Fiquei com a
impressão de ter visto o tempo pela janela dos olhos do público, enquanto
assistia ao show de Paul McCartney, sábado passado (21) no estádio do Arruda,
em Recife. Para todo lado que eu me virava, fãs e apreciadores do som e da
trajetória do ex-Beatles atestavam um estado psicológico de atemporalidades: o
garoto de vinte e poucos anos estaria vendo Paul com 70? E o senhor de 70, via
em Paul um garoto de vinte e poucos anos?
A aproximação de
gerações pela dilatação do tempo no ritmo da vida de uma obra que se fez
clássica tem em si a velocidade da convergência do romancear histórias
diferentes, embaladas pela força lírica de conhecidas melodias e inspiradas
interpretações. Cada um sente e mede o que passa e o que passou, ouvindo ao
vivo, cantando junto, vendo o autor em ação, a cantar e a tocar vários
instrumentos, na experiência de sentir de perto suas canções em liga com a
plateia.
Dos integrantes
dos Beatles, sempre tive mais empatia pelo George Harrison - o mais quieto, a
guitarra gentil, o "Concerto para Bangladesh" - embora Paul, Lennon e
Ringo, cada qual a seu modo nunca tenham saído do meu radar. Mais recentemente
eles voltaram a ter presença assídua lá em casa. Meus filhos gostam de tocar
suas canções, como estudantes de violão. Para mim, a descoberta dos Beatles por
eles é motivo de grande contentamento. Curtindo repertórios de qualidade como o
dos garotos de Liverpool é natural que não se deixem pegar pelas produções
caça-níqueis dirigidas a crianças e adolescentes.
Em 18 de junho deste ano, James Paul McCartney completará 70 anos. Meus filhos, de 12 e de 10 anos, cantam as suas músicas e cantaram no estádio do Arruda, onde havia muitas outras crianças fazendo o mesmo. Paul McCartney é o compositor e coautor de várias das melhores e mais perenes músicas da história da canção de massa de qualidade e que os Beatles continuam como referência de banda mais influente do pop-rock de todos os tempos. Em quarenta anos de estrada ele pode ser visto na janela do tempo como um dos maiores fenômenos da música mundial.
Em 18 de junho deste ano, James Paul McCartney completará 70 anos. Meus filhos, de 12 e de 10 anos, cantam as suas músicas e cantaram no estádio do Arruda, onde havia muitas outras crianças fazendo o mesmo. Paul McCartney é o compositor e coautor de várias das melhores e mais perenes músicas da história da canção de massa de qualidade e que os Beatles continuam como referência de banda mais influente do pop-rock de todos os tempos. Em quarenta anos de estrada ele pode ser visto na janela do tempo como um dos maiores fenômenos da música mundial.
Somando o
repertório dos Beatles e da sua carreira solo, com Wings, The Fireman e nos
últimos dez anos com uma excepcional banda de turnê, formada por Brian Ray
(baixo e guitarra), Rusty Anderson (guitarra), Paul Wickens (teclados) e o baterista
Abe Laboriel Jr, ele tem canções para fazer naturalmente shows honestos como
esse, com 35 músicas e quase três horas duração. E ele toca tudo isso de forma
relaxada, espontânea, condescendente e na simplicidade das grandes estrelas de
verdade, inclusive quando se diverte fazendo cola de termos e frases em
português, para animar mais ainda a galera: "Povo arretado!".
A recepção na
arena pernambucana foi calorosa. Parece que só quem não percebeu isso foi o
enviado especial do jornal Folha de São Paulo, Rodrigo Levino, que fez uma
patética crítica ao que chamou de "plateia dispersa e pouco
reverente" ("Ex-beatle sua para sacudir o público em Recife", p.
E12, FSP, 23/04/2012). A começar pelo medíocre trocadilho do título, no qual
recorre ao verbo suar, no sentido de transpirar (e isso é verdade, Paul ficou
com a camisa molhada de suor) e no sentido de esforço extra para conseguir algo
de alguém; no dizer do dito enviado: "Paulo venceu o round contra o
público". Fazer o quê? Mesmo em espetáculos maravilhosos como esse no
Recife, tem sempre um mala culturalmente deslocado e incomodado com o que não é
espelho.
A viseira do
preconceito desse "enviado" calculou em 40 mil um público de mais de
50 mil, disse que o show teve poucas novidades e desdenhou do que chamou de
"frases de efeito pronunciadas em algo próximo do português".
Escreveu que "o show demorou um pouco a engrenar" e que "o
cantor se mostrou distraído no primeiro terço da apresentação". Ao
destacar particularidades do show, como um medley de canções dos Beatles,
alfinetou: "Mas essas particularidades passaram quase despercebidas pelo
público". Ao comparar o entusiasmo da plateia com "bingo de
quermesse", o "enviado" valeu-se de sua mediocridade para
afirmar que a plateia só se conectou quando ouviu os fogos que ornamentaram
"Live And Let Die" e ao acompanhar "Hey Jude", por que
"é fácil cantar o nanananá".
Depois de ler o comentário do "enviado", lembrei primeiro de "Let it be" ("Deixe estar / deixe estar / haverá uma resposta") e logo em seguida me ocorreu a indagação de "Eleanor Rigby" ("De onde vêm as pessoas solitárias? / De onde elas são?"). E deixei para lá. É melhor deixar para lá. Paul McCartney não saiu de St. John´s Wood ou do condado de East Sussex, nas cercanias de Londres, para dar cartaz a esse tipo de futilidade. Em Pernambuco, ficou hospedado no Nannai Beach Resort Hotel, na bela praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, com ponto de apoio no Golden Tulip, de Jaboatão dos Guararapes.
Depois de ler o comentário do "enviado", lembrei primeiro de "Let it be" ("Deixe estar / deixe estar / haverá uma resposta") e logo em seguida me ocorreu a indagação de "Eleanor Rigby" ("De onde vêm as pessoas solitárias? / De onde elas são?"). E deixei para lá. É melhor deixar para lá. Paul McCartney não saiu de St. John´s Wood ou do condado de East Sussex, nas cercanias de Londres, para dar cartaz a esse tipo de futilidade. Em Pernambuco, ficou hospedado no Nannai Beach Resort Hotel, na bela praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, com ponto de apoio no Golden Tulip, de Jaboatão dos Guararapes.
No sábado (21),
quando chegou ao estádio do Arruda no início da noite, baixou o vidro do carro
e agradeceu aos fãs que abriram a fila para o seu carro entrar ao lado do
portão 5, que dava acesso à arquibancada superior. O aceno teve sabor de
retribuição pelo acolhimento. Recife abriu a parte brasileira da turnê "On
the run", que já passou também por Montevidéu, Assunção e Bogotá,
encerrada ontem, na Ressacada, em Florianópolis. No bis, ele voltou ao palco
agitando a bonita bandeira de Pernambuco, para cantar "Lady Madonna",
"Day Tripper" e "Get Back". Estava empolgado e empolgava o
público; tanto que após ouvir o "Paul, Paul, Paul..." dos fãs,
retornou outra vez e encerrou com "Yesterday" e um pot-pourri de
sucessos.
Teve de tudo
nesse show. Foi espetáculo completo. Logo no início, os dois painéis de alta definição,
com 48 metros de altura, dispostos nas laterais do palco, exibiram colagens,
algumas em movimento, contando da trajetória de Paul McCartney. Esses arquivos
visuais foram expressando sentimentos sonoros, puxando a memória afetiva de uns
e aguçando a curiosidade de outros, aquecendo os milhares de espectadores para
a chegada do som ao vivo. E a festa começou com "Magical Mystery
Tours", "Junior´s Farm" e "All My Loving". No céu, as
Três Marias faziam parte das estrelas que viram o show lá de cima.
McCartney tocou
violão, guitarra, piano, bandolim e cavaquinho, além do seu emblemático baixo
Hofner, modelo violino, leve, simétrico e de som encorpado. Psicodelizou a cena
com uma guitarra e um piano que pareciam as pinturas em acrílica do Dim. Quando
cantou a sutil "Blackbird", inspirada no desejo de liberdade da
mulher negra, a imagem de uma lua maravilhosa invadiu o cenário, fluiu pelos
telões laterais e encheu o estádio de poesia. Escolhidos pela produção, fãs de
diversas regiões do Brasil subiram ao palco. Uma moça pernambucana virou as
costas para Paul, levantou o cabelo e pediu um autógrafo no pescoço, no que ele
espirituosamente perguntou: "O que sua mãe vai achar disso?". E
autografou.
Na janela do
tempo, o show teve composições novas, como "Only our Hearts", e
também homenagens. Paul ofereceu "Here Today" a John Lennon,
"Something", a George Harrison, "Yellow Submarine" a Ringo
Starr, "My Valentine", a Nancy Shevell (51), com quem casou no ano
passado, e "Maybe I´m Amazed", para a ex-mulher Linda Eastman (1941 -
1998). E para o público que foi ao estádio do Arruda naquela "noite que me
lembrará você", dedicou "The Night Before" tocada por ele pela
primeira vez no Brasil.
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