O entendimento de influência está diretamente relacionado com o nível de expectativas e de idealizações da sociedade (...)
As pessoas precisam identificar sinais de influência nos grupos aos quais pertencem para se sentirem integradas ao todo
As intensas transformações que estão ocorrendo em todo o mundo vêm forçando uma atualização do sentido de influência. O que antes estava mais para fama e prestígio resultantes de cargos ocupados e posições econômicas, hoje cai melhor quando associado a quem fomenta mudanças capazes de alterar o comportamento social e o que há de antiquado na lógica dos poderes estabelecidos. A complexidade social se pronuncia em avanços de democracia participativa e em desejos e práticas de sustentabilidade.
Nesse desdobramento de variantes fica cada vez mais nítida a necessidade de concatenação entre a compreensão das mudanças e os acontecimentos. A hora é de ajustar o olhar e de encarar de frente a realidade posta em sua complementaridade e interdependência. Foi o que fez a revista Fale!, que em edição especial de dez anos, lançada na segunda-feira (24) passada, no Gran Marquise Hotel, publicou uma lista dos 30 cearenses mais influentes, de acordo com uma consulta feita durante quatro meses com formadores de opinião e leitores, tendo como base cinco categorias sociais definidas pela redação: 1) Políticos, 2) empresários e empreendedores, 3) Artistas e Intelectuais, 4) Profissionais Liberais e 5) Esportes.
Ao entrecruzar numa mesma lista os nomes de pessoas que atuam em áreas distintas, sem ordem de importância, a Fale! se firma com destemor diante das tendências mundiais e demonstra que está aberta aos novos tempos. A iniciativa da revista editada pelos jornalistas Luís-Sérgio Santos e Isabela Martin é inovadora em seu conceito, à medida que trata a influência de modo intrinsecamente relacionado à relevância social. A lista me parece um retrato fiel de como enxergamos a realidade. O número de políticos e de empresários, sem contar com os empresários que são políticos, está muito desproporcional, se observarmos que a categoria Artistas e Intelectuais só conta com três nomes e em Esportes não aparece ninguém. É bom registrar também que dos trinta, apenas três são mulheres.
Adísia Sá, Airton Queiroz, Alexandre Pereira, Beto Studart, Carlos Fujita, César Asfor Rocha, Cid Gomes, Ciro Gomes, Deusmar Queiroz, Domingos Filho, Ernesto Sabóia, Eunício Oliveira, Evangelista Torquato, Flávio Paiva, Ivens Dias Branco, José Carlos Pontes, José Guimarães, José Pimentel, Luizianne Lins, Lustosa da Costa, Mairton Lucena, Nelson Martins, Paulo Oliveira, Roberto Cláudio, Roberto Macêdo, Roseane Medeiros, Salmito Filho, Tasso Jereissati, Ubiratan Aguiar e Valdetário Monteiro. Eis a relação, em ordem alfabética, dos 30 homenageados. Em que pese o desequilíbrio entre as categorias, a lista está bem resolvida, como exercício de experimentação da relação imprensa e cidadania. Se há algo a consertar ou concertar é a realidade.
O entendimento de influência está diretamente relacionado com o nível de expectativas e de idealizações da sociedade. A lista da Fale!, tanto indica que os editores apontaram o radar da influência para o rumo certo, como, em seu resultado, faz notar o quanto ainda devemos amadurecer para encontrar uma estabilidade perceptiva entre fatores sociais como cultura, educação, política e economia. Esse equilíbrio ou a falta dele afetará o nosso sentido de destino e determinará o nosso nível de desenvolvimento. A satisfação social fica mais pronunciada quando há o entendimento de uma identidade social sistêmica e compartilhada.
Valorizar diversos nodos de poder e suas interconexões torna a vida mais rica. As pessoas precisam identificar sinais de influência nos grupos aos quais pertencem para se sentirem integradas ao todo. É assim que uma coletividade torna-se mais dinâmica e uma sociedade se fortalece. As cinco categorias abertas pela revista Fale! para consulta pública formam um bom leque para a identificação de papéis modelos, em contraponto aos velhos conceitos de influência, modelados em listas de mais ricos, de políticos mais poderosos, de autores mais vendidos, de celebridades midiáticas, de nomes que compõem as fichas de cerimoniais e de personalidades que ocupam os espaços institucionalizados.
Temos o momento em mãos, o que o editor e publisher Luís-Sergio Santos chama de consistência do agora, conciliada com variáveis históricas. Não precisamos desfazer nada; só precisamos mudar de tempo; para o tempo atual. Estamos onde estamos por tudo o que somos e fizemos. Vamos aplaudir, mas sem esquecer de que esse é apenas um começo de construção de alternativas ainda não pensadas. Em sua carta editorial a Fale! revela a consciência da redação quanto a isso: "Associamos o conceito de influência diretamente à capacidade de influenciar e não diretamente a quem, episodicamente ou acidentalmente, está exercendo algum tipo de poder constituído. Mesmo assim quem habita este status leva vantagem, sim, em relação aos influentes da sociedade civil. Não é à toa que a categoria Políticos constitui a maior lista".
Luís-Sérgio admite que o adjetivo "influente" traduz prestígio, mas um prestígio vinculado a reconhecimento e credibilidade. E sintetiza bem a questão ao dizer que "Nossa lista não é sobre a influência do poder, mas sobre o poder da influência". Assim, a Fale! inova e com ousadia coloca em prática uma certa alteração no entendimento de que a identificação social se dá quando temos a sensação de pertencer a vários espaços. Uma lista altamente enxuta e mesclada por cinco categorias coloca o propósito mentalmente no presente e projeta um novo conceito de influência como um farol destinado a descortinar novos parâmetros em um mundo que se transforma.
O bem-estar social se constitui na maneira de encararmos amando ou não os desafios do viver. Para saber o que fazer na escolha dos vários futuros que nos são apresentados a todo instante é preciso que o que acreditamos esteja em pauta, em horizonte de valor e em situação de reconhecimento. A lista dos 30 cearenses mais influentes organizada pela Fale!, mesmo desproporcional quanto ao peso das categorias traz uma boa renovação de nomes no campo das lideranças políticas. Esse oxigênio equilibra um pouco a necessidade de observarmos que a contribuição ao desenvolvimento é uma tarefa transgeracional.
Fazer uma lista de pessoas influentes do presente e no presente é sempre um risco, pois a realidade está perto demais para o distanciamento fundamental a qualquer escolha que se proponha sincera. Neste aspecto, em seus dez anos de circulação ininterrupta, a Fale! se coloca como uma revista ligada, desperta, livre dos vícios do conforto de ficar no lugar comum. Em linha com o crescimento da consciência cidadã e com a intensificação dos fluxos de comunicação entre pessoas e grupos sociais, os esforços da revista apontam para a noção atualizada de influência na vida social, cultural e política cearense. A lista dos 30 mais influentes é um jeito de encarar o que se move, o que instiga, inspira e faz fazer, na reinvenção permanente do cotidiano.
Estou muito contente por fazer parte da lista da Fale!, Compartilho com você, caro/a leitor/a, o belo troféu esculpido em Petra, na Jordânia. Esse reconhecimento representa um reforço a tudo o que tenho defendido e praticado com relação ao jornalismo expressionista, à literatura sincera, ao respeito à infância, à valorização da cultura brasileira no diálogo global, à luta pela leitura e pelo pensamento não subordinado, à defesa da sustentabilidade de fato, à emancipação social, a cidadania orgânica, o combate ao consumo perdulário e ao egoísmo social, dentre outros ideais que movem o meu viver.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
O novo conceito de influência – 27/5/2010 – Coluna Flávio Paiva
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