A obesidade e
outras doenças crônicas decorrentes da má nutrição têm sido uma das
preocupações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que vem intensificando o
incentivo a programas voltados para a minimização desse problema mundialmente
tão grave quanto a fome. Seguindo essa orientação a Organização Pan-Americana
da Saúde (OPAS) preparou um conjunto de recomendações de políticas adequadas
sobre a promoção e publicidade de alimentos e bebidas não alcoólicas para
crianças.
Apesar de
prioritariamente dirigidas a governos, essas recomendações servem também para
deixar alertas as empresas socialmente responsáveis e os consumidores cidadãos.
No prefácio do documento, que acaba de ser traduzido para o português e
publicado pelo Instituto Alana, de São Paulo, a diretora da OPAS, Mirta Roses
Periago, diz que as crianças de todas as regiões do continente americano estão
sujeitas à publicidade invasiva e implacável de alimentos de baixo teor ou
nenhum valor nutricional, ricos em gordura, açúcar e sal.
Este é um problema
que ultrapassa condições sociais e econômicas, atingindo ricos e pobres, porque
é uma questão de deformação cultural, alimentada pelo insustentável modelo de
vida permeado pelo marketing sem limites em todo o planeta, por força do
interesse comercial das grandes corporações transnacionais. Os governos não
gostam nada disso porque esse marketing da má nutrição faz aumentar os gastos
públicos com saúde, repercutindo também na sustentabilidade ambiental.
A promoção e a
publicidade influenciam nas preferências alimentares e padrões de consumo das
crianças a ponto de enfraquecerem a eficácia do aconselhamento de mães, pais,
educadores e cuidadores sobre bons hábitos alimentares, colocando as crianças
em risco de obesidade. E quando fala em obesidade o documento refere-se à
extensão desse fator de risco, projetada em doenças não contagiosas do tipo
diabetes e doenças cardiovasculares.
A OPAS/OMS parece partir da premissa de que, ao ser tratado nos áreas social e econômica, o assunto produz convergências dos mais diferentes interessados em contribuir na busca de soluções. Pode ser, mas sinto falta de abordagens específicas nos campos cultural e ambiental, onde se poderiam trabalhar mais integral e sistemicamente os pontos críticos relacionados ao sensível e à natureza. De qualquer modo, a advertência para que sejam criadas e implementadas políticas de redução da exposição das crianças ao marketing da má nutrição é um passo importante para a diminuição de riscos para a saúde infantil.
A OPAS/OMS parece partir da premissa de que, ao ser tratado nos áreas social e econômica, o assunto produz convergências dos mais diferentes interessados em contribuir na busca de soluções. Pode ser, mas sinto falta de abordagens específicas nos campos cultural e ambiental, onde se poderiam trabalhar mais integral e sistemicamente os pontos críticos relacionados ao sensível e à natureza. De qualquer modo, a advertência para que sejam criadas e implementadas políticas de redução da exposição das crianças ao marketing da má nutrição é um passo importante para a diminuição de riscos para a saúde infantil.
Para equalizar o
entendimento do seu propósito, a Organização Pan-Americana da Saúde esclarece
bem o que palavras e expressões-chave querem dizer: "Promoção", por
exemplo, refere-se a todas as técnicas de marketing que levam mensagens e
apelos especiais às crianças, por quaisquer mídias e em quaisquer lugares que
elas frequentam, como escolas, creches, bibliotecas, instalações recreativas,
clubes e parques, assim como durante eventos esportivos e recreativos, voltados
para o público infantil. Entram nesse escopo ainda as mensagens dirigidas a
adultos, mas veiculadas em espaços e horários acessados por crianças, como nas
salas de cinema.
A palavra
"Alimento" nessa discussão diz respeito tanto a alimento saudável
quanto a alimento nocivo à saúde. Outro sentido de palavra realçado no documento
da OPAS/OMS é a própria palavra "Criança", definida como pessoa com
menos de 16 (dezesseis) anos de idade. E, claro, a expressão "Marketing de
alimentos para crianças", entendida como "mensagens de comunicações
comerciais destinadas a aumentar, ou causar o efeito de aumentar, o
reconhecimento, apelo e/ou consumo de determinados produtos e serviços,
inclusive tudo o que contribuir para anunciar ou de alguma forma promover um
produto ou serviço" (Recomendação 7, p. 11).
Ao todo são 13
orientações que resumem a decisão de sensibilizar e envolver os países
americanos, respeitando o contexto de cada um, na realização de políticas,
processos e procedimentos de combate à publicidade, como influenciadora nas
decisões de compras e indutora de preferências alimentares. A exposição
exagerada da infância às mensagens repetidas e invasivas das empresas, que
recorrem ao marketing para vincular emocionalmente as crianças às suas marcas,
forçando a venda de seus produtos, contraria drasticamente as boas recomendações
quanto a dietas alimentares para meninas e meninos.
Os setores
econômicos alimentícios, de bebidas e de publicidade podem ter nesse documento
uma fonte de consciência de parte das movimentações desfavoráveis ao marketing
da má nutrição atualmente existentes no mundo e que dizem respeito diretamente
aos seus negócios. Documentos como esse devem ser encarados pelas empresas como
oportunidade para balizá-las com relação a condutas desejáveis e, no caso
daquelas ainda adormecidas no velho paradigma do neoliberalismo, despertar para
buscas associadas à cidadania empresarial e à economia verde.
A publicação
traz inclusive situações de políticas públicas e privadas sobre marketing de
alimentos e bebidas não alcoólicas para crianças no continente americano. Mostra
que na América do Norte empresas canadenses procuraram elas mesmas definirem
classificações de consumo e que, mesmo assim, o governo está examinando opções
regulatórias para controlar o marketing de alimentos e bebidas para crianças.
As agências estadunidenses estão preparando, com apoio do Congresso, um
"jeitinho" de mercado para isentar de restrições esse tipo de
marketing. Os mexicanos contam desde 2010 com o endosso oficial de uma emenda
do Código Geral de Saúde, que reconhece os efeitos negativos da publicidade de
"alimentos pouco saudáveis".
O documento da
OPAS não apresenta registros de providências na América Central. Na América do
Sul, os principais destaques ficam para o Brasil, onde desde 2010 existe uma
regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exigindo
advertências em todas as formas de propaganda de produtos alimentícios ricos em
gordura, açúcar ou sal; e para a Colômbia, que incluiu uma definição clara de
obesidade em suas prioridades de saúde pública (lei de 2009), sob
responsabilidade do Ministério da Proteção Social e do Invima (Instituto
Nacional de Monitoramento de Alimentos e Medicamentos).
O documento da
OPAS/OMS apresenta aspectos da eficácia das políticas públicas e privadas já
adotadas com relação ao marketing de alimentos e bebidas não alcoólicas para
crianças. Algumas diretrizes monitoradas indicam que estão sendo cumpridas.
Cita casos da indústria alimentícia na Austrália, Canadá, EUA e parte da
Europa. No que se refere a cumprimento de normas, monitoramentos feitos na
Irlanda, Espanha e Reino Unido demonstram nível elevado de cumprimento, como é
o caso espanhol da restrição ao uso de celebridades em comerciais para crianças.
Com esses
estudos o documento quer demonstrar que as restrições são viáveis na prática.
Dentre os casos apresentados cabe compartilhar um estudo qualitativo
encomendado pelo governo francês sobre os efeitos das mensagens nutricionais
naquele país. O trabalho revela que mais de setenta por cento das crianças
entrevistadas afirmaram que as mensagens nutricionais as fizeram prestar mais
atenção à alimentação saudável, embora mais de noventa por cento delas tenham
respondido que, mesmo assim, ainda pedem aos pais para comprar bebidas e
alimentos anunciados.
http://www.flaviopaiva.com.br
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