivas da cultura popular
e, salvo exceções, se perdeu na distração de um público difuso,
aparentemente conformado com suas necessidades de escape da rotina e
dependente da relação direta do mercado com as massas.<br /><br />Qualquer
dia desses, quando o Brasil e o Ceará perceberem que não dá para se
desenvolverem de verdade sem um ministério da cultura e sem uma
secretaria de cultura pra valer, certamente esse tipo de manifestação
ganhará os cuidados devidos. Não defendo com isso que se gaste o menor
tempo sendo contra o que está estabelecido. Assim como em alguns
bairros e povoados as pessoas continuam fazendo festa junina orgânica
para o viver comunitário e o comércio de shows domina as arenas de
bandas, espera-se que um dia os governos venham a dar apoio sistemático
ao que faz a diferença em qualidade e liberdade criativa.<br /><br />A
festa de Maracanaú é uma síntese bem estruturada do que somos na
atualidade em termos de considerações à cultura. A estrutura "três em
um" desse evento mostra-se valiosa por permitir a distinção do que há
de músculo nos grupos de quadrilha, de voz nos animadores de palco, e
de semblante no campo social coletivo da cidade cenográfica, criando as
condições de despertar nas pessoas o que elas ainda podem ser, enquanto
parte dessa manifestação viva do nosso calendário cultural (e que
deveria ser turístico também).<br /><br />Em que pese a beleza das nossas
praias, não há melhor forma de dar sustentação ao turismo do que pelas
revelações das nossas práticas culturais. Se o que temos ainda não está
totalmente pronto, a pressão da difusão ajuda a melhorar. Neste
aspecto, as quadrilhas juninas fazem parte do nosso acervo simbólico,
tanto no tocante à sua expressão social quanto em relação à economia
que movimenta a tecnologia utilizada, as linguagens a que recorre e os
conceitos que traduz.<br /><br />Infelizmente temos, tradicionalmente, um
turismo com ideia limitada de cultura e, por isso mesmo, pobre em
ofertas culturais. É provável que a falta de atenção às festas juninas
encontre justificativa na ideia de que esse tipo de evento existe em
outros estados nordestinos, portanto, não haveria muita razão para um
visitante querer pagar para apreciar ou participar desse tipo de
atração. Ledo engano; é o modo como se apresenta uma manifestação
cultural que a torna atraente. Neste caso específico, a Capital Junina
do Ceará está a apenas 25 quilômetros da avenida Beira-Mar, onde ficam
os principais hotéis de Fortaleza.<br /><br />O modelo tríplice adotado por
Maracanaú ainda levará um bom tempo para ser o tal, mas já está
preparado para receber turistas. Embora seja um espaço provisório de
interações, ele desenvolve-se subjacente a uma manifestação cultural de
grande valor para o Ceará. Gostei de ter ido ao São João em Maracanaú.
Lá me diverti, encontrei amigos e refleti sobre o que essa festa pode
representar para além do evento no nosso horizonte cultural e
turístico.<!-- /Conteudo -->
</div>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-51634947935516952842012-06-14T12:47:00.002-07:002012-06-14T12:47:51.853-07:00Raul Seixas não morreu - 14/06/2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNbedpYJyzVsPfUqeRFivMdi8dMvO100UDytCJSdM6ZmU4EBX-ygUUJkPpmFPrWUTjwFba8L6Z6ojkIWoyIDah9t_plpyW7MASi2jtsBMfHwLahDapA5nHrWoKbIODHMKLsm3wDOBsGJM/s1600/Raul-seixas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNbedpYJyzVsPfUqeRFivMdi8dMvO100UDytCJSdM6ZmU4EBX-ygUUJkPpmFPrWUTjwFba8L6Z6ojkIWoyIDah9t_plpyW7MASi2jtsBMfHwLahDapA5nHrWoKbIODHMKLsm3wDOBsGJM/s320/Raul-seixas.jpg" width="320" /></a></div>
Nunca duvidei da lenda de que, assim como o rei do rock estadunidense,
Elvis Presley, o rei do rock-baião brasileiro, Raul Seixas, também não
morreu. Ambos têm datas oficiais de nascimento e morte: Elvis (1935 -
1977) e Raul (1945 - 1989). Os dois foram considerados falecidos com
pouco mais de quarenta anos, mas os sósias e os imitadores de um e de
outro são tantos que eles seguem vivos entre rumores e aparições.<br /><br />Raul
entrou para a vida artística recorrendo a características e trejeitos
do ídolo Elvis, tipo a gola da camisa levantada e o modo estilizado de
andar. Não virou cópia porque tinha uma experiência cultural muito
rica, sintetizada na arte de outro mito da música que não morreu: Luiz
Gonzaga (1912 - 1989). Com este, não apresenta a semelhança de viver
pouco anos, mas a de morrer no mesmo ano de 1989.<br /><br />Talvez um dos
segredos de Raul Seixas não ter morrido esteja na consideração que ele
sempre teve pela morte. "Oh, morte, tu que és tão forte / que matas o
gato, o rato e o homem/ vista-se com a tua mais bela roupa quando
vieres me buscar" - "Canto para a minha morte" (Raul Seixas / Paulo
Coelho). E ele foi ouvido e sua prece considerada, pois pouco antes de
encerrar a autonomia dos movimentos do corpo, foi ovacionado num show
em Brasília, ao lado do parceiro de última turnê, Marcelo Nova.<br /><br />Há
tempos que eu não dedicava atenção especial à obra de Raul Seixas. Aqui
acolá ouvia meus filhos escutando "o meu egoísmo é tão egoísta/ que o
auge do meu egoísmo é querer ajudar" - Carpinteiro do universo (Raul
Seixas / Marcelo Nova). Foi então que fomos ver juntos o emocionante
documentário "O início, o fim e o meio", de Walter Carvalho, contando
com imagens de arquivo, depoimentos de familiares, amigos, parceiros,
produtores e pesquisadores, a saga existencial do "maluco beleza".<br /><br />A
música e a alma inquieta de Raul Seixas fizeram parte da minha
adolescência. Mais que isso, foram dez anos de intensa presença entre
as minhas preferências de som. Começou com o lançamento do disco
"Krig-ha, Bandolo" (1973), quando eu ainda morava no interior e o
acompanhei em tempo presente, e entrou em fase de distanciamento logo
após o episódio de quebra-quebra ocorrido no ginásio Aécio de Borba, em
Fortaleza (1983), quando ele saiu do palco carregado por não conseguir
se apresentar.<br /><br />Naquele ano, o sucesso era "Pluct Plact Zum/ não
vai a lugar nenhum (...) Mas ora vejam só/ já estou gostando de vocês/
aventura como essa eu nunca experimentei/ o que queria mesmo era ir com
vocês/ mas já que eu não posso/ boa viagem" - "O carimbador maluco"
(Raul Seixas). Sai frustrado por não ter podido ver o show e fui me
desinteressando... me desinteressando, até o interesse ficar reduzido a
lembranças.<br /><br />Diante da tela de cinema do Pátio Dom Luís, percebi
que em mim Raul também não morreu. Aliás, pensando bem, ele não morreu
porque conseguiu ser e sintetizar em sua música a aversão aos exageros
de uma sociedade que continua hipócrita e consumista. O seu primeiro
grande sucesso é de uma atualidade assustadora: "Eu devia estar
contente / porque tenho um emprego (...) Eu devia agradecer ao Senhor /
por ter tido sucesso (...) Eu devia estar feliz porque consegui comprar
um Corcel 73 (...) Eu devia estar sorrindo e orgulhoso / por ter
finalmente vencido na vida / mas acho isso uma grande piada / e um
tanto quanto perigosa" - "Ouro de tolo" (Raul Seixas).<br /><br />A pressão
da modelagem social o inspirava. Quanto mais ele estrebuchava dentro do
sistema, mais revertia a situação de angústia a um estado de criação.
Buscar alternativas parecia uma predestinação. Ele girava e pirava na
luta enlouquecedora, ora entre o afastar-se de si e abrir-se ao mundo e
ora afastar-se do mundo e abrir-se para si. Irreverente, contestador e
mítico, Raul conseguia ter poder sobre a sua indomável genialidade, mas
não conseguia ter controle de si. É difícil cantar o caos sem ser parte
dele.<br /><br />Raul Seixas bebia e fumava muito, mas passou a ser cliente
fiel do mercado de drogas por insistência de Paulo Coelho. Quem afirma
isso no filme é o próprio escritor de autoajuda, que foi seu parceiro
expressivo. Sempre medindo as palavras e performando o arqueiro zen,
Coelho aparece no documentário com o cuidado de quem não quer emprestar
prestígio ao parceiro. O incrível dessa parte é que mesmo tendo sido o
seu depoimento gravado na Suíça, onde normalmente não há moscas, a fala
de Paulo Coelho foi perturbada por uma mosca.<br /><br />Nesse momento
fiquei pensando se aquela mosca não poderia ser o Raul Seixas tirando
onda com o Paulo Coelho. "Eu sou a mosca que perturba o seu sono (...)
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar (...) Quem, quem é? / A mosca,
meu irmão" - Mosca na sopa (Raul Seixas). Se ele não morreu, não terá
custado nada essa irônica diversãozinha zoomórfica. Depois que trocou
um só corpo para estar presente em cada fã, Raul virou também o que
pode virar a imaginação.<br /><br />Tomara que a incorporação da lenda no
cotidiano dos seus admiradores mais fervorosos guarde alguns limites
que o "maluco beleza" tanto prezava. "Minha mãe me disse tempo atrás/
onde você for Deus vai atrás/ Deus vê sempre tudo que cê faz/ mas eu
não via Deus/ achava assombração/ eu tinha medo (...) Vacilava sempre a
ficar nu lá no chuveiro/ com vergonha de saber que tinha alguém ali
comigo/ vendo tudo que se faz dentro dum banheiro (...) Eu tinha medo"
- "Paranoia" (Raul Seixas).<br /><br />Não deve ter sido nada fácil
produzir esse documentário. O mundo de Raul Seixas era e é naturalmente
cheio de conturbações, feridas malcuradas e pessoas com temperamentos
difíceis. O lado bom é que o seu valor como ícone dos contrastes
sociais e a consistência da sua obra são incontestáveis. O filme mostra
bem como ele catalisa as buscas por liberdade, os ímpetos emocionais e
afetivos do amor, os anseios da espiritualidade e vários outros
conflitos da condição humana.<br /><br />Das muitas pessoas ouvidas, as
declarações das ex-esposas e ex-amantes aparecem bem costuradas em suas
idiossincrasias. Em duas parcerias com Paulo Coelho, "Medo da Chuva" e
"A Maçã", deixou claro para elas o que pensava sobre o assunto: "É pena
que você pense que sou seu escravo / dizendo que sou seu marido e não
posso partir / Como as pedras imóveis na praia / eu fico ao seu lado
sem saber / dos amores que a vida me trouxe / e eu não pude saber"
(...) "Se esse amor / ficar entre nós dois / vai ser tão pobre amor /
vai se gastar".<br /><br />Dos relatos de parceiros, o que mais demonstra
leveza e amizade sincera é o do compositor Cláudio Roberto, que, dentre
outras, fez com Raul a música que virou sua marca. "Enquanto você se
esforça pra ser / um sujeito normal / e fazer tudo igual / eu do meu
lado / aprendendo a ser louco / um maluco total / na loucura real (...)
vou ficar com certeza / maluco beleza (...) E esse caminho que eu mesmo
escolhi / é tão fácil seguir / por não ter onde ir". Cláudio cantou e
contou bem-humorado da aventura do "raulseixismo", que contestava sem
precisar ser música de protesto.<br /><br />Conta que quando Raul inseria
trechos de rock estrangeiro em suas composições, argumentava que estava
fazendo desapropriação. Eles fizeram juntos "Aluga-se", música que
sugeria com sarcasmo que a solução para os brasileiros era alugar o
Brasil para os gringos. "Eles vão gostar / tem o Atlântico / tem vista
para o mar / a Amazônia / é o jardim do quintal". Por essas e outras, o
filme de Walter Carvalho impõe referências, num momento em que corre
solta a falsa ideia de que tudo é igual... a mesma coisa.<br /><br /><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/">www.flaviopaiva.com.br</a>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-64259695040004700162012-06-08T16:41:00.001-07:002012-06-08T16:41:09.281-07:00Delicadezas da caatinga - Diário do NordesteO bioma caatinga e seus admiradores ganharam um presente muito especial
nesta Semana do Meio Ambiente. Em angulações que apontam especialmente
para a beleza e para a riqueza de um lugar historicamente marcado pelos
estereótipos da estiagem, o "Guia de plantas visitadas por abelhas na
caatinga" (Fundação Brasil Cidadão, 2012), editado com apoio da
Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), da Universidade de São
Paulo (USP) e Petrobrás, reúne em suas páginas um importante conteúdo
visual e científico.<br /><br />A graciosidade das plantas, flores e
abelhas, capturadas em fotografias e estudos de coevolução, desabrocha
em espetaculares encantos que sacralizam a vida e enchem os olhos de
quem ama a natureza. Muitas dessas preciosidades brilham no anonimato da
mata branca porque, como elementos da biodiversidade de uma região
histórica e politicamente atrelada ao subdesenvolvimento, nunca estão
nas prioridades de catalogação, de referência estética e de
aproveitamento dos seus princípios ativos.<br /><br />Felizmente isso está
mudando, lentamente e a duras penas, mas está mudando. Este guia, com
seus textos e fotos sobre árvores, arbustos, subarbustos, trepadeiras e
herbáceas, realçados em formas, tamanhos, cores e época de florescimento
das flores observadas, é uma prova da existência de novos olhares
valorizando a caatinga. As biólogas Camila Maia-Silva, Cláudia Inês da
Silva, Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca e os biólogos Michael Hrncir e
Rubens Teixeira de Queiroz, autores do livro, colheram toda essa
maravilha em trabalhos de campo realizados no Ceará e no Rio Grande do
Norte, com financiamento da Capes e do CNPq.<br /><br />Em atraente projeto
gráfico de Mauri de Sousa, o livro mostra o galanteio das flores e dos
insetos que as polinizam, em consagração à luz e à delicadeza da força
botânica no fantástico campo vital do planeta. Mas a jandaíra, a jati, a
irapuã e as abelhas que forçaram um processo de mestiçagem como a
italiana e a africana, não estão ali somente para cumprir essa tarefa e
fazer o mel (fonte de geração de renda de muitas famílias), elas fazem
parte da paz silenciosa dos prazeres universais. E as flores não se
embelezam apenas para tornar a natureza mais bonita, mas para serem
amadas pelas abelhas, loucas pelo néctar açucarado do qual se alimentam.<br /><br />As
flores são os aparelhos reprodutores das plantas (angiospermas) e se
exibem nas mais variadas cores e formas: são triangulares, na
carnaubeira; vulvárias, no pau d´árco, jucazeiro, jequitirana,
catingueira e palma-do-campo; agarradinhas, na umburana, no juazeiro e
no pega-pinto; clitórides, no faveleiro, matapasto, jurubeba, na melosa e
no fedegoso; cone-vaginais, na sete-patacas, salsa e jetirana;
pubianas, no pacoté (algodão brabo) e na vassourinha-de-botão;
pirotécnicas, no feijão-brabo, na malícia e no angico; estrelinhas, no
umbuzeiro, e evolução estelar, no marmeleiro; só para citar algumas.<br /><br />À
medida que nos damos a oportunidade de apreciar e de sentir a grandeza
de vidas assim, tão livres e integrais, tão belas e produtivas, bem que
poderíamos reduzir as ambições que nos levam a desprezar a natureza e
para as quais muitas vezes empenhamos os melhores momentos de nosso
ciclo de existência. Publicações como o "Guia de plantas visitadas por
abelhas na caatinga" podem funcionar como espelhos purificadores do
nosso olhar e como fontes de negação da opacidade que impede o
desenvolvimento da necessária e urgente formação da nossa ecoconsciência
planetária.<br /><br />A apreciação desse guia foi para mim para mim uma
experiência gratificante. Ele fala especificamente do mundo onde eu
nasci. Observei cada árvore, cada flor e cada abelha com o respeito e a
reverência de quem folheia detalhadamente álbuns de amigos de infância.
Os botões florais da meninice, as influorescências das brincadeiras e as
pétalas vivas e variadas que nos aproximam, surgiram página a página,
enquanto eu ia dando sons às fotos e sentindo cores, cheiros e sabores
de tudo isso que, incrivelmente, permanece tão forte em mim.<br /><br />Meses
atrás tive sensação semelhante ao ler o livro "Flores da Caatinga"
(Instituto Nacional do Semiárido, Campina Grande, 2010), dos botânicos
Antônio Sérgio Castro e Arnóbio Cavalcante, editado com o apoio do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Entre fotos e textos ricos
da flora regional, esse livro oferece uma imensa expressão de
delicadeza das flores em plena rudeza da caatinga. Impossível passar
indiferente diante de tamanha lembrança da experiência de sentir-me
presente naquele cenário.<br /><br />Trabalhos de grande relevância como o
"Guia de plantas visitadas por abelhas" e o "Flores da Caatinga", não
servem somente para quem tem valor afetivo por essas plantas e suas
flores. A natureza está dentro até mesmo do mais citadino dos seres,
mesmo aquelas pessoas que, quando diante de flores naturais, dizem que
são tão perfeitas que parecem de plástico. Querendo ou não, o indivíduo
urbano está nas árvores das ruas, das praças e dos jardins. O fato de,
na cidade, o mundo botânico estar dividido e repartido por construções
de concreto presas em cintas de asfalto, pode até nos embrutecer, mas
não há como tirar totalmente de nós o vínculo original com a natureza.<br /><br />Imagens
como as das abelhas nas flores podem polinizar esse entendimento na
mais urbanizada das pessoas, mesmo que seja apenas pela boniteza, pelo
exótico, pela memória ancestral. A fotografia não é a natureza, mas pode
sugerir a vastidão do que não é percebido no desencontro da cultura com
o meio ambiente. As imagens de livros como esses servem para nos tirar
da passividade, da inércia, chamando a atenção à pobreza do nosso modelo
de vida contemporâneo, que precisa ser redirecionado, inclinando-se
preferencialmente a um estado de maior inteireza e de um sentir
continuado.<br /><br />As fotos de flores são diferentes dos buquês. Os
buquês antecipam o tempo de vida das flores, matando-as antes do tempo.
As fotos eternizam sem antecipar ciclos. Não gosto de dar flores de
presente; parece-me uma demonstração de fraqueza da relação. O maior
presente que se pode dar com flores é levar a pessoa querida ao jardim,
ao lugar onde as flores estão vivas, onde os insetos fazem a brincadeira
do gozo da polinização. Nessas circunstâncias, tirar uma flor
espontaneamente, quer pelo cheiro, quer pela beleza, para dar à pessoa
amada, faz parte da função da flor e do amor. É diferente.<br /><br />Tenho
pena também dos bonsais. Em nome do charme decorativo, essas plantinhas
são privadas da liberdade de viver na natureza para sobreviverem
inanidas por torturas, que vão desde a poda de raízes até a sede
controlada, passando por apertados vasos que impedem que cresçam. São
fáceis de cuidar, sujam pouco, eu sei, mas não é bom para abelhas,
borboletas e beija-flores. É diferente da poda feita com respeito ao
espreguiçar dos galhos. Acho horríveis também aqueles jardins
geométricos, que tiram a liberdade dos galhos, das folhas e das flores
vadiarem.<br /><br />Um livro de fotos ou um livro de pinturas e de textos
sobre flores é para mim mais bem-vindo do que buquês ou bonsais. Uma boa
foto de natureza não deixa o leitor somente no livro; ele passa a ter
vontade de ver de perto o original, saindo consequentemente do plano
mental para os planos vital e espiritual. E quando fazemos isso é porque
nos identificarmos com o voo das abelhas, com a firmeza das árvores, a
flexibilidade dos arbustos, a trama das trepadeiras e com a atração das
flores.ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-7789603868343506042012-05-24T16:10:00.000-07:002012-05-24T16:10:17.509-07:00Marketing da má nutrição - 24.05.2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLburzrtULmKYOZgjNI2LEp5BzlX4_nDqMfOQxOa06_qFCCcJD4e6p-sEc3Y2Rg-tKlWdUSg6OnyG3sjmouh52QEEyFVymZq-dQXsUGxOJ_2vqYilBTatgE69rpWAXmCVN1a18S7f7wFE/s1600/campanha-nao-obesidade-infantil-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLburzrtULmKYOZgjNI2LEp5BzlX4_nDqMfOQxOa06_qFCCcJD4e6p-sEc3Y2Rg-tKlWdUSg6OnyG3sjmouh52QEEyFVymZq-dQXsUGxOJ_2vqYilBTatgE69rpWAXmCVN1a18S7f7wFE/s320/campanha-nao-obesidade-infantil-2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A obesidade e
outras doenças crônicas decorrentes da má nutrição têm sido uma das
preocupações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que vem intensificando o
incentivo a programas voltados para a minimização desse problema mundialmente
tão grave quanto a fome. Seguindo essa orientação a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) preparou um conjunto de recomendações de políticas adequadas
sobre a promoção e publicidade de alimentos e bebidas não alcoólicas para
crianças.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Apesar de
prioritariamente dirigidas a governos, essas recomendações servem também para
deixar alertas as empresas socialmente responsáveis e os consumidores cidadãos.
No prefácio do documento, que acaba de ser traduzido para o português e
publicado pelo Instituto Alana, de São Paulo, a diretora da OPAS, Mirta Roses
Periago, diz que as crianças de todas as regiões do continente americano estão
sujeitas à publicidade invasiva e implacável de alimentos de baixo teor ou
nenhum valor nutricional, ricos em gordura, açúcar e sal.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Este é um problema
que ultrapassa condições sociais e econômicas, atingindo ricos e pobres, porque
é uma questão de deformação cultural, alimentada pelo insustentável modelo de
vida permeado pelo marketing sem limites em todo o planeta, por força do
interesse comercial das grandes corporações transnacionais. Os governos não
gostam nada disso porque esse marketing da má nutrição faz aumentar os gastos
públicos com saúde, repercutindo também na sustentabilidade ambiental.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A promoção e a
publicidade influenciam nas preferências alimentares e padrões de consumo das
crianças a ponto de enfraquecerem a eficácia do aconselhamento de mães, pais,
educadores e cuidadores sobre bons hábitos alimentares, colocando as crianças
em risco de obesidade. E quando fala em obesidade o documento refere-se à
extensão desse fator de risco, projetada em doenças não contagiosas do tipo
diabetes e doenças cardiovasculares.</span><br />
<br />
A OPAS/OMS parece partir da premissa de que, ao
ser tratado nos áreas social e econômica, o assunto produz convergências dos mais
diferentes interessados em contribuir na busca de soluções. Pode ser, mas sinto
falta de abordagens específicas nos campos cultural e ambiental, onde se
poderiam trabalhar mais integral e sistemicamente os pontos críticos
relacionados ao sensível e à natureza. De qualquer modo, a advertência para que
sejam criadas e implementadas políticas de redução da exposição das crianças ao
marketing da má nutrição é um passo importante para a diminuição de riscos para
a saúde infantil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Para equalizar o
entendimento do seu propósito, a Organização Pan-Americana da Saúde esclarece
bem o que palavras e expressões-chave querem dizer: "Promoção", por
exemplo, refere-se a todas as técnicas de marketing que levam mensagens e
apelos especiais às crianças, por quaisquer mídias e em quaisquer lugares que
elas frequentam, como escolas, creches, bibliotecas, instalações recreativas,
clubes e parques, assim como durante eventos esportivos e recreativos, voltados
para o público infantil. Entram nesse escopo ainda as mensagens dirigidas a
adultos, mas veiculadas em espaços e horários acessados por crianças, como nas
salas de cinema.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A palavra
"Alimento" nessa discussão diz respeito tanto a alimento saudável
quanto a alimento nocivo à saúde. Outro sentido de palavra realçado no documento
da OPAS/OMS é a própria palavra "Criança", definida como pessoa com
menos de 16 (dezesseis) anos de idade. E, claro, a expressão "Marketing de
alimentos para crianças", entendida como "mensagens de comunicações
comerciais destinadas a aumentar, ou causar o efeito de aumentar, o
reconhecimento, apelo e/ou consumo de determinados produtos e serviços,
inclusive tudo o que contribuir para anunciar ou de alguma forma promover um
produto ou serviço" (Recomendação 7, p. 11).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Ao todo são 13
orientações que resumem a decisão de sensibilizar e envolver os países
americanos, respeitando o contexto de cada um, na realização de políticas,
processos e procedimentos de combate à publicidade, como influenciadora nas
decisões de compras e indutora de preferências alimentares. A exposição
exagerada da infância às mensagens repetidas e invasivas das empresas, que
recorrem ao marketing para vincular emocionalmente as crianças às suas marcas,
forçando a venda de seus produtos, contraria drasticamente as boas recomendações
quanto a dietas alimentares para meninas e meninos.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Os setores
econômicos alimentícios, de bebidas e de publicidade podem ter nesse documento
uma fonte de consciência de parte das movimentações desfavoráveis ao marketing
da má nutrição atualmente existentes no mundo e que dizem respeito diretamente
aos seus negócios. Documentos como esse devem ser encarados pelas empresas como
oportunidade para balizá-las com relação a condutas desejáveis e, no caso
daquelas ainda adormecidas no velho paradigma do neoliberalismo, despertar para
buscas associadas à cidadania empresarial e à economia verde.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A publicação
traz inclusive situações de políticas públicas e privadas sobre marketing de
alimentos e bebidas não alcoólicas para crianças no continente americano. Mostra
que na América do Norte empresas canadenses procuraram elas mesmas definirem
classificações de consumo e que, mesmo assim, o governo está examinando opções
regulatórias para controlar o marketing de alimentos e bebidas para crianças.
As agências estadunidenses estão preparando, com apoio do Congresso, um
"jeitinho" de mercado para isentar de restrições esse tipo de
marketing. Os mexicanos contam desde 2010 com o endosso oficial de uma emenda
do Código Geral de Saúde, que reconhece os efeitos negativos da publicidade de
"alimentos pouco saudáveis".</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">O documento da
OPAS não apresenta registros de providências na América Central. Na América do
Sul, os principais destaques ficam para o Brasil, onde desde 2010 existe uma
regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exigindo
advertências em todas as formas de propaganda de produtos alimentícios ricos em
gordura, açúcar ou sal; e para a Colômbia, que incluiu uma definição clara de
obesidade em suas prioridades de saúde pública (lei de 2009), sob
responsabilidade do Ministério da Proteção Social e do Invima (Instituto
Nacional de Monitoramento de Alimentos e Medicamentos).</span><br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">O documento da
OPAS/OMS apresenta aspectos da eficácia das políticas públicas e privadas já
adotadas com relação ao marketing de alimentos e bebidas não alcoólicas para
crianças. Algumas diretrizes monitoradas indicam que estão sendo cumpridas.
Cita casos da indústria alimentícia na Austrália, Canadá, EUA e parte da
Europa. No que se refere a cumprimento de normas, monitoramentos feitos na
Irlanda, Espanha e Reino Unido demonstram nível elevado de cumprimento, como é
o caso espanhol da restrição ao uso de celebridades em comerciais para crianças.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Com esses
estudos o documento quer demonstrar que as restrições são viáveis na prática.
Dentre os casos apresentados cabe compartilhar um estudo qualitativo
encomendado pelo governo francês sobre os efeitos das mensagens nutricionais
naquele país. O trabalho revela que mais de setenta por cento das crianças
entrevistadas afirmaram que as mensagens nutricionais as fizeram prestar mais
atenção à alimentação saudável, embora mais de noventa por cento delas tenham
respondido que, mesmo assim, ainda pedem aos pais para comprar bebidas e
alimentos anunciados.</span><o:p></o:p></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br />
</span><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><a href="http://www.flaviopaiva.com.br/"><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #09824e; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 115%; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm; text-decoration: none; text-underline: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</span></b></a></span><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"> </span></span>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-42601152229498879822012-05-19T18:51:00.001-07:002012-05-19T18:51:09.144-07:00A inclusão dos muito ricos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYusguP4n8I4KYbS5m2-hbrmP_KueBd306SRD_ZwVuyTLO7hlIO1GHBf6cyJissSTpxEUgIqlyCWA_6xsJBtjGwcDx8lVopVpvTjO5RbAtvICsMhEPMtwoUZtwym4vts1SS9Nl3_wB5fA/s1600/tio-patinhas.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYusguP4n8I4KYbS5m2-hbrmP_KueBd306SRD_ZwVuyTLO7hlIO1GHBf6cyJissSTpxEUgIqlyCWA_6xsJBtjGwcDx8lVopVpvTjO5RbAtvICsMhEPMtwoUZtwym4vts1SS9Nl3_wB5fA/s320/tio-patinhas.png" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
As grandes transformações sociais,
ambientais, econômicas e geopolíticas em curso vêm, de "revestrés",
colocando em pauta os mais distintos motivos para nada ser como antes. Os
diferentes contextos não deixam de ter em comum o fenômeno da seleção
artificial criada pelas desigualdades. Assim, enquanto a União Europeia e os
Estados Unidos amargam a crise dos governos endividados, o Brasil tenta
aproveitar o momento para corrigir a sua desproporcional dívida social. Em
ambos os casos, parece inevitável a necessidade de tirar os muito ricos da
condição suprassocial em que se encontram.<br />
<br />
Os muito ricos precisam de ajuda para perceber o quão é importante se
integrarem à vida em sociedade, a fim de se beneficiarem dos relatos cotidianos
dos outros e terem oportunidades de transitar entre imaginários individuais e
alcançarem a renovação do olhar que poderá levá-los a transgredir os limites do
próximo e chegar a si. É que os megarricos acabam isolados nos aviões de poucos
lugares, nas casas de muitos cômodos vazios e, muitas vezes, não conseguem ter
sequer a liberdade de pedir licença a outras pessoas por não levarem em conta o
que quer que seja consentimento.<br />
<br />
É preocupante a situação dos muito ricos nas circunstâncias atuais. À medida
que o mundo busca formas de superação dos descompassos decorrentes da falta de
freios da sociedade do consumismo, eles ficam reféns do diálogo interno
corrosivo, como se não tivessem problemas reais a superar. E este é o grande
problema que os distanciam da reumanização indispensável à modelagem de um novo
padrão civilizatório. Os muito ricos somente terão chance de reintegração ao
corpo comum da sociedade se saírem da riqueza extrema que os leva a serem tão
marginais quanto os muito pobres.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Do jeito que a complexidade do mundo passa olhando de lado, está difícil alguém
rico demais conseguir ser pelo menos cidadão. A cidadania é uma conquista, não
pode ser simplesmente comprada. E o muito rico às vezes não sabe o que é a
expectativa de voto do eleitor comum, já que ele pode até bancar uma eleição de
uma vez, sem estranhar o fato de que, no atacado, a democracia perde o valor e
o título eleitoral fica sem sentido. Depois fica a lamentar que não sabe a
razão de nos novos padrões de comportamento terem perdido o poder de
influência.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
A grande indignação dos filhos dos muitos ricos é quando se descobrem clones da
vida extra sociedade, uma espécie de exílio, onde a apartação lhes tira a
utilidade social. Nem de leis eles precisam para não serem o que são. As leis
são produtos de esforços de adequação da justiça ao estágio de desenvolvimento
de cada comunidade, mas para muitos dos muito ricos elas não valem nada.
Independem delas para fazer o que quiserem. Vivem presos à uma distinção
supostamente incontestável e lei é para quem anda solto, para quem precisa
dessa coisa de respeitar os outros, de ter limites, convenções e regras
harmonizadoras da coletividade.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Tamanha idiossincrasia não pode ter vida longa em um processo de mudança
agressivo, no qual a cada ocasião diminui as áreas de manobra para quem fica
nos extremos, confundindo desejo com necessidade. Do mesmo modo que os muito
pobres terão que deixar a linha de sobrevivência, os muito ricos só terão
sossego se escaparem da linha de fogo das campanhas e mobilizações contra toda
sorte de alienação. Por isso, os muito ricos precisam aprender a passar a vida
a limpo. Os muito pobres têm que dar a volta por cima e eles, a volta por
baixo, saindo da trágica posição de marginalidade que a um só tempo os
distancia e os assemelha.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<o:p> </o:p>No olho do furacão, como estamos nesse momento de intensificação das crises
econômicas, dos modelos de estado-nação e dos desencantos institucionais, os
muitos ricos carecem de alguma política afirmativa para reintegrá-los. A
concentração severa de renda e de riqueza é uma roubada, um fardo muito pesado
para ser carregado em um mundo tão desigual. Isso, sabe-se bem, não é novidade;
a novidade é que hoje, as pessoas estão mais atentas, com mais canais de
comunicação e mais bem informadas de como essa desigualdade abismal entre os
muito ricos e os muito pobres foi construída.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Aquela figura do Tio Patinhas (Walt Disney) divertindo-se com dinheiro na
caixa-forte não existe mais, até porque o dinheiro hoje é praticamente virtual
e esse hábito de tomar banho com moedas e cédulas não passa de história das
histórias em quadrinhos. O cenário disruptivo atual sugere que os muito ricos
poderiam muito bem se contentar em ser apenas ricos. O excesso de recursos
muitas vezes rouba o usufruto da riqueza e isola socialmente quem é muito rico.
Sem contar que boa parte dessa concentração decorre de fatores que geram os
muito pobres, tais como a corrupção, o cassino financeiro, a mentalidade de colonizado
e os mercados de drogas e da violência.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
A expectativa de redução da riqueza excessiva tende a ser um objetivo social
dos novos tempos, mas, como nos tratamentos de dependência química, os muito
ricos precisam querer encontrar alternativas para o tratamento funcionar.
Enquanto os muito pobres temperam a fibra em gambiarras de toda ordem, os muito
ricos a atrofiam por terem tudo. A oportunidade de viver em sociedade pode ser
um bom propósito para quem se encontra nessa situação de riqueza incondicional.
Este é um conflito desesperador e não é bom para a sociedade que os muito ricos
se desesperem, como não o é também para os muito pobres.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Para aqueles que se decidirem por recuperar o sentido de coabitação do ser
social, o que não falta é o que fazer. Ações como a contribuição para que se
tenha mais áreas verdes, cultivos hidropônicos urbanos, ambientes públicos mais
acolhedores, professores mais bem remunerados e respeitados, acesso a bens e
serviços culturais de qualidade e o recolhimento de quantias relevantes para o
sistema previdenciário. São ações como essas que podem ajudar os muito ricos a
passarem a ter a calorosa sensação de fazer parte de uma comunidade, deixando o
território periférico do autoerotismo para sentirem o amor do semelhante na sua
diferença.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Com a estabilidade ameaçada, os muito ricos têm direito à inclusão. Alguns
bilionários europeus e estadunidenses partiram na frente na busca de
auto-inclusão e se posicionaram a favor de que os seus governos sobretaxem os
muito ricos. Pelo visto, despertaram para o fato de que não dá mais para fazer
de conta que toda a desgraça social e ambiental que está conturbando o mundo
não é com eles. Argumentam que estão dispostos a repartir também os sacrifícios
de superação da crise. Que seja instituída, então, uma tributação pesada a
situações como a de rendimentos de dinheiros operados em paraísos fiscais e a
lucros sobre capital virtual especulativo.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br />
Diante da sedimentação de uma nova mentalidade, voltada para a
sustentabilidade, muitos dos muito ricos estão ficando com vergonha de fazer
parte dos estratos de exclusão gananciosa. É possível que seja mesmo
constrangedor ter tanta riqueza e tão pouco contribuir para o fundo público.
Como tudo no mundo, esse perfil sempre teve suas exceções, com pessoas que
construíram ou herdaram grandes fortunas que decidiram meter a mão no bolso e
patrocinar causas sociais, ambientais e de inovação do bem.</div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify;">
Não é a toa que megarricos, líderes de grandes corporações europeias e
estadunidenses, estejam propondo a elevação de impostos sobre os ganhos e o
patrimônio dos mais abastados. Pode até não ser bondade, apenas instinto de
preservação, mas o que tudo indica é que a sociedade vem cobrando coletas
especiais no bojo de suas fortunas. Terão os muito ricos respostas para essa
nova realidade?<br />
<br />
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</span></a></div>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-40505126975958107482012-05-12T15:09:00.003-07:002012-05-12T15:09:59.744-07:00O lúdico e a autobiografia – Diário do Nordeste - 10.05.2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5KaXmoUrresbbt1xtYGWcdN1UrDFGzGlp-LvQftDKqhnyenZsGi2W0mnuDlxJDEMRQlC01PniSgJ3vM6Sh5tHAx9vbKQYcCEATDy6re2TuVmpV8krRHasC8KIpAsnH-xaotffISrGXEc/s1600/Figura1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5KaXmoUrresbbt1xtYGWcdN1UrDFGzGlp-LvQftDKqhnyenZsGi2W0mnuDlxJDEMRQlC01PniSgJ3vM6Sh5tHAx9vbKQYcCEATDy6re2TuVmpV8krRHasC8KIpAsnH-xaotffISrGXEc/s320/Figura1.jpg" width="228" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">O que faz uma
pessoa ser única é o fato de ela ser formada por si e por muitas partes de
outros. Assim é com todo mundo, embora isso não seja fácil de aceitar, em
decorrência do receio que temos de ser tragados pelas nossas diferenças
sociais, culturais, físicas e intelectuais. Mas, querendo ou não, só existe o
"eu" porque existe o "outro" e as relações sociais. Quanto
mais nos relacionamos, quanto mais compreendemos que o contato estabelecido entre
pessoas faz parte da constituição do si, mais nos integramos plenamente ao
contexto das transformações sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A busca desse
"outro" e do seu lugar na constituição do si acaba de ganhar dois
caminhos de reflexões e análises, com o livro "Alteridade - o outro como
problema" (Ludice, 2011), organizado pelas psicólogas Fátima Vasconcelos e
Érica Atem e lançado na quinta-feira passada (3/5) no auditório da livraria
Cultura em Fortaleza. Nessa perspectiva, o caminho do lúdico e o caminho da
autobiografia são trilhados por mais de 20 autores e pesquisadores do programa
de pós-graduação em Educação Brasileira (UFC) e de outras universidades
brasileiras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A reconstrução
de experiências vividas, como forma de colocar na roda os diversos
"outros" da nossa singularidade está na essência do primeiro e do
quarto capítulo e é oferecida pelas organizadoras como linha mestra do
trabalho. Ao tratar do fato de sermos como somos por resultarmos da interação
com outros indivíduos, grupos, comunidades e civilizações, a linguista Maria
Conceição Passeggi sintetiza a importância das narrativas (auto)biográficas nos
esforços de problematização da alteridade. Afirma que "se formar" é
levar a sério a reversibilidade do trabalho de reflexão sobre si mesmo,
realizado durante o processo de "biografização" (p. 35).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Identifiquei-me
imediatamente com essa abordagem, provavelmente porque o recurso da narrativa
(auto)biográfica está presente em todo o meu trabalho, sobretudo na construção
literária e musical para crianças. Mas o segundo e o terceiro capítulos me
atraíram repentinamente por recorrerem às práticas do brincar na busca do
entendimento das diferentes manifestações do ser-o-outro, como substância
elementar do "eu", e da crítica aos exageros da racionalidade
científica que, ao produzirem o discurso competente e incensarem os donos da
voz, acabam perdendo a experiência do contato e a sensibilidade distintiva
entre o que está no cognitivo e o que está na afetividade e nas emoções.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A ação
comunicativa na cultura da infância ocorre na liberdade que a criança tem da
aprendizagem imitativa e de evocar suposições para com elas assimilar o mundo e
a vida social. Como isso se dá nas circunstâncias de simulação em que o outro é
digital e o seu lugar de "circulação" é virtual, é o curioso e oportuno
tema abordado pelas psicólogas Márcia Duarte Medeiros e Fátima Vasconcelos.
Elas procuram depreender "como a subjetividade se organiza neste enquadre
relacional" (p. 91) de experienciação mediada pela tecnologia digital,
onde a identidade virtual (avatar) funciona como um segundo "eu" na
instabilidade do "outro" e da própria comunidade de pertencimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Na interface
digital das telas as autoras observam o quanto multiplicamos a nossa
heterogeneidade mutante, por meio de possibilidades oferecidas pelos programas
e aplicativos. Questionam se o faz-de-conta nos ambientes eletrônicos seria uma
situação imaginária, ao abrigo dos efeitos da realidade, e se, nesses casos, a
criança estaria apenas submetida à lógica da programação, ao contrário da sua
condição quando em estado de jogo simbólico. Particularmente, penso que a
criança sabe que é jogo e, preservada de exposições maiores do que as normais,
também sabe que jogar é diferente de brincar. Nessa pegada, o livro vai
refletindo e fazendo refletir, ora como "eu" e ora como
"outro".<br />
<br />
A afirmação dos ambientes de virtualidade como contextos socioculturais,
"descartada a ideia de considerar os mundos virtuais como
não-lugares" (p. 100), é uma solução metodológica de grande valor
"netnográfico". Deste modo, ficou bem mais natural a realização da
pesquisa de campo com indivíduos e grupos que frequentam ambientes virtuais. O
que não bateu bem com a minha percepção - e aqui mais uma vez o livro exerce o
papel dialógico do "eu" e do "outro" - foi a definição da
internet como um lócus. A internet é um sistema de comunicação em rede e não um
lugar. Afinal, os círculos de convivência acontecem em espaços como as salas de
bate-papo, nas praças de encontros disponibilizadas pelas empresas de serviços
de relacionamentos e nas estações de jogos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Em
"Alteridade - o outro como problema", encontramos recortes de
pesquisas que entrelaçam o lúdico e o (auto)biográfico na produção de insights
de interpretação da condição humana. Como para mim a alteridade, mais do que
uma qualidade relacional de produção do si, é um ato virtuoso a ser perseguido
na busca de alternativas sociais e ambientais para a pós-hipermodernidade,
inclusive na aproximação da cultura com as mensagens da natureza (A consciência
ecoplanetária, DN, 26/05/2011), livros como este do Ludice (Ludicidade,
Discurso e Identidades nas Práticas Educativas), são fundamentais pelo que têm
de perscrutador e de abertura para o debate.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Toda verdade é
provisória e o bom da ciência é saber dessa verdade. Assim, Érica Atem pôde
ficar livre para investigar aspectos da "aliança científica" pela
"nova infância", organizadas no plano discursivo do enunciado
"Dar voz a criança", flagrado por vezes em recrudescimentos
adultocêntricos. A "criança cidadã", a "criança
protagonista", a "criança testemunha" e "a criança ator
social" (p. 181) são algumas das expressões decorrentes da pidginização do
pensamento especializado sobre a infância. A autora questiona os diagnósticos e
as prescrições que consideram apenas os efeitos produzidos por essa unanimidade:
"a criação de políticas para dar voz à criança" (p. 182), e a moral
racional de uma epistemologia pouco afeita à valorização do desejo, da empatia,
da afetividade e dos sentimentos (p. 191).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Os riscos da
guetificação do mundo da criança, sob apelos como "crianças por elas
mesmas" e "propiciar que as crianças falem por si", postos por
Érica Atem, abrem uma janela no ponto de alteridade em que, na sua investigação
sobre memórias de brincadeiras, realizada na praia de Guriú, a pedagoga Maria
da Glória Feitosa Freitas, constata que "as escutas das lembranças dos
idosos e dos adultos informaram sobre um papel essencial do adulto nas práticas
lúdicas infantis" (p. 79). Para enxergar outras possibilidades nesses
discursos intercorrentes e multirreferenciais Érica propõe o deslocamento do
enunciado "dar voz a criança" da sua posição de "resposta"
para a de "problema" (p. 194).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A questão da
cultura lúdica na educação, abordada pelo psicopedagogo Genivaldo Macário de
Castro, chama a brincadeira como modalidade discursiva na práxis da docência,
pela (auto)biografia dos próprios educadores, suas "experiências
fundadoras e experiências formadoras" (p. 226). Essa conversa logo chega
aos linguistas Benedito Alves e João Batista Gonçalves, que analisam as
aplicações do termo "lúdico" nos documentos oficiais e seus
significados voltados à estética, diversão, lazer e ferramenta
didático-pedagógica (p. 118). E a socióloga Celeste Cordeiro critica "o
abandono de outras dimensões humanas ligadas ao espírito da ludicidade"
(p.74), reforçando que o tema é bom e urgente.</span></div>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-41104042293565341012012-05-03T04:17:00.000-07:002012-05-03T04:17:02.452-07:00O festival da América do Sul - 03.05.2012 – Diário do Nordeste<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinUxCGUy66nzVALk1IxTcKKa7qlG6waR4YHG3nYOx6XqntHsQRjsjwdian1fXGonZSZlzDjAwBMwaDg4zG8KIEvMwKm5vcQP_DIalgqysCknot03d0TlOq4_7yBtwMrPbUx8wdOgtZvaM/s1600/Topo_festival_America_do_Sul_2012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinUxCGUy66nzVALk1IxTcKKa7qlG6waR4YHG3nYOx6XqntHsQRjsjwdian1fXGonZSZlzDjAwBMwaDg4zG8KIEvMwKm5vcQP_DIalgqysCknot03d0TlOq4_7yBtwMrPbUx8wdOgtZvaM/s320/Topo_festival_America_do_Sul_2012.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A decoração da esplanada que se estende entre o casario do porto geral e
o rio Paraguai me dizia alegremente que a cidade tinha se preparado com zelo
para a festa. Luzes, decoração em tecidos coloridos, fitas brancas caindo das
árvores com pingentes e versos oferecidos ao público, dois palcos e tendas de
artesanato das nações sul-americanas formavam o cenário de realização do 9º
Festival América do Sul, realizado em Corumbá no período da quinta (26) a
segunda-feira (30) passadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;">No Palco das Américas, Dino Rocha, o rei do chamamé, e Osmar da Gaita,
davam o tom da musicalidade pantaneira, enquanto o grupo boliviano Sávia Andina
retribuía o acolhimento com a música do altiplano. Corumbá, que em tupi-guarani
(Curupah) quer dizer "lugar distante", assumia naquela noite linda de
abertura do festival, o posto de capital cultural do continente e da arte da
cidadania movida por música, teatro, dança, artes plásticas, cinema, literatura
e artesanato.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
O clima estava agradável, com pouco mais de vinte graus, para uma cidade
conhecida por seu intenso calor de lugar com solo rico em calcário, situada no
coração de uma reserva natural de planícies de áreas úmidas e alagadas. O calor
em abundância naquela noite se resumia ao calor humano. Adorei saber que em
Corumbá as pessoas se abraçam facilmente. A cidade de pouco mais de cem mil
habitantes é bem cuidada, com ruas de paralelepípedo relativamente largas, um
comércio que fecha ao meio-dia, mas que fica aberto até às dez da noite, e um
patrimônio arquitetônico preservado dentro do possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
O festival mexe com toda a cidade e a cidade funciona como sede do circuito de
eventos que transborda à vizinha Ladário e às cidades bolivianas de Puerto
Suarez e Puerto Quijarro. Corumbá está localizada no círculo geográfico central
do continente, na região fronteiriça do Mato Grosso do Sul, estado que tem
limites com cinco outros estados brasileiros (MT, GO, MG, SP e PR) e com dois
países (Bolívia e Paraguai). A musicalidade e a dança popular nesse
entroncamento cultural é rica em catira, polca, chamamé, rasqueado, caranguejo,
sarandi, revirão, piriricão e muito mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
No final da tarde tive o privilégio de ver um ensaio do coro, da orquestra e do
corpo de baile do Moinho Cultural Sul-Americano, idealizado pela bailarina
Márcia Rolon, presidente do Instituto do Homem Pantaneiro. Foi emocionante ver
e ouvir meninas e meninos de oito a dezoito anos transcendendo pela arte à
situação de vulnerabilidade social em que vivem. A peça apresentada recebeu o
título de "Luna" e foi composta pelo maestro Leonardo Sá, numa
construção de afetos e integração de linguagens, envolvendo as crianças e os
adolescentes do projeto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O movimento embalado pela encantadora "A cidade lunar", música
associada à passagem da "Lua Nova", na peça de cinco partes regida
pela sensível e diligente Noemi Uzeda, viúva do compositor, ficou em mim, está
em mim, com sua evolução de força lúdica: "Era uma cidade/ meio ao norte/
meio ao sul/ tudo se dançava/ meio samba/ meio blues/ Olha, pensa, dança e
conta/ 1, 2, 3, 4 (...) Vem ver como é linda a cidade lunar (...) A lua é
norte/ a lua é sul/ a lua é samba/ a lua é blues". "Luna" canta
as fases da vida, os ciclos do viver e o seu incessante conflito entre o que é
permanente e o que é vaidade. Curioso é que o autor morreu (2011) logo após
concluir esse hino-metáfora pela elevação da autoestima corumbaense.<br />
<br />
Surpresa boa foi o encontro que tive com o performático Ricardo Kelmer
(ex-Intocáveis Putz Band), com seu "irresistível charme de
insanidade". Ele me convidou para o sarau que faria no dia seguinte,
voltado para a "Vida, música e poesia de Vinicius de Moraes".
Desconfiei se, tirando a parte etílica, isso daria mesmo certo, mas depois que
ele me apresentou a cantora Vanessa Moreno, o violonista Daniel Conti e a
produtora Célia Terpins, percebi que era valendo. E no dia seguinte fui me
deliciar com o divertido show cênico-musical intitulado "Viniciarte".
A plateia que lotou o pátio do moinho riu, aplaudiu e certamente, como eu,
aprendeu muita coisa que não sabia sobre o poeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
A sessão do "Quebra-torto com letras" teve lançamento de livros,
debates e muita comida. Quebra-torto é o nome do típico café da manhã
pantaneiro, preparado com paçoca (feita com carne seca no pilão), jerimum
cozido, feijão, arroz-de-carreteiro, sopa paraguaia (bolo de milho, com queijo,
leite, ovos, cebola, manteiga e sal), bolinho de goma e chá queimado. Era mais
que isso, mas é disso que lembro. Para quem gosta de comer, a culinária do
pantanal é bem farta em carnes e peixes. Um grupo de entidades vem trabalhando
inclusive a filetagem de piranha para fazer sashimi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
Pouco a pouco, a cidade vai construindo um sistema integrado de cidadania a
partir da arte. Na área de música já existem parcerias com instituições de
Berlim (um dos mais influentes centros de cultura da União Europeia) e de
Aveiro (cidade portuguesa de culinária maravilhosa, à base de frutos do mar,
produzidos em alagados monumentais conhecidos como ria). O potencial das
sonoridades pantaneiras é muito grande. Basta abrir as portas das salas de música
do moinho que tem maestro regendo berrante, grupos de viola de cocho e um mundo
a imaginar do que resultou da trama de culturas fronteiriças do Brasil de
dentro, indo até as raízes ofaié-xavante, terena, caiuá e guarani.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 17.4pt;">O Festival América do Sul é um ambiente de circulação simbólica de um
continente que, diante do novo redesenho geopolítico mundial, necessita de
urgente integração plena, não só economicamente (Mercosul) ou politicamente
(Unasul), mas no campo das experiências organizadas de cultura. Uma política
continental que seja pensada e implementada com inspiração no diálogo cultural,
mas articulada sobretudo dentro do que tenho chamado de cidadania orgânica.
Algo que permita a constituição de pontos de vista claros sobre a condição de
diversidade, interdependência e sistemas de valores éticos e estéticos
presentes na função social da arte e da cidadania.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
A experiência de Corumbá no estreitamento de vínculos e na relação de
reciprocidade entre o Brasil e os vizinhos da América hispânica é um exemplo de
que dá para fazer ou ir fazendo alguma coisa quando a sociedade chama para si a
corresponsabilidade do desenvolvimento. O trabalho de consciência ambiental e
de educação social pela arte, praticado pelo Instituto do Homem Pantaneiro e
pelo Moinho Cultural Sul-Americano, em parceria com entidades e empresas locais
e nacionais é uma prova disso. E tudo ganha expressividade quando há
convergência de interesses públicos e privados na realização de eventos
integradores, como o Festival América do Sul.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
O conceito de encontro está impresso na programação. O público pôde ver no
mesmo palco, no mesmo dia e na mesma hora, o cantor carioca (Paulinho) Moska e
o cantor estadunidense-argentino Kevin Johansen; o acordeonista gaúcho Renato
Borghetti e a cantora paraguaia Perla ou a viola caipira do sul-mato-grossense
Marcos Assunção, o reggae e jazz da Orquestra Jungla portenha e a pegada sonora
do cantor mineiro Milton Nascimento. Tudo entre palestras, exposições,
oficinas, lendas e as charmosas sacolas de lonas reutilizadas de malotes de
carteiros, com broches de libélulas de vidro reciclado pela Cooperativa Vila
Moinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 17.4pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br />
<a href="http://www.flaviopaiva.com.br/"><b><span style="color: #09824e; mso-bidi-font-size: 11.0pt; text-decoration: none; text-underline: none;">http://www.flaviopaiva.com.br</span></b></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4219023445059645870.post-3789774475834791502012-04-26T15:36:00.001-07:002012-04-26T15:36:51.149-07:00McCartney na janela do tempo - 26.04.2012 – Diário do Nordeste<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtWfiecHilrriGz-wuZFeH6rwNertfp_Q3h6q3A-5BNOrUq54rv_3AwCMHY1TLeWwwzak-SJ-usJMhRV8xS2ThU_bUJXZKOCnOqkRl_R_ekimN7MeURfUy4B0PBeYhQcX4pTS__m-wgkE/s1600/paul_mccartney_kiev_concert.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtWfiecHilrriGz-wuZFeH6rwNertfp_Q3h6q3A-5BNOrUq54rv_3AwCMHY1TLeWwwzak-SJ-usJMhRV8xS2ThU_bUJXZKOCnOqkRl_R_ekimN7MeURfUy4B0PBeYhQcX4pTS__m-wgkE/s320/paul_mccartney_kiev_concert.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Fiquei com a
impressão de ter visto o tempo pela janela dos olhos do público, enquanto
assistia ao show de Paul McCartney, sábado passado (21) no estádio do Arruda,
em Recife. Para todo lado que eu me virava, fãs e apreciadores do som e da
trajetória do ex-Beatles atestavam um estado psicológico de atemporalidades: o
garoto de vinte e poucos anos estaria vendo Paul com 70? E o senhor de 70, via
em Paul um garoto de vinte e poucos anos?</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A aproximação de
gerações pela dilatação do tempo no ritmo da vida de uma obra que se fez
clássica tem em si a velocidade da convergência do romancear histórias
diferentes, embaladas pela força lírica de conhecidas melodias e inspiradas
interpretações. Cada um sente e mede o que passa e o que passou, ouvindo ao
vivo, cantando junto, vendo o autor em ação, a cantar e a tocar vários
instrumentos, na experiência de sentir de perto suas canções em liga com a
plateia.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Dos integrantes
dos Beatles, sempre tive mais empatia pelo George Harrison - o mais quieto, a
guitarra gentil, o "Concerto para Bangladesh" - embora Paul, Lennon e
Ringo, cada qual a seu modo nunca tenham saído do meu radar. Mais recentemente
eles voltaram a ter presença assídua lá em casa. Meus filhos gostam de tocar
suas canções, como estudantes de violão. Para mim, a descoberta dos Beatles por
eles é motivo de grande contentamento. Curtindo repertórios de qualidade como o
dos garotos de Liverpool é natural que não se deixem pegar pelas produções
caça-níqueis dirigidas a crianças e adolescentes.</span><br style="border-color: initial; border-image: initial; border-width: initial;" />
<br style="border-color: initial; border-image: initial; border-width: initial;" />
Em 18 de junho deste ano, James Paul McCartney
completará 70 anos. Meus filhos, de 12 e de 10 anos, cantam as suas músicas e
cantaram no estádio do Arruda, onde havia muitas outras crianças fazendo o
mesmo. Paul McCartney é o compositor e coautor de várias das melhores e mais
perenes músicas da história da canção de massa de qualidade e que os Beatles
continuam como referência de banda mais influente do pop-rock de todos os
tempos. Em quarenta anos de estrada ele pode ser visto na janela do tempo como
um dos maiores fenômenos da música mundial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Somando o
repertório dos Beatles e da sua carreira solo, com Wings, The Fireman e nos
últimos dez anos com uma excepcional banda de turnê, formada por Brian Ray
(baixo e guitarra), Rusty Anderson (guitarra), Paul Wickens (teclados) e o baterista
Abe Laboriel Jr, ele tem canções para fazer naturalmente shows honestos como
esse, com 35 músicas e quase três horas duração. E ele toca tudo isso de forma
relaxada, espontânea, condescendente e na simplicidade das grandes estrelas de
verdade, inclusive quando se diverte fazendo cola de termos e frases em
português, para animar mais ainda a galera: "Povo arretado!".</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A recepção na
arena pernambucana foi calorosa. Parece que só quem não percebeu isso foi o
enviado especial do jornal Folha de São Paulo, Rodrigo Levino, que fez uma
patética crítica ao que chamou de "plateia dispersa e pouco
reverente" ("Ex-beatle sua para sacudir o público em Recife", p.
E12, FSP, 23/04/2012). A começar pelo medíocre trocadilho do título, no qual
recorre ao verbo suar, no sentido de transpirar (e isso é verdade, Paul ficou
com a camisa molhada de suor) e no sentido de esforço extra para conseguir algo
de alguém; no dizer do dito enviado: "Paulo venceu o round contra o
público". Fazer o quê? Mesmo em espetáculos maravilhosos como esse no
Recife, tem sempre um mala culturalmente deslocado e incomodado com o que não é
espelho.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">A viseira do
preconceito desse "enviado" calculou em 40 mil um público de mais de
50 mil, disse que o show teve poucas novidades e desdenhou do que chamou de
"frases de efeito pronunciadas em algo próximo do português".
Escreveu que "o show demorou um pouco a engrenar" e que "o
cantor se mostrou distraído no primeiro terço da apresentação". Ao
destacar particularidades do show, como um medley de canções dos Beatles,
alfinetou: "Mas essas particularidades passaram quase despercebidas pelo
público". Ao comparar o entusiasmo da plateia com "bingo de
quermesse", o "enviado" valeu-se de sua mediocridade para
afirmar que a plateia só se conectou quando ouviu os fogos que ornamentaram
"Live And Let Die" e ao acompanhar "Hey Jude", por que
"é fácil cantar o nanananá".</span><br style="border-color: initial; border-image: initial; border-width: initial;" />
<br style="border-color: initial; border-image: initial; border-width: initial;" />
Depois de ler o comentário do "enviado",
lembrei primeiro de "Let it be" ("Deixe estar / deixe estar /
haverá uma resposta") e logo em seguida me ocorreu a indagação de
"Eleanor Rigby" ("De onde vêm as pessoas solitárias? / De onde
elas são?"). E deixei para lá. É melhor deixar para lá. Paul McCartney não
saiu de St. John´s Wood ou do condado de East Sussex, nas cercanias de Londres,
para dar cartaz a esse tipo de futilidade. Em Pernambuco, ficou hospedado no
Nannai Beach Resort Hotel, na bela praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, com
ponto de apoio no Golden Tulip, de Jaboatão dos Guararapes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">No sábado (21),
quando chegou ao estádio do Arruda no início da noite, baixou o vidro do carro
e agradeceu aos fãs que abriram a fila para o seu carro entrar ao lado do
portão 5, que dava acesso à arquibancada superior. O aceno teve sabor de
retribuição pelo acolhimento. Recife abriu a parte brasileira da turnê "On
the run", que já passou também por Montevidéu, Assunção e Bogotá,
encerrada ontem, na Ressacada, em Florianópolis. No bis, ele voltou ao palco
agitando a bonita bandeira de Pernambuco, para cantar "Lady Madonna",
"Day Tripper" e "Get Back". Estava empolgado e empolgava o
público; tanto que após ouvir o "Paul, Paul, Paul..." dos fãs,
retornou outra vez e encerrou com "Yesterday" e um pot-pourri de
sucessos.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Teve de tudo
nesse show. Foi espetáculo completo. Logo no início, os dois painéis de alta definição,
com 48 metros de altura, dispostos nas laterais do palco, exibiram colagens,
algumas em movimento, contando da trajetória de Paul McCartney. Esses arquivos
visuais foram expressando sentimentos sonoros, puxando a memória afetiva de uns
e aguçando a curiosidade de outros, aquecendo os milhares de espectadores para
a chegada do som ao vivo. E a festa começou com "Magical Mystery
Tours", "Junior´s Farm" e "All My Loving". No céu, as
Três Marias faziam parte das estrelas que viram o show lá de cima.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">McCartney tocou
violão, guitarra, piano, bandolim e cavaquinho, além do seu emblemático baixo
Hofner, modelo violino, leve, simétrico e de som encorpado. Psicodelizou a cena
com uma guitarra e um piano que pareciam as pinturas em acrílica do Dim. Quando
cantou a sutil "Blackbird", inspirada no desejo de liberdade da
mulher negra, a imagem de uma lua maravilhosa invadiu o cenário, fluiu pelos
telões laterais e encheu o estádio de poesia. Escolhidos pela produção, fãs de
diversas regiões do Brasil subiram ao palco. Uma moça pernambucana virou as
costas para Paul, levantou o cabelo e pediu um autógrafo no pescoço, no que ele
espirituosamente perguntou: "O que sua mãe vai achar disso?". E
autografou.</span><br style="border-color: initial; border-image: initial; border-width: initial;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">Na janela do
tempo, o show teve composições novas, como "Only our Hearts", e
também homenagens. Paul ofereceu "Here Today" a John Lennon,
"Something", a George Harrison, "Yellow Submarine" a Ringo
Starr, "My Valentine", a Nancy Shevell (51), com quem casou no ano
passado, e "Maybe I´m Amazed", para a ex-mulher Linda Eastman (1941 -
1998). E para o público que foi ao estádio do Arruda naquela "noite que me
lembrará você", dedicou "The Night Before" tocada por ele pela
primeira vez no Brasil.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>ONG HISTORIA VIVAhttp://www.blogger.com/profile/00976710544046943943noreply@blogger.com0