sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Brincando no tempo interior - 20/10/2011 - Diário do Nordeste

O som vem de antes dos humanos, estava na natureza desde sempre. A combinação de elementos sonoros, embora fazendo parte da força ativa do mundo invisível, precisou, por sua vez, ser aprimorada até se tornar música. Não conformada apenas com o sentir, a inteligência humana quis dizer e inventou a palavra, feita de som e significado. Nas matas, o som do vento é fenômeno natural, mas enquanto desconhecido pelas pessoas, assusta e vira substantivo, duende, saci... Em si, a velocidade do som depende do ambiente, ao passo que, na mente, a velocidade dos significados depende do saber e do conhecimento.

Em uma perspectiva histórica podemos encontrar a fala dos sons e os sons da fala tornando-se instrumentos para atrair, para espantar e para afagar; aproximando-se em manifestações de espiritualidade, nas comemorações pela vitória na caça e na guerra; e ganhando força estética em cantação de contos, na poesia e na narração com música, em rodas cantadas, dançadas e declamadas. Do universo das relações sensoriais surgiu a composição musical e do universo das redescrições da realidade nasceu a literatura; ambas partilhando da mesma matéria-prima: os sons e seus intervalos.

Quando juntas, a música e a literatura ganham força para chamar o humano pelos sentidos e suas sensações; pela mente e suas criações; pela alma e seus mistérios. Movido por essa compreensão e consciente da urgência desse tema no debate sobre a infância farei, no final da tarde de hoje, no auditório do hotel Oásis Atlântico, em Fortaleza, a conferência-recital "Cantar com Palavras - a brincadeira da literatura com a música", dentro do Seminário sobre Políticas Públicas para as Crianças, realizado pelo Instituto Stela Naspolini, para a qual contarei com a participação especial do multiartista Orlângelo Leal, na apresentação de vinhetas e ilustrações musicais.

No mundo de signos em diversão, constituído pela coexistência das particularidades dessas duas linguagens, é o ouvir e o não ouvir que constrói o ouvir-se. Brincando no seu tempo interior, por onde passeiam a consciência das coisas e seus nexos emotivos, a criança estabelece vínculos entre o som de dentro das palavras e o som de dentro dos significados para sentir, pensar, refletir e produzir narrativas. E toda história tem trilha sonora, cadência, ruídos e efeitos de sons reais e imaginários, que a compõem na dinâmica das necessidades, dos desejos e das expectativas do indivíduo em seu mundo circundante.

O ato literomusical dá vazão à liberdade do si, contribuindo para evidenciar os significados dos intervalos como fonte de reações sensíveis, respeitando a unidade de medida de cada pessoa e seus efeitos particularizados, de modo a possibilitar uma partida do tempo interior para a formação do ser crítico e criativo no tempo coletivo. Isso ocorre quando música e literatura se juntam em métrica e em sílabas, articulando o idioma da infância, que é o brincar, para a brincadeira do cantar com palavras, na matemática do prazer estético, da satisfação social, do calor da afetividade e do sentimento de recriação da vida e de encantamento do cotidiano.

Destaco a poesia, como uma linguagem que está situada entre a literatura e a música, mas não é uma nem outra. Declamada, cantada, recitada, entoada, falada ou mentalizada, a poesia tem estrutura própria de construção, entonação, velocidade, pausas e intensidade rítmica. Da concisão do haicai à visualidade concretista, ela é feita essencialmente de palavras, mas não é literatura, e tem fervorosas propriedades sonoras, mas não é música. Na brincadeira da literatura com a música a poesia dá uma mão às palavras e a outra às notas e sai andando e dançando entre frases e acordes.

Cantar com palavras, como toda ação de ludicidade, é uma atividade que acontece em dois andamentos: um, na noção de brincar, onde não há regras fixas, prevalecendo, portanto, a espontaneidade; e o outro, na noção de jogo, em que parte da diversão tem regras preestabelecidas, em conjunção com espaços de inventividade. Brincadeira é jogo de cultura e jogo é brincadeira de educação. O que as coisas querem dizer, está na fala das significações da mudez da escrita, assim como o estado de espírito está na voz da emotividade do canto imaginado.

Estar em situação simbólica do brincar e do jogar é estar em movimento pelos campos de descobertas e simulações, sempre acompanhado por algo imaginado, pela fala e pelo canto mudo dos brinquedos, recriando o que está presente e o que está ausente no tempo e no espaço, no real e na fantasia. Entretanto, a literatura e a música estão perdendo lugar na vida das crianças. É muito livro para o "público mirim" e pouca literatura honesta; muito mp3 e muitos shows "para os pequenos" e pouca música de qualidade. E a infância tem seu tempo interior devassado preponderantemente por interesses que não os de dar oportunidades exequíveis para meninas e meninos crescerem livres do "falso self", da falsificação do "Eu", decorrente da ideologia do consumismo.

Os estudos do psicanalista inglês, Donald Woods Winnicott, sobre fenômenos transicionais, trabalham a complexidade e a significância dos estágios primitivos da relação de objeto e da formação de símbolos e deduz que "é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)" (WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975, p. 80). Essa noção winnicotiana do uso do objeto como uma fonte externa reconhecível para além da própria ilusão tem um paralelo na conexão do cantar e do falar, enquanto manifestações contínuas à respiração, ao mamar e ao balbuciar.

No processo de descoberta do eu (self), como alicerce da criatividade no tempo interior, a brincadeira da literatura com a música é fundamental, sobretudo quando a discussão está centrada "nas relações da criança com o fazer artístico", como estabelecido no eixo temático "O direito é fazer arte", do Seminário de Políticas Públicas para as Crianças. O direito é brincar, sim, é esconde-esconde, gangorra, é dar cambalhotas... O direito é brinquedo, sim, boneca, bola, é vai-vem... O direito também é cantar com palavras, sim...

É ter mais e mais espaços de vivência para fruição das metáforas, do nonsense, do repertório comum da memória coletiva, dos sons e dos sentidos do viver.

A potencialização e a multiplicação de equipamentos de cultura e educação, preferencialmente quando em logradouros públicos, a exemplo de algumas brinquedotecas do programa "O Ceará Cresce Brincando", avizinha o canto do conto e reforça os ideais de planejamento pedagógico comunitário, de forma que a criança possa seguir vendo o mundo sempre como uma novidade. Nada que alguns projetos de desenvolvimento com sustentabilidade não possam resolver, em nome da aprendizagem, da criatividade, do pensamento associativo e da estabilidade social.

Neste aspecto, a brincadeira da literatura com a música serve para gerar e revelar perspectivas; para dar ao pensamento a experiência de entrar na realidade pelo portal do sensório-emocional e da imaginação; para enfrentar o desconhecido, seguro de si; para encontrar significações que levem à interpretação e reelaboração do mundo; e, acima de tudo, para que as crianças possam viver criativamente o seu tempo, que é o tempo da humanidade.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Literatura para a nova infância - 13/10/2011 - Diário do Nordeste


O mundo hipermoderno vem configurando a infância na dinâmica de diversas comunidades físicas e virtuais, entre efeitos de conflitos geoeconômicos, ecoplanetários, de desenvolvimento da modelagem social em redes e de ampliação das possibilidades de trocas culturais. Dentre os pontos de humanização afetados por essas transformações está a significação de leitura. A criança, filha desse tempo marcado pela intensificação do uso da internet, no qual a comunicação digital estimula por si o ato de escrever e de ler, numa espécie de oralidade cifrada, precisa mais que nunca dar densidade à exploração da palavra, elevando o seu poder de múltiplas apropriações para além da paisagem das telas.


A sensação de que as palavras surgem do nada é a mesma que leva muitas meninas e meninos a pensarem que as vacas dão leite em caixa, como se vê nas gôndolas dos supermercados. Esse tipo de impressão vulnerabiliza referências pessoais e culturais na formação de uma nova infância, a um só tempo mais pulverizada de informações e mais exigente em sua necessidade de aprendizagem intercultural. As ideias pasteurizadas e as deduções apressadas que caracterizam o atual campo de elaboração intelectual pede a abertura de novos canais de fruição reflexiva e, para isso, poucos recursos podem ser tão oportunos quanto à literatura.


Depois de relatar os conceitos e a dinâmica da minha fala sobre "A literatura que encanta o público de oito a onze anos", para convidados da Secretaria de Educação do Estado do Ceará - Seduc (DN, 29/09), fui instigado pelos leitores a dar exemplos concretos de livros que falam com a infância (DN, 06/10) e, ao fazer isso, acabei sendo provocado a pensar se as doze obras da lista apresentada seriam mesmo infantis e juvenis ou títulos mais apropriados ao que se classifica como literatura jovem. A ponderação é instigante porque ajuda a evidenciar o ponto crítico da questão, que é a falta de oportunidade de acesso a obras que estão fora do circuito de novidades comerciais e das decisões de compras motivadas por outros interesses, que não o de montar acervos com bons livros.


Dado que a relação dos doze livros possa ter em seu conjunto a aparência de inapropriada é fácil observar que não, se a estratificamos pela maneira como essas obras despertaram a atenção dos meus filhos: a) "Os irmãos coração de leão" foi ganho de presente de aniversário; b) "O meu pé de laranja lima" surgiu nas rodas de leitura escolar; c) "A famosa invasão dos ursos na Sicília" e "Desventuras em série" chegaram por sugestões de amigos deles; d) a série "Harry Potter" entrou na nossa casa por influência da mídia, mas foi logo assimilada como desejável; e) "A reforma da natureza" eles ganharam de presente da dona Joyce, neta de Monteiro Lobato; f) "Contos de Ionesco para crianças" e "Histórias da pré-história" foram descobertos nas nossas explorações conjuntas em livrarias; e g) "Por um simples pedaço de cerâmica, "Era duas vezes o Barão Lamberto", "O velho e o mar" e "A pérola" entraram na nossa cota de pais para leituras noturnas.


Das discussões travadas sobre o tema, a partir das duas colunas anteriores, a que fiz por e-mail com Fabíola Farias, coordenadora das bibliotecas e dos projetos de promoção da leitura da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte foi a mais consistente em termos de inquietação contra a tendência de esterilização da literatura que respeita a infância. Fabíola é membro votante do Prêmio "O melhor para a criança", da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e além de sua experiência profissional é leitora apaixonada e mãe de uma menina de cinco anos e de um menino de oito anos, a quem faz questão de oferecer bons livros, por acreditar que para gostar de boa literatura as crianças só precisam de uma chance para bons encontros.


Na nossa troca de ideias, ela fez inclusive uma lista de títulos, cujos autores não subestimam os seus leitores, oferecendo-lhes vida e poesia nos mais diversos gêneros e temas: "A casa da madrinha" (Lygia Bojunga, ClB, 1978), "Bárbara debaixo da chuva" (Nilma Lacerda, Galera Record, 2010), "Meu pai é um homem-pássaro" (David Almond, WMF Martins Fontes, 2010), "Mururu no Amazonas" (Flávia Lins e Silva, Manati, 2010), "Kafka e a boneca viajante" (Jordi Sierra i Fabra, Martins, 2008), "Minha princesa africana" (Márcio Vassallo, Abacatte, 2010), "Píppi Meialonga" (Astrid Lindgren, Companhia das Letrinhas, 2001), "O fazedor de velhos" (Rodrigo Lacerda, Cosac Naify, 2008), "Tempo de voo" Bartolomeu Campos de Queirós, SM, 2007) e "Meu amigo Jim" (Kitty Crowther, Cosac Naify, 2007).


Temos opiniões bem assemelhadas no que diz respeito à questão de que "ler só se aprende lendo", embora na minha compreensão esse processo seja bem mais flexível que o dela. Fabíola é convicta de que "não adianta fazer teatro, contar histórias e vestir fantasias (...) pois o grande lance da literatura é o diferente, o que eu ainda não havia pensado, a coisa por um ângulo que eu ainda não tinha visto, uma possibilidade ainda não vislumbrada, mesmo em histórias tão parecidas com as nossas (...) Temos que parar de vender a ideia de que ler é uma festa, uma maravilha, que te leva para mundos encantados e que basta você querer fazer parte desse mundo incrível, pois sabemos que ler é difícil e exige trabalho, silêncio e isolamento".


Para mim, a conversa da linguagem literária com outras linguagens (música, teatro, dança, artes plásticas etc) fortalece a ambiência para o interesse do leitor. No meu trabalho, essa combinação tem sido uma constante, especialmente no que se refere ao diálogo entre a literatura e a música. A inclusão do CD com a parte musical no livro é um recurso que a tecnologia oferece e que tem produzido respostas impressionantes na minha experiência. Fico imaginando que, se George Orwell pudesse ter incluído a gravação da música "Bichos da Inglaterra" na sua fábula, o teria feito, ilustrando o trecho em que diz assim: "O velho Major limpou a garganta e começou a cantar. De fato a voz era roufenha, mas ele entoava bem, e a melodia era bastante movimentada" (p. 15, "A revolução dos bichos", Companhia das Letras, 2007).


Por agradável sincronicidade, enquanto escrevo este texto recebo uma mensagem da educadora Luciana Néri, do Colégio Nossa Senhora das Graças, em Fortaleza, contando como foi importante o livro "Flor de Maravilha" (Cortez, 2004) ser acompanhado das músicas gravadas, para a sua ação educativa: "Durante a nossa rotina escolar pediam sempre: "Professora a música da macaca..." e, a partir daí, surgiu a ideia, através do interesse das crianças, de fazer um Projeto com sua música e literatura (...) os alunos demonstram estar cada vez mais encantados (...) Está sendo uma vivência muito rica também por contar com a participação dos pais".


Neste aspecto, Fabíola, Luciana e eu concordamos que mais do que a criança, as famílias coloquem a leitura e a escrita em seu cotidiano. "Acho que não existe mais espaço para nada isolado no mundo em que vivemos, mas temos que ter muita clareza dos nossos objetivos quando realizamos atividades nas salas de aulas e nas escolas (...) A fantasia de muitos dos nossos professores, pais e mães ainda não dá conta da literatura", argumenta Fabíola Farias. E ela diz isso sem discordar que as linguagens dialogam... e eu concordo quando ela fala que pendurar mil apetrechos em livro para aumentar a atração é coisa de quem não acredita que o livro, por ele mesmo, valha a pena.




quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Livros que falam com a infância - 6/10/2011 - Diário do Nordeste.

Cometi um deslize de comunicação na coluna da quinta-feira passada ("Literatura e encantamento"). Relatei que tinha feito juntamente com os meus filhos uma palestra sobre livros para a infância na faixa entre oito e onze anos e não mencionei um título sequer. Dentre as reações dos leitores, uma sintetiza bem o que todos quiseram perguntar: "Quais foram os livros que mais encantaram os dois? Eu fiquei na maior curiosidade, pois tenho isso como questão constante em minha vida de criadora e professora: o que as crianças que já saíram da primeira infância gostam de ler".


Em respeito a esse interesse e considerando que 12 de outubro é o Dia da Criança, organizei um rápido perfil de cada um dos doze livros preferidos pelos meus filhos nessa fase marcada por tantas novas concepções da descoberta do ser. Não valeu entrar livros de minha autoria, nem qualquer subordinação ao que pode ou não agradar. Os doze livros prediletos são simplesmente os doze prediletos, nada mais. Para não complicar muito, coloquei tudo por ordem de preferência do Lucas e do Artur, misturando obras que eles leram sozinhos com aquelas que lemos juntos.


1º - Os irmãos Coração de Leão


(Astrid Lindgren, Companhia das Letrinhas, 2007)


Origem: Suécia


Tema: O humano e a natureza pelo lado da força do sensível.


Trecho: "Tentei não deixar transparecer para Jonathan como eu me sentia. Porque, quem sabe, ele poderia me mandar de volta, e eu queria estar com ele em tudo, por mais arriscado que fosse" (p. 142)


Recurso: Somente texto.


2º - Por um simples pedaço de cerâmica


(Linda Sue Park, WMF Martins Fontes, 2009)


Origem: Coreia

Tema: A trama da inovação e a realização do espírito criativo


Trecho: "Orelha-de-pau sentou-se, decepcionado porque Min não demonstrara muita emoção. O coração batia tão forte que podia senti-lo pulsando na garganta (...) Por que Min parecia tão solene? Não eram estas as notícias que aguardara quase a vida inteira?"


Recurso: Somente texto.


3º - Desventuras em série (13 livros)


(Lemony Snicket, Cia. das Letras, 2003)


Origem: Estados Unidos


Tema: Aventura de infortúnio, protagonizada por três irmãos, que passam a depender unicamente do poder complementar das suas habilidades para sobreviver.


Trecho: "Se você está assando uma torta para seus amigos e lê um artigo intitulado ´como construir uma cadeira´ no lugar do livro de receitas, a sua torta provavelmente acabará ficando com gosto de madeira e pregos", (in: A cidade sinistra dos corvos, pp. 9 e 10).


Recurso: Perfil das personagens e ilustrações p&b na abertura dos capítulos.


4º - Era duas vezes o Barão Lamberto


(Gianni Rodari, Martins Fontes, 2001)


Origem: Itália


Tema: O sentido de ser lembrado, na saga de um velho de 93 anos que se torna um rapazinho de 13 anos, deixando o leitor sem saber muito bem o que ele vai ser quando crescer.


Trecho: "No meio das montanhas fica o lago Orta. No meio do lago fica a ilha de São Júlio. E na Ilha de São Júlio fica a mansão do barão Lamberto, um senhor muito velho (ele tem 93 anos), muito rico (ele tem 24 bancos) e que vive doente. Ele tem 24 doenças e só o mordomo Anselmo se lembra de todas elas" (p. 1)


Recurso: Somente texto.


5º e 6º (empatado) - Harry Potter (7 livros)


(J. K. Rowling, Rocco, 2007)


Origem: Grã-Bretanha


Tema: Aventura em série, que tem como principal conflito a luta entre o jovem bruxo Harry Potter e o bruxo das trevas, Lord Valdemort.


Trecho: "Harry leu as palavras devagar, como se fosse ter uma única chance de entender seu significado, e leu as últimas em voz alta. - Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte"... ("As relíquias da morte", p. 259)


Recurso: Somente texto.


5º e 6º (empatado) - O meu pé de laranja lima


(José Mauro de Vasconcelos, Melhoramentos, 2005)


Origem: Brasil


Tema: O animismo na descoberta da dor.


Trecho: "- Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta o meu coração bater" (p. 33).


Recurso: Somente texto


7º - A famosa invasão dos ursos na Sicília


(Dino Buzatti, Berlendis & Vertecchia, 2001)


Origem: Itália


Tema: Guerra, consumismo, renúncia à beleza.


Trecho: "Em todos os castelos antigos, vocês sabem muito bem disso, em geral vive um fantasma (...) É preciso pensar em três coisas: antes de tudo que os fantasmas, admitindo que existam, nunca fizeram mal a ninguém (...) são como o vento, a chuva, as sombras das árvores, a voz do cuco ao anoitecer, coisas naturais e inocentes", pp. 35 e 36).


Recurso: Perfil das personagens, descrição de cenários, ilustrações em cor e p&b.


8º - Histórias da pré-história


(Alberto Morávia, Ed. 34, 2003)


Origem: Itália


Tema: Quando tudo ainda estava por fazer e a História por inventar.


Trecho: "Vocês devem saber que há um milhão de anos, no polo, fazia muito mais frio que hoje. Sem mais nem menos, a temperatura caía para um bilhão de graus abaixo de zero. Com um frio desses, tudo congelava, até, acreditem se quiserem, até mesmo o pensamento".


Recursos: Ilustração em aguada de naquim.


9º - O velho e o mar


(Ernest Hemingway, Bertrand Brasil, 2010)


Origem: Estados Unidos / Cuba

Tema: Dignidade e solidariedade na relação de um menino com um pescador.


Trecho: "O garoto ficava triste ao ver o velho regressar todos os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do mastro" (p. 13).


Recurso: Ilustração p&b


10º - A pérola


(John Steinbeck, BestBolso, 2007)


Origem: Estados Unidos


Tema: Parábola sobre a impotência provocada pela ignorância.


Trecho: "Kino estendeu a mão para a frente, lenta e cuidadosamente. A cauda do ferrão se levantou. E neste momento Coyotito riu, sacudindo a corda e o escorpião caiu (...) no ombro do menino, armou o bote e atacou" (p. 12)


Recurso: Somente texto.


11º - A reforma da natureza


(Monteiro Lobato, Brasiliense, 2004)


Origem: Brasil


Tema: A guerra e a reinvenção do mundo.


Trecho: "- Só conheço duas criaturas em condições de representar a humanidade, porque são as mais humanas do mundo e também são grandes estadistas. A pequena república que elas governam sempre nadou na maior felicidade (...) Dona Benta e tia Nastácia" (p. 7)


Recursos: Página em duas colunas e ilustração em p&b.


12º - Contos de Ionesco para crianças


(Eugène Ionesco e Etienne Delessert, Martins Fontes, 2008)


Origem: França


Tema: Contos nonsense em brincadeiras com nomes de coisas e pessoas


Trecho: "Jaqueline era uma menina. Ela tinha uma mãe que se chamava sra. Jaqueline. O pai da pequena Jaqueline se chamava Sr. Jaqueline. A pequena Jaqueline tinha duas irmãs que se chamavam Jaqueline, dois priminhos que se chamavam Jaqueline, e uma tia e um tio que se chamavam Jaqueline" (pp. 14 e 15).


Recursos: Ilustração com volume e plasticidade.


Ainda que tenha dado pena ver fora desse "ranking" outras obras tão encantadoras, não foi difícil chegar a um consenso quanto aos doze títulos que os meus filhos mais gostaram de ler na faixa de oito a onze anos. Obviamente que, a olhos de hoje, um com doze e o outro com dez anos, cada qual fez o seu próprio ordenamento de preferências. A elaboração da lista foi feita com o somatório e a divisão por dois das posições definidas por eles. O empate na quinta colocação, entre a série "Harry Potter" e o livro "O meu pé de laranja lima", reflete bem a variação de interesses que decorre da pouca diferença de idade entre eles. E por aí passa a aventura da vida. flaviopaiva@fortalnet.com.br

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